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A tragédia do Titanic alguma vez passa pela cabeça de um passageiro num cruzeiro?

A tragédia do Titanic alguma vez passa pela cabeça de um passageiro num cruzeiro?

Naufrágio fez 109 anos esta quarta-feira

Será que a tragédia do Titanic alguma vez passa pela cabeça de um passageiro num cruzeiro? Viajámos de porto em porto pelo Mediterrâneo e confirmámos: não! A única coisa na mente de milhares de pessoas num hotel flutuante é mesmo o descanso. E as atividades a bordo, claro. Quanto ao Costa Concordia, essa é uma memória mais presente, mas que quem pagou umas férias no mar nem quer recordar.

Amadeu Albuquerque é o comandante do maior navio da Pullmantur e um dos últimos portugueses que, na linha direta dos Descobrimentos e de uma forte marinha mercante, representa Portugal aos comandos dos paquetes que percorrem o planeta. Um comandante que tanto assiste atento à chegada ao porto italiano de Livorno, apertado e onde é preciso cuidado com as manobras dos 320 metros de comprimento do Sovereign, como celebra o casamento de um casal espanhol que escolheu o navio para se casar.

Quando parte do porto de Barcelona, o paquete deixa para trás uma temporada sul-americana de cruzeiros com escalas no Rio de Janeiro, no porto que serve São Paulo e no rio Amazonas. Albuquerque tem pela frente 760 milhas (quase 1500 quilómetros) num mar interior que conhece de olhos fechados mas onde o perigo – sempre à espreita – não lhe permite abandonar a ponte nos momentos cruciais da viagem. Irá parar primeiro na Córsega, depois oferece visitas a Florença e Pisa, e termina em beleza no Mónaco, antes de regressar a Barcelona.

Consciente da atenção mediática sobre os navios nos últimos tempos – o centenário sobre o naufrágio do Titanic e as imagens polémicas do Costa Concordia -, o comandante já alterou os procedimentos em curso no Sovereign. Ainda o paquete não deixou a capital da Catalunha e já se ouve a sua voz nos altifalantes dos 14 andares a convocar para a realização de um treino de salvamento. Nem o comandante pondera o pior cenário, mas a precaução serve para não deixar dúvidas nos passageiros que, já em espírito de cruzeiro, olham para o simulacro como a primeira das dezenas de atividades que a equipa de animadores tem para oferecer nos cinco dias seguintes.

Nestas cento e tal horas de pura diversão, o comandante estará sempre atento ao navio e irá observá-lo da ponte pelas múltiplas câmaras que lhe permitem seguir em direto tudo o que se passa no interior. Discreto na inspeção que faz todas as manhãs ao navio durante hora e meia, é mais um dos oficiais que se diluem entre as centenas de cozinheiros, camareiros, funcionários de restaurantes, lojas, bares, salões, spa ou ginásio – no total são 779 tripulantes para 2259 passageiros.

Os tripulantes que os passageiros mais fixam na memória são, sem dúvida, os encarregados da animação. Esses sim, uma quinzena de camisolas verdes que se desdobram pelos vários andares, sempre a proibir o aborrecimento a qualquer alma que participa na viagem. A primeira responsável é Sol Lopes – o Lopes tem um «s» que herdou da mãe de ascendência portuguesa. A loura não para entre uma e outra animação, e tanto é vista a apresentar e a participar como atriz no espetáculo noturno, como nas variadas funções de diretora de cruzeiro. «Os passageiros facilitam a nossa vida porque já vêm predispostos a divertirem-se.» Diz que os espanhóis são os mais fáceis de convencer à diversão, os brasileiros a seguir e, quanto aos portugueses, confessa que a surpreenderam pelo modo como aderem às atividades. Certos na recusa a grandes confusões estão os nórdicos: «São mais difíceis de arrastar para a brincadeira.» A primeira norma para Sol Lopes é fazer que os passageiros se sintam à vontade. Como aquele que se senta todas as noites na primeira fila de cadeiras do show no Teatro Broadway: «É a sétima vez que faz este mesmo cruzeiro. Sente-se no Sovereign como em casa!»

Fonte: JN (Texto publicado originalmente em 2012)

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