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Fausto Brito e Abreu // O potencial da economia azul

Fausto Brito e Abreu // O potencial da economia azul

O Director-Geral da Direcção-Geral de Política do Mar (DGPM), Fausto Brito e Abreu, destacou ontem o potencial da economia azul em proporcionar um maior contributo do território marítimo para o bem-estar e prosperidade colectivos.

Fausto Brito e Abreu, que falava durante a segunda edição de “Encontros de Daniel de Sá”, realizado no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, considerou que, se tiver sucesso nas negociações que se iniciam este ano na Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas, o território de Portugal será constituído em 97 por cento por mar.
“Se olharmos para o que hoje este território representa na economia nacional, temos apenas 3,1 por cento do Valor Acrescentado Bruto (VAB). Todo este território é neste momento sub-aproveitado e se olharmos para a quantidade de empregos gerados pela economia do mar, o valor é de 3,6 por cento”, disse o Director-Geral da DGPM.
Portanto, apontou, “temos um potencial enorme de, nas próximas décadas, ter um contributo maior do território marítimo para o nosso bem-estar e prosperidade colectivos.
Fausto Brito e Abreu explicou que a economia azul contém “um conceito de uma economia verdadeiramente sustentável do ponto de vista ambiental e social, que transcende a visão clássica dos sectores de actividade económica que dependem do mar e dos oceanos”.
A construção de uma economia azul envolve, por um lado, trazer sustentabilidade ambiental e social a actividades económicas tradicionais que decorrem no mar, como as pescas, a actividade portuária, o transporte marítimo, o turismo costeiro, a aquacultura e, por outro lado, desenvolver actividades ditas emergentes garantindo que desde a sua origem incorporam logo esta dimensão de sustentabilidade.
Segundo o próprio, são consideradas actividades emergentes as energias renováveis dos oceanos, a biotecnologia marinha e a exploração dos minerais dos fundos submarinos.
Segundo o mesmo, é nas actividades emergentes que se encontram as principais oportunidades a explorar ao nível da economia azul.
“A União Europeia tem uma série de políticas definidas de forma colectiva, entre elas uma estratégia que é o chamado “crescimento azul”, para o desenvolvimento desta economia sustentável, na qual estão identificadas várias áreas de grande potencial de geração de emprego e de riqueza”, deu conta.

 

Oportunidades de economia azul.

“As energias renováveis dos oceanos, offshore, também das correntes e outras tecnologias mais modernas são áreas vistas como de grande potencial”, avançou Brito e Abreu.
Neste domínio, Portugal tem uma estratégia para, por um lado, criar um “cluster” industrial que permita desenvolver esta tecnologia de forma a conseguirmos ter geração de electricidade a partir de energia dos oceanos que preencha uma percentagem considerável das necessidades da população, sendo que esta é uma energia limpa, que leva a reduzir a importação de combustíveis fosseis.
Por outro lado, pretende-se criar também um “cluster” exportador.
“Estamos a falar de tecnologias que ainda são emergentes, pouco conhecidas e o custo de geração elétrica ainda é bastante elevado, mas o país que conseguir desenvolver capacidades nesta área e desenvolver estas tecnologias terá um enorme potencial exportador, poderá criar muitos empregos e muito crescimento económico”, disse.
Outra oportunidade reside na aquacultura, uma actividade milenar e tradicional, que, contudo, em cenário offshore é uma actividade emergente, estando agora a ser desenvolvidas tecnologias para se poder produzir peixe no oceano, em mar aberto.
O know-how que se desenvolva para criar estes equipamentos e desenvolver os aspectos biológicos da aquacultura nestes contextos “será seguramente exportado e poderá ser gerador de riqueza”.
Na mineração dos fundos submarinos, está identificada a existência de uma série de reservas minerais de “elevadíssimo valor económico”.
O desafio agora é, na óptica de Brito e Abreu, “ter a tecnologia para as explorar e fazê-lo de forma sustentável não criando problemas ambientais”.
Já o sector da robótica submarina tem ligação com as áreas já referidas, seja no mecanismo de alimentação a organismos que estejam em aquacultura offshore, seja nos robôs usados para a mineração dos fundos submarinos ou mesmo para a manutenção de equipamentos usados nas energias offshore.
“É claramente uma área em que Portugal tem conhecimento e investigação e poderá ser também um “cluster” exportador, a determinada altura”.
Depois há, ainda, a biotecnologia azul. “Sabemos que a nossa vastíssima área oceânica tem recursos muito diversos, temos zonas costeiras, zonas de mar profundo, fontes hidrotermais com enorme biodiversidade e nas quais já foram identificados vários organismos com potencial para a aplicação em biotecnologia muito elevado, seja na indústria farmacêutica, seja em cosméticos”, frisou.
Uma última oportunidade reside na formação profissional. Fausto Brito e Abreu acredita que, com o crescimento da economia azul e à medida que se desenvolve mais actividade económica no mar, a formação de técnicos especializados vai ter crescente procura.
“Em Portugal temos condições boas para dar cursos nestas áreas inovadoras, seja a nível nacional na Escola Naútica Infante D. Henrique, por exemplo, seja na futura Escola do Mar dos Açores”.
“Temos tido contactos com várias empresas internacionais que têm interesse em formar os seus efectivos no nosso país”, revelou.
Para libertar todo este potencial e fazer crescer esta economia azul transformando as actividades actuais e garantir que as actividades emergentes prosperam, o conhecimento científico assume-se como pilar essencial. “Desde logo, porque do ponto de vista da soberania, a melhor forma de a exercermos sobre o nosso mar é ter conhecimento do que por lá se passa”.
O Director-Geral da Direcção-Geral de Política do Mar disse estar convencido de que “dentro de 30 anos, o conhecimento científico nas áreas do mar, ter-nos-á aberto portas que hoje é impossível imaginar que poderão gerar a riqueza e o emprego à escala que gerará”.
Há uma outra dimensão de conhecimento que tem a ver com a literacia dos oceanos e a cidadania do mar e consiste no conhecimento generalizado na nossa sociedade do potencial que o mar tem e da importância que pode ter para o nosso país.
“Estamos num momento em que é absolutamente fundamental que a sociedade tome consciência dos desafios ambientais com que o mar se confronta sob pena de não conseguirmos desenvolver este potencial”, defendeu.
Para desenvolver a economia azul, os legisladores devem ter uma política marítima integrada, ter uma visão de conjunto e perceber que a política do mar só se consegue desenvolver com desenvolvimentos nas várias políticas ditas sectoriais.
É também essencial ter-se leis claras, um quadro legal robusto, gerando aos investidores certeza jurídica. “É importante desburocratizar, sem desregular, este é o equilíbrio central que tem de ser encontrado pelos legisladores”.
Fausto Brito e Abreu deu também conta dos desafios globais que podem por em perigo o desenvolvimento da economia azul em Portugal, fenómenos como as alterações climáticas que já têm efeito concreto.
Por exemplo, a pesca do atum tem sofrido nos últimos anos com a ausência de peixe porque os cardumes começam a aparecer cada vez mais a norte do Atlântico e cada vez menos nos Açores, devido ao aquecimento do oceano.
Outros desafios são a acidificação dos oceanos, que pode afectar 90 por cento dos recifes de coral do mundo se nada for feito para controlar o fenómeno, e o problema dos resíduos plásticos que já influencia todos os ecossistemas marinhos do planeta.

Fonte: Correio dos Açores

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