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Governo quer criar erro de 17 milhões para tentar corrigir erro de 9 milhões
O Governo Regional decidiu lançar o concurso público para as obras de “ampliação, reordenamento e beneficiação do Porto de Rabo de Peixe”, num investimento global de 17 milhões de euros.
A empreitada pretende “garantir melhores condições à comunidade piscatória desta vila do concelho da Ribeira Grande, através de um aumento das facilidades logísticas e da ampliação e reforço da operacionalidade do porto de pescas”.
Essa é a interpretação governativa. Mas basta olhar para a história daquele porto para se perceber que o que está realmente em causa é a tentativa de resolver um erro que foi cometido pelo 1º governo de Carlos César, e que já custou cerca de 9 milhões de euros.
Na realidade, este é um caso flagrante de oposição entre políticos e a população. O projecto vem do tempo dos governos do PSD, quando era secretário regional da Agricultura e Pescas Adolfo Lima. A sua proposta de localização foi de imediato rejeitada pelos pescadores, que garantiam que a operacionalidade do futuro porto, a ser construído daquele modo, seria fortemente prejudicada. As reuniões foram em geral inconclusivas, com o governante a apresentar sucessivamente novas alternativas.
Quando o PS ganhou as eleições, o tom mudou. E a partir de determinada altura, o Governo parece ter decidido avançar com o porto, quer os pescadores quisessem, quer não. Era secretário da Agricultura e Pescas Fernando Lopes. E apesar da oposição declarada de todos os pescadores locais, tendo apenas a concordância da associação Porto de Abrigo, o Governo avançou com a obra no local actual.
O resultado foi o que os pescadores previam: uma desgraça. E se antes conseguiam sair para a faina com ondas até 4 metros de altura, a partir de agora com mais de 2,5 metros já não podiam sair para o mar. Aliás, em situações de mau tempo mais cavado, é mesmo um perigo ter um barco naquela enseada. E aquele porto é talvez aquele que é mais banhado do mundo, por cima, pelas ondas do mar…
Qual foi o erro? A localização, como sempre disseram os pescadores. É que aquela enseada tinha uma espécie de “corredor”, que abrangia a zona mais funda da baía, e que permitia as manobras com o tempo mais difícil. Acontece que o porto foi construído exactamente por cima desse “corredor”, inviabilizando definitivamente a mais-valia com que a natureza havia dotado aquela baía – aliás, a própria razão de ser do desenvolvimento daquela comunidade piscatória.
A solução dos pescadores limitava-se a construir o porto numa zona mais saída.
Quando nesta legislatura o Governo começou a anunciar que iria voltar a investir naquele porto, as vozes dos pescadores fizeram-se também ouvir. Desta vez, no entanto, o próprio Presidente reconheceu que era necessário escutá-los. A questão é se desta vez eles deveriam ser os únicos a ser ouvidos.
Não se sabe ao certo qual é a solução encontrada, mas tudo indica que se trata de fazer um “contra-molhe”, que eventualmente irá melhorar a funcionalidade do porto. Alegadamente. Porque, na realidade, ele irá representar a morte de outra das principais potencialidades daquele local: a prática de surf e, consequentemente, o turismo.
Não são muitas as vilas do mundo que se podem dar ao luxo de organizar competições de surf na sua “baixa”. E também não será o caso de Rabo de Peixe, apesar de, até há apenas 10 anos atrás, reunir todo o potencial para isso.
O facto é que, apesar de se ter perdido aquela que era considerada “a melhor onda de S. Miguel”, ainda restaram duas zonas de surf que mesmo hoje asseguraram o título de “Onda Rainha” da ilha de São Miguel, sendo “o último reduto dos praticantes nos dias em que a ondulação atinge, na costa Norte, tamanho superior a 3 metros”, como se lê num estudo realizado pela Associação SOS Salvem o Surf. “A profundidade da baía origina um canal seguro de acesso à zona de surf. Com efeito, aqui se apanham das maiores ondas surfáveis em São Miguel”.
É por isso que a comunidade de surfistas regionais está de olho nesta obra como se fosse a mais importante onda do mundo. E através das redes sociais, já se começam a movimentar.
A associação SOS Surf chegou mesmo a apresentar uma proposta de alteração daquele porto, que permitisse salvaguardar a vantagem competitiva que aquela baía tem ao nível do turismo, destacando os importantes impactes na vida social da freguesia. Não se sabe se o projecto a teve em conta mas pelas reacções que já se vão lendo, tudo indica que não.
A verdade é que estamos autenticamente perante a construção de um segundo porto naquele local. E não existe suficiente informação para se compreender se houve algum estudo prévio que garatisse que o sector turístico de Rabo de Peixe não será também estrangulado.
Pelo que se sabe, o Governo prepara-se para gastar ainda mais do que o que gastou no primeiro porto, comprometendo definitivamente a conjugação da actividade piscatória com as actividades de lazer.
Será para se arrepender, de novo, mais tarde? Tarde demais?
Fonte: Diário dos Açores
2 Comentários neste artigo
desNORTE
Mais um exemplo da gestão á boa maneira portuguesa…não basta apenas dar cabo dos bons recursos que temos, como ainda por cima não aprendem a lição…e…voltam a fazer o mesmo não só em infra estruturas portuárias mas em tudo que poderia ser uma mais valia para a região se fosse gerido convenientemente, com a sabedoria e concordância de toda gente… haja bom senso…
Morcego
Não sei qual a admiração quando os governantes querem não há nada a fazer, é por e dispor do dinheiro de todos nós, alem de que o anuncio desta obra inicialmente era de 12 Milhões e agora já subiu para os 17 Milhões de euros, deve ser porque se aproximam as eleições vai ser um tal defender o pescador …. pois têm familias grandes e quantos mais a votar melhor.
Não há maneira de isto endireitar, nem com os exemplos que vemos diariamente nas noticias.
Com o dinheiro de todos nós é facil fazer… no final quem paga??? O Zé Povinho.