Social
João Gonçalves: Investigação científica nos Açores pode ajudar a conceber medicamentos para tratar doenças como o novo coronavírus

João Gonçalves: Investigação científica nos Açores pode ajudar a conceber medicamentos para tratar doenças como o novo coronavírus

Para João Gonçalves, Director do entro de investigação Okeanos, criado pela Universidade dos Açores em 2015, o estudo dos oceanos nos Açores poderá vir a contribuir para que se façam novos medicamentos que ajudem a combater doenças como a infecção causada pelo novo coronavírus, e que depressa se tornou numa pandemia.


Isto é, conforme explica, nos oceanos encontram-se princípios activos encontrados em organismos marinhos que, com o auxílio da ciência e dos cientistas, se podem tornar em mecanismos de combate a várias doenças, da mesma forma que os componentes encontrados em algas podem ajudar na reparação da pele e na criação de produtos de cosmética.
“Acredito que a pandemia seja capaz de trazer novas linhas de investigação. Um dos problemas que existe logo é a questão de arranjar medicamentos que ajudem a combater este tipo de doenças, e aí a procura de princípios activos são muitas vezes retiradas de organismos marinhos, e é uma linha em que com certeza irão aparecer novas ideias para projectos”, salienta.
Neste sentido, explica o Director do centro de investigação que tem a sua sede na ilha do Faial, os cientistas açorianos poderão desenvolver projectos ou candidatar-se a projectos financiados por agências nacionais ou regionais, que pretendem atingir objectivos específicos.
“Por norma, as agências de financiamento, seja a nível nacional ou regional, muitas vezes também criam logo novos processos de candidatura para esses objectivos específicos, aos quais os investigadores respondem. (…) Em função disso, os investigadores procuram apresentar projectos para resolver esses problemas, e eu acredito que irão aparecer de certeza linhas nessa área da exploração de novos produtos capazes de tratar este tipo de doenças”, uma vez que a saúde é frequentemente ligada à área das biotecnologias marinhas.
Por exemplo, na criação de medicamentos “há uma série de novos grupos, como diferentes grupos de invertebrados que têm capacidades fisiológicas diferentes ao que estamos habituados e que constituem bons temas para a investigação e na procura de novos princípios activos”, diz João Gonçalves, referindo ainda que “a biotecnologia marinha pode também ser aplicada à parte de sequenciação para tentar descobrir novas moléculas a partir do genoma”.
Porém, tendo em conta esta “quase certeza” relacionada com a imediata valorização das áreas relacionadas com a saúde, João Gonçalves acredita que “outras áreas de investigação tenham que se adaptar um bocadinho perante este problema que agora existe”, considerando ainda que “a parte mais tradicional da investigação aplicada de biologia marinha ou de oceanografia é capaz de vir a ser prejudicada”.
No que diz respeito ao eventual contributo do Okeanos, João Gonçalves salienta que o centro de investigação possui o equipamento de laboratório necessário para fazer face a estas necessidades, uma vez que esse equipamento é utilizado em biologia molecular, o que pode suscitar “colaborações como a que se está a tentar montar com as entidades de saúde pública para aumentar o número de amostras que podem ser feitas”.
No que diz respeito aos projectos actualmente em desenvolvimento, o director e investigador revela que “há muitos”, tanto incluídos em projectos europeus ou com outros países como é o caso dos Estados Unidos da América, sobretudo relacionados com o acompanhamento dos grandes predadores dos oceanos, como os tubarões, os cetáceos e as jamantas, no sentido de entender “como esses animais se deslocam nos oceanos” através de transmissores que permitem “seguir o seu movimento e saber onde se vão deslocando e onde vivem”, entre outros relacionados com a biodiversidade no arquipélago.

Pandemia paralisa investigadores
Em tempos de pandemia, também os investigadores envolvidos em projectos científicos promovidos pela Universidade dos Açores, especialmente aqueles que estão relacionados com o Okeanos (antigo Departamento de Oceanografia e Pescas) vêem o seu trabalho condicionado pelas medidas entretanto implementadas.
Impedidos de utilizarem os laboratórios da academia, que se encontram condicionados por via dos planos de contingência accionados, e ainda impedidos de seguirem para o mar ou de efectuarem os mergulhos que são tidos por necessários para dar continuidade aos trabalhos, este é um momento indicado sobretudo para tratar de dados, escrever ou fazer revisões científicas, conta João Gonçalves.
De acordo com o Director do Okeanos, com sede na Horta, para além de colocar por escrito tudo o que foi entretanto descoberto ou alcançado, este é ainda o momento indicado para concorrer ao financiamento de projectos de investigação, uma vez que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) têm algumas linhas abertas.
“Neste momento, outra parte importante é a questão de candidatura a financiamentos a projectos de investigação, que por acaso coincidiu agora com este mês existirem várias linhas da FCT, algumas regionais que têm prazos de candidaturas para este mês. Por isso andamos a escrever projectos para candidatar a financiamentos para a investigação e simultaneamente para o uso em doutoramento”, uma vez que encerraram agora, a nível nacional, algumas candidaturas para alunos de doutoramento que colaboram em projectos de investigação.
Apesar do trabalho “técnico e exaustivo” que a candidatura a novos projectos representa, incluindo vários orçamentos, João Gonçalves salienta que neste momento isso acaba “por ser prático porque tudo está parado. Não podemos aceder a laboratórios ou a certas instalações porque está tudo condicionado e o trabalho de mar também está parado”, esperando, no entanto, que em Maio ocorram algumas alterações que já venham a permitir a realização de alguns trabalhos.
“É provável que em Maio existam algumas alterações em relação ao plano de contingência da Covid-19, mas enquanto não saírem novas instruções está tudo lesado. Está tudo a trabalhar, mas à distância”, diz.
No que diz respeito à prorrogação de prazos para os projectos que estão já encaminhados, o Director do centro de investigação refere que estes dependem das entidades financiadoras, como no caso da FCT, adiantando que para os projectos de doutoramento houve uma prorrogação automática de mais dois meses, uma decisão que, no entanto, “não se aplica directamente a todos os projectos”.
Ainda assim, acredita que mais tarde, a nível regional, seja possível existir algum tipo de alterações, uma vez que os projectos – por norma – têm uma duração de três anos e “quase todos permitem que no final haja alguma prorrogação especificada para concluir trabalhos ou para efectuar análises que faltem”.
Depois de realizada a candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no sentido de acreditar o centro de investigação criado em 2015 pela Universidade dos Açores, candidatura esta que ocorreu no ano de 2017, João Gonçalves revela que ainda este ano entrará em funcionamento o novo centro de cofinanciamento plurianual.
“O Okeanos concorreu em 2017 e foi acreditado. O contrato está agora a ser assinado e em 2020 entra em funcionamento o novo centro de cofinanciamento plurianual. Até agora, o que se deu foi apenas o processo de candidatura e resultados, mas verdadeiramente só vai começar em termos de cofinanciamentos plurianuais dentro de um ou dois meses, quando creio que tudo já estará a funcionar”, refere.

Fonte: Correio dos Açores

1 Comentário neste artigo

  1. Cidadao que nao se deixa enganar.

    Esses projetos so servem para angariar fundos que permitem vos pagar os ordenados, porque resultados praticos…ZERO

    Responder

Deixe um Comentário