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Paulo Estêvão – “Transporte marítimo tem modelo caótico”

Paulo Estêvão – “Transporte marítimo tem modelo caótico”

São cada vez mais as vozes contra o actual modelo de transporte marítimo nos Açores. Empresários, operadores e gente ligada ao sector reconhecem que se deve avaliar outras alternativas, como se pode constatar na notícia que publicamos na página anterior. Na política, o deputado Paulo Estêvão tem sido um dos maiores defensores de outra estratégia para o sector, devido aos constrangimentos na ilha do Corvo, como descreve nesta entrevista que concedeu ao nosso colega “Diário Insular” da ilha Terceira.

Levantou há dias, em declarações ao nosso jornal, a hipótese de ser construída no Corvo uma segunda estrutura portuária. Onde, porquê e que custos estarão associados, previsivelmente, a essa estrutura?

A ilha do Corvo tem um grave problema no âmbito do abastecimento marítimo, que se acentuou com a destruição do porto das Lajes das Flores por ação do furacão “Lorenzo”. Como é que se resolve esta questão?

Existem, na minha perspectiva, quatro linhas de ataque ao problema:

a) Reforçar a capacidade de armazenamento de combustível e a qualidade da gestão dos stocks existentes. É isso que o Governo pretende fazer para aumentar, de imediato, a autonomia da ilha nesta área;

b) Fretar um novo navio com capacidade para navegar, entre as ilhas do Grupo Central e Ocidental, nas difíceis condições que imperam no inverno açoriano. O anterior Governo socialista deixou em herança um contrato com a empresa “Barcos do Pico”, cujos navios foram incapazes de realizar uma única viagem no atual inverno. É um dos contratos mais “estranhos”, ruinosos e absurdos da pequena História marítima dos Açores.

c) Apostar na produção de energia a partir de fontes renováveis, de forma a diminuir a dependência da ilha em relação aos combustíveis fósseis. O Grupo Parlamentar do PPM viu aprovada, na legislatura passada, uma proposta nesse sentido. Recorde-se, a este respeito, que também aqui a herança socialista não é recomendável: neste momento o Corvo é a única ilha açoriana que não produz energia a partir de fontes renováveis. A única!

d) Mas, feito tudo isto, subsiste um problema:o porto da Casa está, durante uma p arte substancial do inverno, encerrado à navegação. Como é que se abastece a ilha de mercadorias nessas condições? É nesse contexto que se retoma a ideia, que tem muitas dezenas de anos, de construir, no lado oposto à localização do atual porto, um portinho, na chamada zona da Ponta do Topo. A verdade é que quando o porto da Casa está impraticável, as condições do estado do mar são, em geral, muito favoráveis na Ponta do Topo.

Não teme que seja entendida como excessiva a ideia de construir uma segunda estrutura portuária numa ilha com apenas 400 habitantes? Quando pretende avançar com a proposta?

Não temo, mas sei que será entendida como uma ideia excessiva e que serei alvo dos habituais ataques de ódio de alguns descerebrados. Trata-se de um portinho que, em grande parte, a natureza já esculpiu. Os acessos ao local já existem. Trata-se de uma obra de baixo custo, que nada tem a ver com os valores projectados pelos reflexos pavlovianos que dominam as mentes dos “Salazarzinhos” que por aí abundam. Vou, em primeiro lugar, pedir que seja feito um estudo que comprove a viabilidade da construção do portinho e – para descansar as almas mais preocupadas – estime a despesa do empreendimento.

O atual porto do Corvo foi sempre um local problemático para atracagem e operação. Tem a ver apenas com o mar, com as opções de plataformas (navios) ou a localização desse porto foi mal escolhida?

O porto da Casa é mau, mas não existe uma localização melhor. O portinho da Ponta do Topo apenas pode servir de alternativa, uma vez que, em geral, está menos abrigado. Nem todos foram bafejados com a sortede possuírem um porto magnífico como o da Praia da Vitória.

O problema dos stocks, no Corvo em especial, mas também em outras ilhas, parece ser pelo menos tão importante como a questão das acessibilidades. Não lhe parece que os stocks deveriam merecer outra visão estratégica?

Sim. Tem de melhorar-se a nossa capacidade de armazenamento e, sobretudo, a gestão da capacidade já instalada (algo que os governos do PS não conseguiram fazer). Mas o problema de fundo é outro: o atual modelo de transporte marítimo de mercadorias é absolutamente caótico e as empresas do sector são mais frágeis que a “Branca de Neve”.

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