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Pescadores de São Miguel estão a pôr em causa construção de escola de formação da pesca no Faial

Pescadores de São Miguel estão a pôr em causa construção de escola de formação da pesca no Faial

A construção de uma Escola do Mar na Horta está a gerar descontentamentos nas comunidades piscatórias das ilhas de São Miguel e Terceira, com os responsáveis associativos a questionarem as razões da opção por uma ilha que, nem de perto nem de longe, está ligada a uma grande comunidade piscatória local.
A questão não é pacífica nem tão simplista como se pode fazer querer. Os argumentos para a Escola do Mar na Horta, que já tem primeira pedra lançada e está em obra, têm de ser suficientemente fortes para convencer as comunidades piscatórias micaelenses e também terceirenses que são demasiado enraizadas nas famílias e dificilmente passam mais do que um dia fora do núcleo familiar principal.
Não é por acaso que em todas as ilhas dos Açores, e sobretudo nas ilhas de São Miguel, se pesca ‘com a chaminé à vista’. Isto acontece para, ao fim do dia ou no dia seguinte, o barco regressar ao porto e os pescadores estarem junto da família. Os especialistas são de opinião que é preciso quebrar este ‘cordão umbilical’ e criar uma nova geração de pescadores capazes de viver 15 dias ou um mês no mar mas, até lá, o que vai acontecer, por exemplo, à Escola do Mar, ao nível da formação de pescadores ou de marítimos, como os queiram chamar.
Conhecedor desta realidade, o Presidente da Cooperativa ‘Porto de Abrigo’, Liberato Fernandes – que deve ser levado a sério nestas questões e não apenas como uma voz incómoda – considera que aquilo que designa de ‘Escola de Formação das Pescas’ no Faial “é um erro”.
“Não digo que não exista a escola, mas toda a formação até à formação média na área de pesca deve ser descentralizada”, afirmou.
Em sua opinião, “não tem sentido um pescador de São Miguel ir tirar a carta de arrasto para o Faial. Não faz qualquer sentido. Isso quando a maior comunidade piscatória está em São Miguel. E quando a formação inicial dos marítimos não é altamente especializada. Tem especificidades, tem segurança que passa pela salvaguarda da vida no mar , mas a profissão de pescador não é altamente especializada”, afirma. Considera que “há muita da formação que o pescador aprende na formação inter-gerações. O pescador não é melhor pescador porque foi à Escola de Formação das Pescas. É o melhor porque aprendeu a profissão com o pai. Este é um sector de actividade onde a formação que se faz entre gerações e que, geralmente, a família privilegia”.
É normal ouvir o mestre pescador afirmar que, no seu barco, “a minha campanha, prioritariamente, são os meus filhos, o cunhado, o genro e por aí adiante. E até há alguns segredos da pesca que eu transmito aos meus”.
“Portanto”, salienta Liberato Fernandes, “há formação que é necessária , que é complementar àquela que o pessoal já aprende na actividade. E esta formação deve ser descentralizada”.
Liberato Fernandes considera mesmo “impressionante porque a formação descentralizada era feita no tempo da ditatura com as Casas dos Pescadores. Tinha uma característica: Era o poder a mandar em tudo. Mas todos os arrais daqui, desde o Marracho, o Balaia e por aí adiante, todos tiraram o curso nas Casas dos Pescadores. Só o curso de mestre costeiro ou mestre do alto era dado a outro nível. E esta formação tem sentido ser descentralizada”, opina.
Em todo este contexto, na opinião de Liberato Fernandes, “canalizar uma grande verba para construir um mamarracho pode animar a economia do Faial, mas as coisas não podem ser feitas desta maneira. Hoje, quase 60% dos dependentes da pesca (muito mais de 50%) são naturais de São Miguel; e a segunda maior comunidade de pescadores está na Terceira em dois portos de pesca significativos, São Mateus e Praia da Vitória. Quero dizer, não tem sentido fazer uma escola de formação, quando se fala tanto de descentralização, centralizada no Faial em função de interesses que são pequeninos. Isso não pode servir como estratégia de desenvolvimento”, completa.
Embora a opinião de Liberato Fernandes deva ser considerada, o Correio dos Açores não se ficou pelo que diz o Presidente da ‘Porto de Abrigo’ e ouviu também o Presidente da Federação das Pescas, Gualberto Rita, que é mais comedido na análise que faz. Começa por considera que “o mais importante é que se implemente a Escola do Mar. Ser no Faial, na Terceira ou em São Miguel, não é tão importante”.
Quando Gualberto Rita é colocado perante as questões, no pormenor, há respostas que ele não tem para dar. Por exemplo, como se deslocam os pescadores da Terceira e São Miguel para o Faial? Quem paga? E como se convence os jovens pescadores a ficarem longas temporadas fora da família? Em sua opinião, “o facto de haver deslocações dos pescadores para o Faial deve ser uma responsabilidade do Governo Regional, uma vez que a grande massa crítica nas pescas (onde mais activos e profissionais nas pesca) está mais concentrado em São Miguel e na Terceira”.
Gualberto Rita aplaude a Escola do Mar, mas vai considerando que é importante que haja uma formação das pescas nos Açores que seja descentralizada com a deslocação dos docentes e especialistas aos portos onde se encontram as maiores comunidades piscatórias.
Curiosamente, esta também é a opinião do Secretário do Mar, da Ciência e Tecnologia, Gui Menezes, verdadeiramente um especialista na pesca nos Açores. Gui Menezes assumiu ao jornalista do Correio dos Açores que a criação da Escola do Mar na Horta não impede a descentralização da formação para as comunidades piscatórias e que só em casos muito específicos, como o caso de envolver, por exemplo, um grande equipamento, é natural que seja os pescadores a ir receber formação à Escola Naval, na Horta.
Não se esperava outra opinião de Gui Menezes que, enquanto investigador, conhece as comunidades piscatórias açorianas como a palma das suas mãos embora, ao longo da sua actividade, não tivesse um contacto muito directo com os pescadores micaelenses. E o certo é que responsáveis pelos movimentos associativos, como o caso de Liberato Fernandes, poderão ser uma mais-valia nestes contactos.

 

“Esta não é apenas uma escola de formação das pescas”, disse Vasco Cordeiro no Faial

E fechamos esta nota de reportagem com pequenos excertos da intervenção do Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, no lançamento da ‘primeira pedra’ da Escola do Mar, no Faial.
“Há algo que, neste momento e neste local, interessa que seja particularmente claro: esta não é uma escola apenas de formação na área das pescas. Esta é uma Escola que, nos seus objectivos, na sua ambição estratégica, vai muito mais além”, afirmou o Presidente do Governo.
A obra representa um investimento de cerca de 4,5 milhões de euros e vai requalificar um conjunto de edifícios da antiga Estação Rádio Naval da Horta, “reforçando a centralidade” do Faial no sector do Mar, “atraindo formandos e profissionais de diversas áreas e criando mais emprego e dinâmica social e económica nesta ilha e, por seu intermédio, nos Açores”.
A adaptação deste espaço, para além dos objectivos associados à própria Escola do Mar, enquadra-se num outro objectivo do Governo de privilegiar “a reabilitação urbana para instalar serviços públicos, sempre que isso seja possível do ponto de vista técnico, constituindo, assim, uma mais-valia também pela valorização de um património edificado histórico desde sempre ligado ao Mar”.
A Escola do Mar vai ocupar quatro dos edifícios existentes e será construído um novo espaço dedicado a oficinas especializadas.
Prevê-se que, numa fase posterior, se recuperem quatro dos seis blocos de apartamentos existentes, com capacidade para albergar cerca de 100 formandos e formadores deslocados. Estes blocos poderão também ser usados pelo Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores ou no apoio a iniciativas ligadas aos desportos náuticos ou mesmo a empresas ligadas à economia do mar.
Esta nova Escola disponibilizará espaços adaptados para formação geral, salas equipadas com simuladores modernos para navegação, comunicações e máquinas, e oficinas de mecânica, soldadura, hidráulica, eletricidade, electrónica e ainda marinharia, pescas, carpintaria e processamento de pescado.
A infra-estrutura terá, também, um Parque de Limitação de Avarias moderno, construído de raiz, que inclui um campo de treino de combate a incêndios e operações de salvamento e uma infra-estrutura de apoio.
No entender do chefe do Executivo açoriano, “a capacitação das empresas que operam nas diversas áreas da economia do mar com mão-de-obra qualificada e certificada é um passo fundamental para promoção da chamada ‘economia azul’ e do progresso sectorial das actividades marítimas na nossa Região”.
Essas áreas de intervenção da Escola do Mar dos Açores serão definidas com base na identificação das necessidades do mercado ao nível da mão-de-obra especializada, tanto nas áreas consideradas mais tradicionais, como a pesca e os transportes marítimos, como em áreas em crescimento acentuado e emergentes, caso das actividades marítimo-turísticas, do turismo de cruzeiros ou da aquacultura. Terá, também, como objectivo formar profissionais nas áreas dos portos, no mergulho profissional, na observação de pesca e do ambiente, na inspecção, fiscalização e segurança marítimas, na gestão e vigilância das zonas balneares, entre outras.
No futuro, pretende-se, também, que a Escola do Mar ofereça cursos mais tecnológicos, ligados à robótica e à tecnologia de exploração e observação do oceano.
A Escola do Mar terá todas as valências técnicas e logísticas para disponibilizar cursos de acordo com as disposições da Convenção STCW – Standards of Training and Certification Watchkeeping Convention, obrigatórios, em breve, para todos os marítimos europeus e dos países signatários desta Convenção.
A integração da Escola do Mar dos Açores no programa europeu Vasco da Gama, que “visa promover e uniformizar a formação em profissões marítimas, será um dos aspectos relevantes a explorar”, disse Vasco Cordeiro para depois sublinhar que “é preciso também não esquecer que a Escola do Mar não constituirá, nem se pretende que constitua, um corpo estranho ao Sistema Educativo Regional”.
Hoje a economia do mar, na sua diversidade, corresponde a cerca de 5% do PIB regional, é responsável por mais de 25% das nossas exportações, conta com cerca de 900 empresas que empregam mais de 5.000 colaboradores e que geram um volume de negócios superior a 200 milhões de euros por ano.

Fonte: Correio dos Açores

7 Comentários neste artigo

  1. Pescador Preocupado

    Nao sou do faial. Nem s.miguel mas os micaelenses sao mesmo assim querem tudo para la pois entao que levem tudo para la e fechem as fronteiras. Eles la e nós ca. Façam um muro como o Trump quer fazer mas bem alto

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  2. MELHOR!!INDEPENDÊNCIA A TODAS AS ILHAS…CADA UMA COM O SEU GOVERNO E DEPUTADOS PORQUE TAMBÉM NAS “ILHAS DEBAIXO” HÁ EXTREMAS RIVALIDADES

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  3. Independência Já às ilhas de debaixo!!!!.Porquê?
    Porque, pode ser que se salve ainda alguma (coisa).
    Saudações piscatórias
    Gaivota

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  4. NAO PERCEBO O PORQUE CONSTRUIR UMA ESCOLA DO MAR SAIU A NOTICIA QUE VAO “FORÇAR” A REFORMA DE 1000 PESCADORES A NÍVEL AÇORES …E DA MANEIRA QUE ISTO ANDA E A MOTIVAÇÃO DOS JOVENS PARA IREM PARA A PESCA É POUCA …NAO PERCEBO….JA HÁ MAIS BARCOS DO QUE PESCADORES !!!

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  5. o liberato tem pouca visão politica,a escola do mar tem que tar perto do local de trabalho, é só barcos s Miguel no grupo central e algums sem condições de trabalho.

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  6. ISTO É PARA DAR TACHOS AOS SENHORES DOUTORES DO DOP ,PORQUE JÁ MANDAM NA PESCA E AGORA TAMBÉM QUEREM MANDAR NA FORMAÇÃO DOS PESCADORES!!IR PARA O MAR NAO É COM ELES !!SÓ DE ÓCULOS ESCUROS E CHINELINHO HAHAH

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  7. LIBERATO, LEVA A ESCOLA PARA S.MIGUEL, E AO MESMO TEMPO LEVA TAMBÉM TODOS OS BARCOS DE S.MIGUEL QUE VEM PESCAR PARA CÁ!

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