O ecossistema dos Açores pode ser considerado um micro ecossistema oceânico do Atlântico Norte na qual se podem definir para efeitos de gestão e conservação ecossistemas particulares correspondentes às estruturas topográficas do mesmo da qual se destacam as zonas costeiras das ilhas, os montes submarinos e a fontes hidrotermais (Fig. 1). O conhecimento das dinâmicas a várias escalas destes ecossistemas e as suas interacções no macro ecossistema do Atlântico Norte são ainda limitados. A estrutura de gestão associada a este ecossistema oceânico é por si só complexa sendo por exemplo a região abrangida pelas convenções OSPAR, Comissão de Pesca do Atlântico Nordeste (NEAFC), Comité Internacional para a Exploração do Mar (CIEM), Comité Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICAAT) e Comité das Pescas para o Atlântico Central Este (CECAF). Os Açores estão no limite sul abrangido pelas áreas da Convenção OSPAR, ICES e NEAFC correspondendo a uma zona de transição latitudinal das características do ambiente e da fauna (40º-50º N) e ao limite da distribuição (norte ou sul) de alguns recursos como os atuns.

O ecossistema dos Açores tem sido definido como oceânico, caracterizado por uma abundante área abissal (profundidade média de 3000m) por uma estreita ou ausente plataforma costeira e pontuado por alguns bancos e montes submarinos (Fig. 1). As estruturas predominantes nesta área são os montes submarinos com uma densidade média de 3.3 picos por 1000m2. Estas estruturas apresentam uma grande variedade na amplitude de tamanho, forma, profundidade do pico e inclinação sugerindo que podem na prática ser considerados como que micro ecossistemas.

Os montes submarinos são caracterizados também por apresentarem padrões de circulação oceanográfica específicos como correntes amplificas junto ao substrato, padrões circulares de correntes e mistura vertical. São por isso considerados importantes habitats para a fauna bentónica e bentopelágica podendo ser afectados por factores externos distantes. Contudo, o conhecimento das espécies e das dinâmicas físicas e biológicas associadas a estas estruturas a diferentes escalas é ainda limitado, particularmente no contexto do ecossistema oceânico como o dos Açores.

A mais importante estrutura topográfica da região é a Crista Média Atlântica que segue um curso para sul desde a Islândia atravessando o arquipélago entre o grupo ocidental e o grupo central. A topografia nesta área é acidentada e constituída por ‘picos’ muito irregulares. Os montes submarinos e as fontes hidrotermais estão geralmente associadas a esta estrutura, embora os montes submarinos ocorram também de forma isolada na bacia. A crista funciona como uma barreira limitando as trocas de massas de água entre as bacias de Este e Oeste. Contudo, ao longo da crista encontram-se várias fracturas, Charlie Gibs, Faraday, Maxwell e Kurchatov, correspondendo a vales profundos que correm paralelamente à crista. A principal comunicação entre o bloco Este e Oeste da crista efectua-se por estas áreas de fractura afectando assim toda a circulação oceanográfica do atlântico norte.

(Fonte: Pinho, M. R. & Menezes, G. (2009), Pescaria de Demersais dos Açores. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 85-102)