Social
Navios alemães usam cada vez mais o pavilhão português

Navios alemães usam cada vez mais o pavilhão português

Um armador grego avançou este mês de Dezembro para o registo de dez navios com bandeira portuguesa, através do Registo Internacional de Navios da Madeira (MAR). Para Janeiro está anunciada a chegada de outras empresas da Grécia, a maior potência europeia a nível de armadores. São casos que ilustram o crescimento do MAR, um dos dois registos nacionais de embarcações e aquele que atrai mais empresas, em especial os armadores de Hamburgo, Alemanha, desejosos de aproveitar as vantagens fiscais. Até setembro, de acordo com a Sociedade de Desenvolvimento da Madeira, já existiam 479 registos, número já ultrapassado. No registo tradicional, o panorama é inverso: atualmente há apenas dez navios nacionais de marinha mercante.

A zona franca da Madeira é o polo de atração para os armadores. E quem tem dado um forte contributo são empresários alemães. Criaram empresas nacionais como a Euromar, com sede no Funchal e que desde 2013 já registou 300 barcos na Madeira, o que significa um porte de 14,7 milhões de tonelagem, e a recente European International Shipowners Association of Portugal (EISAP), igualmente localizada na Madeira, presidida por Robert Lorenz Meyer. Uma grande parte dos barcos registados no MAR são alemães. De resto, a bandeira portuguesa é a segunda nos cargueiros alemães, só superada pela Libéria, bandeira de conveniência.

“É uma tendência de crescimento que serve de prova de qualidade do MAR. É cada vez mais atrativo para os armadores internacionais. Da Alemanha chegam dos maiores armadores a nível global”, explicou ao DN Gonçalo Santos, da direção da EIMAR.

As vantagens fiscais proporcionadas pela zona franca e o facto de a bandeira ter o chapéu da União Europeia interessam aos armadores. E beneficiam Portugal, diz a EIMAR. “Isto permite desenvolver um cluster marítimo. Temos um armador alemão que já fez um protocolo com a Escola Náutica Infante D. Henrique para a formação de tripulação. Os navios ostentando a bandeira portuguesa são nacionais para todos os efeitos e permitem que Portugal ganhe peso a nível internacional. Além disso, atrai outros investimentos na área do transporte marítimo de carga”, aponta Gonçalo Santos, dando o exemplo de um armador da Estónia que já mudou parte da base operacional para a Madeira.

 

Mais postos de trabalho

Entre as tripulações destes barcos estão já 400 portugueses. “Isto é bom para os portugueses. Temos formação e escolas boas na área. A mudança para a Madeira possibilita sempre novas oportunidades de trabalho”, diz Álvaro Sardinha, consultor de transporte marítimo. E elas existem. “Na carga, há procura de oficiais, pilotos, eletrotécnicos. Nos cruzeiros, hotelaria, há imensos postos de trabalho em diversas áreas.”

O crescimento do MAR coloca já Portugal como o quarto maior registo de barcos da Europa. E Robert Meyer Lorenz, diretor da Ernst Russ GmbH, afirma que pode vir a ser o número um da Europa. Mas critica a burocracia. Depois do registo, para se obter certificados marítimos há muita morosidade. “Há cerca de 700 certificados à espera de serem emitidos”, assegura o dirigente da EIMAR. Além disso, defende que seja permitido, como em quase todos os registos marítimos, a possibilidade de levar seguranças armados a bordo, e que os log books (diários de bordo) deixem de ter o atual formato. “Devem ser eletrónicos. É melhor para o armador e melhor para o Estado.”

 

Governo prepara mudanças

É preciso vontade política, diz a EIMAR. Ora, a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, garantiu que pretende revitalizar a marinha mercante portuguesa, com adoção de legislação mais competitiva. Criou um grupo de trabalho que ficou de apresentar agora no final do ano a proposta. A aposta na frota portuguesa é olhada com cautela. A EIMAR não tem nenhum armador português como sócio e o registo de Lisboa tem apenas dez cargueiros. “Pagarão sempre uma fiscalidade alta ou então recebem subsídios. Não é mau ter estes armadores estrangeiros: trazem negócio e geram desenvolvimento marítimo”, diz Álvaro Sardinha.

Fonte: Diário de Notícias

Deixe um Comentário