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40 barcos espanhóis pescam espadarte entre as 100 e 200 milhas da ZEE dos Açores
Um relatório da ‘Blue Azores’, intitulado ‘O Segredo mais bem guardado do Atlântico’, redigido para o Governo dos Açores, revela que alguns montes submarinos dos Açores “foram já explorados por redes de arrasto de fundo no passado e foram também afectados por outras artes de pesca de fundo”.
Segundo este relatório, existem mais de 300 montes submarinos que “oferecem condições ideais para a ocorrência de corais e esponjas de profundidade, classificados como Ecossistemas Marinhos Vulneráveis”, a maior parte dos quais ainda não foram explorados em termos científicos.
O relatório, redigido com a colaboração de 25 investigadores de várias nacionalidades, uma parte dos quais da Universidade dos Açores, considera que as áreas em redor do arquipélago dos Açores contêm alguns dos mais importantes ambientes insulares, de mar aberto e de oceano profundo do Atlântico. Realçam os investigadores que, “apesar da sua relevância, este inestimável, frágil e insubstituível capital natural azul está ameaçado e precisa de ser protegido”.
Segundo o documento, o fundo do mar da ZEE dos Açores é caracterizado por uma topografia complexa, constituída por vertentes insulares, montes submarinos, zonas de fractura, vales e planícies abissais a profundidades superiores a cinco mil metros.
Durante a expedição ‘Blue Azores’, mais de 21.000 quilómetros quadrados de fundo marinho foi cartografado “em detalhe pela primeira vez”.
Muitas das espécies encontradas em águas profundas “têm crescimento lento, vida longa e uma baixa taxa de reprodução, tornando-as extremamente vulneráveis à pesca e outros impactos humanos, com tempos de recuperação que exigem décadas ou mesmo séculos”.
Sublinha-se também no relatório que “a diversidade de corais de água fria é particularmente elevada nos Açores, com 184 espécies identificadas até ao momento”.
Algumas das vertentes exploradas com o veículo operado remotamente ‘Luso’, nas ilhas de São Jorge e Pico, “continham comunidades únicas, caracterizadas pela presença de uma ostra com uma longevidade de vários séculos e do crinóide séssil Cyathidium foresti”. Esta associação foi descrita como uma “comunidade fóssil, viva”. Consideram os investigadores que “a natureza frágil deste habitat e a sua singularidade no Atlântico Norte justificam a sua protecção. Ao sul do Pico, densas agregações de grandes esponjas-de-vidro foram também observadas”.
Segundo o relatório, o Laboratório de Tecnologia de Exploração da National Geographic utilizou câmaras de profundidade (dropcams) entre 240 e 1.480 metros, em 39 locais da região oeste do arquipélago dos Açores, em Junho de 2018. As famílias de peixes mais comuns observadas nestas profundidades foram boca-negra, moreão ou congrinho, peixe rato e melga. Os peixes lanterna e os sargos foram as famílias de peixes numericamente mais abundantes. Os tubarões e as raias em 74% dos locais e estiveram presentes nas 10 estações mais profundas (mais de mil metros de profundidade). O albafar e o carocho foram observadas com maior frequência nestas profundiades. Outros grupos observadores incluíram a lixinha da fundura e as sapatas. As comunidades de peixes observadas nas estações mais profundas (1000 a 1.489 metros) foram caracterizadas por enguias, peixes ratos e tubarões.
Observaram-se, igualmente, com estas câmaras de profundidade invertebrados móveis, incluindo caranguejos, camarões, lulas, estrelas e ouriços-do-mar. De entre os invertebrados sésseis, foram encontrados corais negros, coral chicote e gorgónias, corais duros, anémonas e esponjas de profundidade.
Gigante: “Ecosistema Marinho Vulnerável”
Ao longo desta expedição, foi encontrado um campo hidrotermal na área do complexo Gigante, situada entre as ilhas das Flores e Faial e localizada na Crista Médio-Atlântica, a 570 metros de profundidade. Esta foi considerada, no relatório, “a principal descoberta” da expedição.
Este campo hidrotermal foi designado ‘Luso’ e ocupa uma área de cerca de 400 metros quadrados, “sendo composto por, pelo menos, 26 estruturas semelhantes a chaminés de diferentes tamanhos com aberturas de até 30 centímetros de diâmetro.
Na crista sudoeste desta área, segundo o relatório, foi descoberto o jardim e coral mais extenso e denso identificado nos Açores, da gorgónia. Algumas das colónias atingiam mais de um metro de altura e 1,5 metros de diâmetro, tendo uma idade estimada superior a um século e encontravam-se ainda intactas.
Segundo os investigadores, “as densidades, tamanho, carácter único e fragilidade destes jardins de Paragorgia, fazem desta área um excelente candidato a Ecossistema Marinho Vulnerável”.
As principais ameaças para a pesca
Os Açores têm uma das maiores áreas do mundo onde a pesca com arrasto é proibida e, como tal, segundo os investigadores, “as principais ameaças para a pesca estão relacionadas com os palangres, a sobrepesca junto à costa e actividades ilegais”.
Consideram os investigadores que as actuais áreas totalmente protegidas “são muito pequenas e, portanto, a maioria dos ecossistemas são afectados, principalmente, pela pesca comercial. A actividade pesqueira na ZEE dos Açores não se distribui de forma uniforme, sendo mais intensa junto às ilhas de São Miguel e Santa Maria e nos bancos ‘Princesa Alice’ e ‘Açor’.”
Segundo o relatório, o palangre de superfície é a arte de pesca “predominante utilizada por navios de bandeira portuguesa e espanhola”, representando 47% de todo o esforço de pesca em 2018. Esta arte de pesca”, segundo o documento, visa principalmente espadarte e tubarões pelágicos, como o tubarão azul e o rinquim”.
As segunda e terceira artes de pesca mais utilizadas foram o salto e vara e o palangre de fundo, representando 34% e 15% do esforço total de pesca, respectivamente. Artes que são utilizadas predominantemente pela frota regional.
Como refere o relatório, globalmente, o esforço de pesca na ZEE dos Açores “é significativo e cobre a maior parte das águas da Região. É particularmente elevado entre as 100 e as 200 milhas náuticas da ZEE e na região exterior à ZEE, onde quase 40 navios de bandeira espanhola actuam com palangre de superfície, com uma intensidade de até mil dias-navio.
Segundo o documento, as capturas de espadartes e tubarões quase triplicaram desde os anos 50. Os tubarões-azuis representavam 8% da captura total do palangre na década de 1960, mas aumentaram para 70% na década de 2000, enquanto que a captura de peixes como o valioso goraz., diminuiu cinco vezes de 1950. O marracho representava 88% da captura de tubarão na década de 1960, mas agora representa menos de 1%. Evoluções de pesca que levam os investigadores a “chamarem a atenção para a necessidade de implementação urgente de Áreas Marinhas Protegidas de protecção total de grande dimensão, e de medidas de regulamentação de pesca muito mais eficazes em toda a Região”.
As recomendações ao Governo dos Açores
Nas recomendações ao Governo dos Açores, o relatório ‘Blue Azores’ defende “o aumento significativo da proporção da ZEE dos Açores sob protecção total, incluindo a protecção das espécies e ecossistemas mais importantes e das espécies de elevado valor comercial e cultural”, uma protecção que “deve ser representativa dos habitats marinhos dos Açores, incluindo habitats costeiros, montes submarinos, ecossistemas de mar aberto e do oceano profundo. Com menos de um por cento do mar dos Açores sob protecção total, este é uma das principais prioridades para a Região”, consideram os investigadores.
A segunda prioridade é “implementar, de forma efectiva, as áreas de conservação existentes, desenvolvendo planos de gestão que protejam totalmente ou fortemente estas áreas e fornecer os recursos financeiros e humanos necessários para as gerir de forma adequada”. Realçam os investigadores, que os estudos científicos actuais, incluindo os resultados destas expedições, não mostram benefícios claros da conservação nas Áreas Marinhas Protegidas existentes, excepto nas que são fortemente protegidas”.
“Melhorar medidas para a pesca que promovam as pescarias locais sustentáveis e eliminem as práticas de pesca destrutivas e insustentáveis, como sejam o uso de palangres de superfície e redes de emalhar, e reduzam os impactos do palangre de fundo nos montes submarinos e nas comunidades bentónicas” é outra das recomendações do relatório.
Outras das prioridades do relatório é “promover a educação e a literacia sobre o oceano em todo o arquipélago e para a sociedade portuguesa em geral, como apoio às medidas de conservação propostas”.
No entender dos investigadores, “será necessário dar a conhecer as ameaças que o mar dos Açores enfrenta bem como a eficácia das soluções para mitigar estas ameaças, com o objectivo de se alcançar o necessário apoio à acção governamental na adopção de medidas de conservação e de pesca sustentável a implementar pelas diferentes entidades e ao cumprimento das regras por todos os utilizadores do mar”.
Fonte: João Paz / Correio dos Açores