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Furacão Lorenzo // Flores já têm abastecimento regular mas Corvo continua com constrangimentos

Furacão Lorenzo // Flores já têm abastecimento regular mas Corvo continua com constrangimentos

Desde janeiro, com o fretamento do navio Malena, que o abastecimento à ilha das Flores tem sido feito com regularidade, mas o Corvo continua a ter um abastecimento marítimo irregular, segundo comerciantes e autarcas.

A passagem do furacão Lorenzo, na noite de 1 para 2 de outubro de 2019, causou a destruição total do molhe e cais comercial do Porto das Lajes das Flores, causando constrangimentos ao abastecimento das ilhas do grupo Ocidental dos Açores.

Os florentinos passaram “por um período muito difícil, mas, com o fretamento do navio Malena, navio que reúne todas as condições para operar naquilo que resta do que era o cais acostável do Porto das Flores, e que serve perfeitamente a ilha, a situação regularizou”, afirmou o presidente da Câmara de Santa Cruz das Flores, José Carlos Mendes.

“Houve dificuldades… Agora, também tem uma coisa: nós estamos já habituados às dificuldades e encontramos sempre formas de minimizar”, explicou o autarca, acrescentando que, “como é óbvio, aconteceram ruturas no abastecimento, houve faltas, mas o essencial nunca faltou, nunca ninguém passou fome”.

Em Santa Cruz das Flores, “felizmente, os estragos não foram muitos”.

A autarquia recorreu aos seguros para fazer face aos prejuízos de “160 a 170 mil euros” relativos a estragos no museu e no auditório municipal. A autarquia não vai, por isso, pedir o apoio do Governo Regional, que se comprometeu a cobrir 85% dos gastos das autarquias nos esforços de reabilitação.

Foi no concelho vizinho, das Lajes das Flores, que se verificou o maior dano, a destruição da infraestrutura portuária, cuja reparação está orçada em mais de 190 milhões de euros.

Sendo esta uma obra da competência do executivo regional, à autarquia compete um prejuízo de cerca de 100 mil euros, maioritariamente referente à “destruição de um troço da avenida marginal da Fajã Grande – o muro de proteção, a via e iluminação”, adiantou o presidente da Câmara, Luís Maciel.

O autarca vai aproveitar o apoio governamental e aguarda a avaliação feita pelo executivo.

Também o presidente da Câmara das Lajes das Flores referiu que, “desde que o Malena está a operar, não tem havido problemas no abastecimento”.

João Lourenço, dono do supermercado Pão de Açúcar e de vários outros estabelecimentos, contou que “houve um período de vários meses em que foi difícil para os barcos chegarem, mas lá se conseguiu ultrapassar”.

“Não é tanto assim como essa mensagem que passaram na televisão, que fez com que muitos turistas não viessem cá, pensando que isto aqui era pior que em África, que não havia nada para comer. Não é verdade. Não havia todos os produtos que havia antes, mas havia, de vez em quando, barcos, também chegavam produtos em aviões […]. Fomos gravemente prejudicados por não termos turistas, que não vieram, pensando que aqui estava tudo a morrer de fome”, afirmou o empresário, que explora também alguns empreendimentos turísticos.

Já o proprietário de quatro supermercados e do centro comercial Floratlântico, Arlindo Lourenço, considera que durante o período da falta de navio, de outubro a janeiro, “foi um caos”.

“Foi terrível, foi quase insuportável”, admitiu.

Segundo o responsável pelo maior estabelecimento comercial da ilha, faltou “tudo, bens alimentares, bens para a indústria, para a construção, tudo”.

“Estava tudo a encaminhar-se para uma situação estável, que permitia regular o funcionamento da empresa e a recuperação dos nossos stocks. Por incrível que pareça, vem agora esta crise da covid e está a ser outra vez um caos. Agora, temos mercadoria, mas não temos clientes para comprar a nossa mercadoria”, contou.

A sua empresa, Lourenço e Lourenço, candidatou-se aos apoios do Governo Regional, mas aguarda para saber o montante. Pelas suas contas, perdeu “dezenas de milhares, ou até uma centena de milhar”.

Os apoios serão atribuídos depois de terminado o levantamento feito pela Câmara do Comércio e Indústria da Horta. À Lusa, o presidente, David Marcos, avançou que se espera ter o processo finalizado esta semana e que foram recebidas 17 candidaturas – 13 das Flores, quatro do Corvo.

No Corvo, a situação é outra. O presidente da Câmara do Corvo, José Manuel Silva, lembra que a ilha foi abastecida recentemente, “com cinco viagens e cerca de 700 toneladas de bens de toda a tipologia”, mas admite que a solução “ainda não está perfeita”: “O nosso caso também está a ser tratado, mas esta situação de pandemia vem mexer com tudo, por isso, pode não acontecer tão rapidamente”.

A solução passa por um barco “com condições de navegabilidade que os atuais não têm”. Na mais pequena ilha dos Açores, os comerciantes queixam-se da falta de regularidade.

João Pedras, gerente da Pedras e Pedras Mercearia, confessou que os comerciantes chegam a “não fazer encomendas dos produtos” de que precisam, “porque o que acontece é os produtos ficarem muito tempo parados noutra ilha”. Isso aconteceu com a carga que ficou recentemente 50 dias no Faial, com “cerca de 30 mil euros parados”, dos quais ainda aproveitou “alguns produtos, com validade grande”.

Antes do último abastecimento, faltava leite, ovos, farinha, água, açúcar, iogurtes, laticínios: “Estivemos um mês sem abastecimento”, conta.

Luís Carlos Jorge, gerente da Loja do Cabral, afirmou que “houve muitos constrangimentos, mas os negócios foram-se aguentando” e “a maior falta tem sido sempre a regularidade”. Houve alturas com “mais fruta do que o habitual” e outras em que faltavam produtos.

Mencionando também a incerteza que provocam a greve dos estivadores e a pandemia da covid-19, o empresário disse que “as desgraças aqui nunca vêm sós”.

O furacão Lorenzo passou há seis meses pelos Açores, provocando 255 ocorrências, que obrigaram ao realojamento de 53 pessoas e somam um prejuízo de 330 milhões de euros.

Copyright foto: Miguel Nóia

Fonte: Açoriano Oriental

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