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Pescarias do Algarve // Um legado histórico do atum ao mexilhão

Pescarias do Algarve // Um legado histórico do atum ao mexilhão

A Companhia de Pescarias do Algarve foi fundada a 2 de dezembro de 1835, vocacionada para a pesca do atum. Já neste século, fruto de uma redefinição estratégica, apostou nos bivalves e em especial no mexilhão. Hoje é a maior empresa ibérica de produção de bivalves em mar aberto e uma das cinco maiores da Europa.

São 179 anos de existência, que já atravessaram três séculos, numa história que mete reis, figuras de primeira linha da sociedade portuguesa, e, claro, algarvios de rija têmpera, que nunca deixaram morrer a Companhia de Pescarias do Algarve (CPA). Mesmo sem entrar em pormenores e factos que dão que pensar – o telefone, por exemplo, só apareceu 40 anos depois da fundação da empresa – importa dizer que até o Marquês de Pombal está umbilicalmente ligado ao tema, por ter criado, em 1773, a Companhia das Reaes Pescarias, porventura a antecessora de todo o movimento. E os primeiros estatutos foram aprovados por D. Maria II, a 30 de março de 1836, quatro meses após José Coelho de Carvalho ter fundado e “autenticado” a companhia que, desde logo, assentou a atividade na pesca, procedendo, já em 1838, à instalação de uma armação de atum, a que se seguiram outras, na costa algarvia.

Em 1971, por força de circunstâncias conjunturais, associadas à redução da passagem de atuns na sua rota migratória, a companhia suspendeu a atividade da captura de atum, e, já no início do século XXI, fruto de uma redefinição estratégica, alterou o seu core business, apostando decididamente nos bivalves. Atualmente, é uma das empresas de pescado mais antigas do mundo, “portadora de uma forte tradição e de uma história única de ligação do homem ao mar”, conta António Farinha, presidente do Conselho de Administração.

Das muitas alterações sociais e económicas ao longo dos anos, António Farinha destaca a “dificuldade de o Estado acompanhar a dinâmica das empresas e as regras impostas pelo mercado, gerando, muitas vezes, distorções na concorrência”. Um bom exemplo diz respeito a uma unidade industrial da CPA, no Porto de Olhão, que envolveu um investimento na ordem dos 1,4 milhões de euros, inaugurada em janeiro de 2011 e que esteve 20 meses fechada e inoperacional até à obtenção do licenciamento, já que o Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos de então “não dispunha de 25 mil euros para abrir um concurso público para efetuar as obras de ligação da rede de saneamento do porto à rede da cidade e não autorizou que a empresa se substituísse ao Estado para desbloquear a situação”.

A CPA, porém, nunca se deixou abater, e, após ter agarrado a tal oportunidade de mercado – a aposta nos bivalves, consubstanciada em conservas e pastas -, continua a procurar criar valor para responder à procura nacional e internacional, “oferecendo produtos de elevada qualidade, em fase final de certificação, pela Marine Stewardship Council, no caso do mexilhão. São distinções relevantes porque é o reconhecimento de que a empresa desenvolve a sua atividade de forma ambientalmente sustentável, não pondo em risco o ecossistema e os habitats naturais da área onde opera, na ria Formosa”, explica Jorge Farinha, filho do presidente e também elemento da administração. Nesta altura, a CPA detém elevado potencial de produção de bivalves em estruturas de mar aberto, com licenças para exploração de 14 lotes (cada um com uma área útil de 8 km2), na área-piloto da Armona.

A CPA é a maior empresa ibérica de produção de bivalves em mar aberto e uma das cinco maiores da Europa. Em ano-cruzeiro, prevê que 90% da produção tenha como destino os mercados da União Europeia, com incidência em Espanha. E se o mexilhão é o principal cartão-de-visita, está em curso um projeto com incidência em ostras, amêijoas e vieiras, num total de 15 referências de bivalves. Trata-se de uma “corrida de fundo para cumprir um desígnio estratégico”, relacionado com razões de sustentabilidade e racionalidade económica”.

O amanhã é exigente. A companhia está a completar um ciclo de investimento que iniciou em 2010, através da instalação de estruturas aquícolas em mar aberto, adquirindo duas embarcações e construindo uma unidade de tratamento e expedição de bivalves, e conta, este ano, investir dois milhões de euros numa unidade de congelados. “A Europa é deficitária em mexilhão e vieira frescos e congelados. É um segmento de mercado atrativo que a CPA quer aproveitar, para completar o seu portefólio de produtos.”

Fonte: Diário de Notícias

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