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A luta pelo domínio dos mares

A luta pelo domínio dos mares

São gigantes do mar, salpicados das mais variadas cores dos contentores que transportam. No sector marítimo-portuário costuma-se dizer que a verdadeira caixa que mudou o mundo foi o contentor e não a televisão. E se a própria televisão chega hoje facilmente aos quatro cantos do mundo, dentro de um contentor, talvez isso prove que o sector não estará muito longe da verdade.

Mas não é de contentores propriamente ditos – e muito menos de televisões – que aqui se fala. O contentor pode ser a caixa que mudou o mundo mas grande mérito dessa globalidade terá que ser também dado ao ‘instrumento’ que tornou essa caixa verdadeiramente global: o navio porta-contentores.

E se a realidade dos contentores não tem sofrido grandes alterações ao longo dos anos (existem em vários formatos pré-definidos e é a sua simplicidade e a sua estandardização que os tornam tão manuseáveis), o mesmo não se aplica aos navios que os transportam. Nos últimos cinquenta anos o crescimento de dimensão dos navios tem sido gradual, atingindo hoje dimensões que há anos se pensava impossível. E os próprios armadores, imbuídos da competitividade fervorosa tão típica deste sector, não poupam hoje esforços para ter navios cada vez maiores. Ter o maior navio dos mares é já um status pelo qual lutam, lembrando as célebres e históricas corridas ao armamento.

Para que se tenha uma noção, há cerca de 50 anos atrás, o maior porta-contentores a navegar os mares do mundo (OCL Encounter Bay) movimentava um máximo de 1.530 TEU’s. Isto no ano de 1968. Em 2015, já temos navios de 19 mil TEU’s. E uma coisa é garantida: não ficaremos por aqui.

O recorde de maior navio do mundo foi então passando de mão em mão, com Hapag-Lloyd, APL ou Maersk na luta. Virou-se o século com porta-contentores já perto dos 10 mil TEU’s. Mas a verdadeira explosão estava para vir. Em 2006 a Maersk lançou aos mares o Emma, navio revolucionário de 11 mil TEU’s. Daí para cá a coisa atingiu contornos que pareciam fora do alcance da engenharia. E em nove anos, de 2006 a 2015, o maior navio passou do Emma Maersk de 11 mil TEU’s para o MSC Oscar, de 19,224 TEU’s, o maior navio porta-contentores do mundo, que em breve terá a companhia do gémeo MSC Oliver, com a mesma capacidade. Oito mil TEU’s de aumento em menos de uma década. Isto quando tinham sido necessários mais de trinta anos para passar dos 1.500 para os 9 mil TEU’s. A fasquia dos 20 mil TEU’s está ao virar da esquina e a pergunta que se coloca é: até onde chegará esta corrida? Sim, porque não falamos, certamente, de um crescimento galopante infinito.

Desafio para portos e influência nas rotas mundiais

Navios cada vez maiores permitem redução nos preços ou diminuição das emissões de gases poluentes. Mas o mundo não estava propriamente preparado para esta explosão da dimensão dos navios porta-contentores. Basta recordar que o Canal do Panamá, mesmo quando concluídas as obras de alargamento, não poderá ser atravessado pelos maiores navios que hoje navegam os mares. Só o Canal da Nicarágua, caso o projecto vá realmente adiante, poderá ser navegado por navios como o MSC Oscar.

O desafio é também gigantesco para os portos a nível mundial. É verdade que estes navios não foram propriamente construídos para escalar muitos portos numa única viagem (estão mais pensados para as grandes rotas e para escalar os grandes portos mundiais, como se vê no caso do MSC Oscar, integrado no serviço MSC Albatross que liga a Ásia ao Norte da Europa) mas se vermos o exemplo dos Estados Unidos da América, onde nenhum porto tem capacidade de calado para receber um navio das dimensões do MSC Oscar (e até mais pequenos), percebe-se que a realidade portuária mundial não estava proprimente à espera de um aumento tão galopante da dimensão destes navios. Na América já se trabalha nisso e o porto de Norfolk por exemplo, deverá ser dragado a pensar nesta nova realidade.

Em Portugal, como se sabe, é o porto de Sines aquele que melhor está preparado para navios porta-contentores das novas gerações, quer em calado quer em capacidade de manuseamento em terra. Já hoje recebe navios com mais de 14 mil TEU’s, do Lion Service da MSC, com os seus fundos de 17,5m.

A próxima geração de navios terá capacidade para 21/22 mil TEU’s, com comprimentos de 427m, boca de 59m e calado até 16m. Há depois projetos para Ultra Large Container Ships (ULCS), para 24 a 25 mil TEU’s, previstos para 2021. E em 2030 pode chegar-se aos 30 mil TEU’s, com comprimentos de 520m, boca de 70m e calado de 16,5m. Porém, muitos especialistas acreditam que o limite máximo serão os 22 mil TEU’s, por razões técnicas e económicas. Estaremos cá para ver…

Fonte: Joni Francisco / CARGO Edições 

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