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Comer sarda é saudável mas está a tornar-se insustentável

Comer sarda é saudável mas está a tornar-se insustentável

O que é que as pescas na Islândia têm a ver com a saúde dos portugueses? Alguma coisa: a captura, nas águas geladas do Norte, de grandes quantidades de sarda pode a prazo ser um problema para quem opta, por cá, por este peixe barato e saudável.

Rica em ácidos gordos ómega 3, essa espécie (Scomber scombrus) acaba de ser retirada de uma lista que a organização britânica Marine Conservation Society (MCS) mantém com peixes que se pode comer à vontade, sem preocupações quanto à sua sustentabilidade. As sardas estão a ser pescadas acima do que seria desejável, daí o conselho da organização: por ora, evitem comê-las.

Segundo a MCS, o que está a acontecer tem a ver com uma combinação entre factores naturais e a ganância humana. As populações de sardas do Atlântico Nordeste estão a mover-se mais para Norte, concentrando-se entre a Islândia e as Ilhas Faore, a norte da Dinamarca. Os peixes estão, segundo a MCS, apenas a seguir o seu alimento: outros peixes pequenos, crustáceos e lulas.

Mas ali têm sido alvo de uma pesca sem limites. “As capturas têm sido maciças”, disse ao PÚBLICO Samuel Stone, técnico da área das pescas na MCS. Em 1992, só a Islândia pescou 53 mil toneladas de sarda. Em 2011, foram 160 mil toneladas. “A situação está a tornar-se pior”, afirma Stone.

A estes valores somam-se as capturas de outros países da região, como a Noruega e o Reino Unido. E têm sido infrutíferas as negociações para estabelecer quotas consensuais de pesca entre todos.

Na avaliação da MCS, a população da espécie não está ainda em colapso. Mas como pode rapidamente caminhar neste sentido, a organização britânica decidiu retirá-la da sua lista de peixes sustentáveis, sugerindo que a sarda seja consumida apenas ocasionalmente, procedente de pesca artesanal ou de organizações pesqueiras com certificação de sustentabilidade.

Portugal pesca pouco
Embora venha de uma organização não-governamental, o aviso foi recebido como um balde de água fria no Reino Unido, onde o consumo de sarda está a aumentar, devido ao seu preço e benefício para a saúde. Em 2011, o chefe e apresentador de televisão britânico Hugh Fearnley-Whittingstall lançou a campanha “Mission Mackerel”, para estimular a substituição do bacalhau fresco pela sarda nas lojas de fish and chips. Agora, cancelou a campanha.

Em Portugal, a leitura é diferente. A sarda consta do menu nacional, mas está muito longe dos peixes mais pescados na costa portuguesa, como a cavala – o seu parente próximo – ou a sardinha. Portugal teve, em 2012, uma quota para a pesca de 5051 toneladas de sarda, mas capturou apenas 2000 toneladas.

O stock de sardas do Nordeste Atlântico é um só, o que significa que, em tese, o que se passa na Islândia pode ter alguma influência em Portugal. Mas há três áreas de desova distintas – no Mar do Norte, no Oeste e no Sul. E é nesta última, longe das disputas nas águas mais a norte, que estão as águas ibéricas.

De acordo com informações do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o stock de sarda do Atlântico Nordeste ainda está dentro dos limites biológicos de segurança. “Contudo, a pesca exercida pela Islândia e Ilhas Faroe tem levado a um excesso de capturas, acima do recomendado”, refere o IPMA, numa resposta escrita a perguntas do PÚBLICO.

Já ao longo da costa portuguesa, as populações de sarda, embora não muito abundantes, não têm estado mal nos últimos 20 anos, com um índice de pressão “baixo” e um nível “elevado” de capacidade reprodutora. “A sua abundância tem-se mantido estável ao longo do tempo”, diz o IPMA.

Mesmo num cenário hipotético em que a sarda tenha mesmo de deixar o prato, Portugal está bem servido da sua prima cavala (Scomber colias). O peixe é tão abundante, barato e saudável, que a Docapesca lançou no Verão passado uma campanha para estimular o seu consumo.

Gonçalo Carvalho, da Plataforma de Organizações Não-governamentais para a Pesca (PONG-Pesca), aplaude mas com cautela: “É uma iniciativa interessante, mas é preciso atenção para não haver sobre-exploração do stock”.

Fonte: Público

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