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Mais furacões e mais tempestades nos Açores entre 2070 e 2099 é o que prevê o Programa Regional para as Alterações Climáticas

Mais furacões e mais tempestades nos Açores entre 2070 e 2099 é o que prevê o Programa Regional para as Alterações Climáticas

Nos Açores, a médio e longo prazo há uma tendência clara de aumento de temperatura e também um ligeiro aumento de precipitação embora pouco significativo. No Inverno haverá uma tendência para aumento de precipitação enquanto no Verão haverá menos precipitação. Quanto à temperatura “é mais linear” embora haja uma tendência para um aumento de temperatura entre 2070 e 2099, onde haverá também uma tendência para a subida do nível médio do mar em cerca de um metro, mais furacões e mais tempestades.

O cenário foi apresentado ontem, em Ponta Delgada, por Gonçalo Cavalheiro e Hugo Costa da CAOS, responsáveis pela elaboração do Programa Regional para as Alterações Climáticas dos Açores (PRAC).
Hugo Costa, do CCIAM [Climate Change Impacts Adaptation & Modelling] e coordenador de adaptação do PRAC, explicou na prática algumas das vulnerabilidades a que poderão estar sujeitos os Açores e algumas medidas para as minimizar.
Nomeadamente, em relação à agricultura e florestas, o PRAC aponta que poderá haver vulnerabilidades ao nível da redução de área semeada em caso de seca, apontando o tabaco, as frutícolas e a beterraba como as culturas mais afectadas com as alterações climáticas, referindo também que o incenso será a espécie invasora com mais alterações.
Neste sentido, as medidas a adoptar será a monitorização da lagarta da pastagem, ao mesmo tempo que se deverá reavaliar as necessidades de armazenamento de água, e técnicas que aumentem a capacidade de retenção de água no solo.
Ao nível das pescas, as alterações climáticas poderão trazer vulnerabilidades ao nível da abundância de recursos, havendo a possibilidade de uma variabilidade interanual da abundância de recursos, e também havendo a destruição de estruturas com a possibilidade de aumento de furacões, tempestades e subida do nível do mar.
Para estas vulnerabilidades, Hugo Costa apresentou como medidas do PRAC a utilização de ferramentas de detecção remota para a identificação de áreas de ocorrência de peixe.
Ao nível das vulnerabilidades ao nível de serviços, pessoas e bens, o PRAC avaliou a possibilidade de ocorrência de ciclones, precipitação extrema, movimentos de terra e cheias. Como medidas para mitigar estas vulnerabilidades, o PRAC apresenta o reforço do uso do solo, a delimitação de áreas de risco e a utilização de sistemas de protecção e drenagem e recuperação de permeabilidade do solo, ao mesmo tempo que se deve apostar na sensibilização pública sobre os riscos.
Já ao nível do turismo, as vulnerabilidades assumem-se sobretudo ao nível dos atrasos ou cancelamentos de viagens aeroportuárias, derrocadas, degradação da biodiversidade e recursos naturais. Em termos de medidas a colocar em prática aponta-se um estudo dos impactos dos fenómenos que afectam a operacionalidade aeroportuária, bem como informação sobre alterações climáticas aos turistas. O Programa Regional para as Alterações Climáticas dos Açores avaliou dois cenários possíveis que foram estudados e onde foi avaliada a exposição e vulnerabilidade dos sistemas. “É sobre estas vulnerabilidades que vamos actuar”, explicou Gonçalo Cavalheiro.

Alterações climáticas são “uma preocupação” do Governo Regional

Os Açores, pela sua condição arquipelágica, apresentam um conjunto de características que os tornam mais vulneráveis às alterações climáticas. “Sobretudo pela concentração de infra-estruturas e pela localização de aglomerados populacionais nas zonas costeiras, o que faz com que estejam, naturalmente, mais susceptíveis a sofrer os efeitos de situações extremas como consequência dos fenómenos naturais do aquecimento global”, admitiu ontem a Secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo, Marta Guerreiro, na apresentação do Programa Regional para s Alterações Climáticas dos Açores (PRAC).
Mas a localização geográfica e climática da região também permite que possam ser um laboratório para “a implementação de políticas ambientalmente limpas” e a concretização de medidas de combate aos efeitos das alterações climáticas.
Marta Guerreiro assumiu que as alterações climáticas são “uma preocupação” o Governo Regional e a prova, disse, foi a criação já acordada do Observatório da Macaronésia para as Alterações Climáticas, que irá envolver os Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. Mas os Açores também contam desde 2011 com uma Estratégia Regional para as Alterações Climáticas cuja implementação será agora operacionalizada através do PRAC.
Marta Guerreiro garantiu que o Executivo regional definiu “como um dos seus objectivos a garantia da qualidade ambiental” e nesse sentido o PRAC assume-se como “um programa sectorial de ordenamento do território e apresenta elevada relevância estratégica, em termos regionais e sectoriais”.
O PRAC é um instrumento que o Governo Regional entende que vai “contribuir para a coesão territorial da região e para o reforço da segurança e protecção dos cidadãos e dos seus bens” sendo por isso uma “ferramenta de extrema importância”. O PRAC identificou e quantificou oportunidades de redução de emissões de gases, através de medidas de mitigação que conduzem a cenários de evolução e avaliação das mesmas.
Concretamente, o PRAC fez uma análise climática da Região através de cenários e projecções climáticas entre 2030 e 2050, elaborando também um estudo sobre as vulnerabilidades e respostas em vários sectores.
Com a apresentação deste Programa Regional para as Alterações Climáticas, a Região dá “mais um passo no planeamento adequado por via de mecanismos de intervenção ao nível do território”, sendo que a prioridade “é e será sempre” proteger e preservar o património natural e cultural dos Açores, concluiu a Secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo.

Fonte: Correio dos Açores

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