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Museu Marítimo de Esposende – da Memória ao Legado dos Homens do Mar

Museu Marítimo de Esposende – da Memória ao Legado dos Homens do Mar

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Situado no icónico e imponente edifício da Estação de Socorros a Náufragos de Esposende, sobranceiro ao Rio Cávado, o Museu Marítimo de Esposende já se tornou num equipamento cultural concelhio de referência e de visita obrigatória.

O imóvel encontrava-se num estado de acelerada degradação, quando, por ação direta da Associação Fórum Esposendense, foi totalmente restaurado para albergar o Museu Marítimo de Esposende. “A recuperação do edifício e a sua transformação em espaço museológico veio dar não só uma certa dignidade a uma edificação com mais de 100 anos, com forte história ligada ao Rio e ao Mar, através do Instituto de Socorros a Náufragos, como possibilitou, e julgo ser o mais importante, à comunidade concelhia e visitantes o conhecimento da história marítima de Esposende”, afirma Fernando Ferreira, Presidente da Associação Fórum Esposendense.

A sua abertura, a 20 de Julho de 2012, “confirmou e superou”, para Fernando Ferreira, todas as espectativas. Um cenário já esperado devido à importância que o equipamento representa para Esposende e principalmente pelo que veio proporcionar – um recordar de memórias (perdidas ou esquecidas) de uma atividade tão significativa do concelho, nomeadamente da primitiva comunidade marítima e piscatória. Desde a exposição inaugural: “ Do rio ao mar largo – a gesta esposendense”, que este equipamento tem vindo a despertar grande curiosidade junto da comunidade local e junto daqueles que visitam o concelho. Uma procura que se traduz, até ao momento, em cerca de 1500 visitas.

“Na maioria, os nossos visitantes saem satisfeitos deste museu e alguns, que nos visitam assiduamente, ficam sempre surpreendidos pela positiva”, salienta Elsa Teixeira, Técnica de Conservação e Restauro do Museu Marítimo, acrescentando que têm ainda a necessidade de “melhorar alguns aspetos, como a criação, em tempo útil, de guiões em inglês e francês para as exposições, cuja falta vai sendo colmatada com as visitas acompanhadas nestas duas línguas”.

Vasto Espólio e a sua História

O Museu detém, presentemente, mais de 1500 peças no seu vasto espólio histórico e cultural. Um elevado número, que só é possível devido à colaboração de famílias e particulares que se dispuseram a cedê-las, temporária ou permanentemente, para estudos e exposições. “Quando iniciamos este projeto tínhamos conhecimento da possibilidade de existirem muitos objetos nas mãos de particulares que justificavam plenamente esta nossa intenção de fundar o Museu e da eventualidade de cedência por parte deles”, assegurou Fernando Ferreira, realçando que “as instalações já se tornam pequenas para armazenamento, quer de peças em tratamento, quer de peças já tratadas, expostas e que necessitam de acondicionamento”.

Respeitante a esta última dificuldade, o Presidente do Fórum Esposendense revela que aguardam decisão por parte da Câmara Municipal para se encontrar um “espaço para albergar o Centro de Investigação do Mar, que entre outras valências terá um espaço destinado à inventariação, tratamento e preservação de todo todo o espólio que venha a ser encontrado”.

Associado ao trabalho de recolha existe ainda um profundo trabalho de gestão da coleção, no que diz respeito à identificação de peças, catalogação e o conhecimento das mesmas, sem esquecer a necessidade da sua constante conservação. “Para além das mostras em exibição, temos de manter o controle sobre todas as peças em reserva, saber onde elas estão e como estão exatamente. Por isso as mais de 1500 peças/documentos catalogados têm de ser regularmente revistos e inspecionados, retirados de armários, e limpos”, elucida a técnica de conservação.

Rede MUMAR-E

Atualmente o Museu Marítimo está integrado na Rede de Museus do Mar de Esposende (MUMAR-E), organismo que integra 2 museus (Museu Municipal de Esposende e Museu Marítimo) e que tem como missão desenvolver uma rede temática ligada à cultura e património costeiro em várias vertentes como, exploração marítima, pesca, lazer e tradição.

Segundo Elsa Teixeira, o protocolo celebrado com a Câmara Municipal em Maio de 2013 no âmbito do MUMAR-E veio proporcionar uma maior afluência de visitas por parte da comunidade educativa, instituições e associações concelhias. “ Sem esta integração muitas destas instituições não poderiam usufruir da visita”, explica, acrescentando que “tem-se vindo a verificar um aumento de visitantes de outras faixas etárias, como idosos e crianças, motivado essencialmente pela materialização deste protocolo”. Um aspeto muito significativo e positivo, para a mesma.

No domínio pedagógico, a técnica de conservação e restauro assegura que até ao momento têm conseguido responder a todas as solicitações. Afirma, porém, que o aumento da procura de escolas a quererem visitar o museu leva-os (Direção) a pensar criar um programa de serviço educativo que melhore a resposta atual e que permita desenvolver em simultâneo outras atividades para além das visitas guiadas ao museu, nomeadamente no Centro de Atividades Náuticas Sabseg e no Centro de Ecologia Marinha, também da responsabilidade do Fórum Esposendense.

Relativamente à necessidade de aplicação da taxa de ingresso, Elsa Teixeira esclarece que nunca foi a intenção do Museu selecionar visitantes, porém “como equipamento particular que é, a única forma de poder manter abertas as suas portas é através da cobrança do bilhete, que contribui para a manutenção, apesar de não ser suficiente”. “É necessário fazer face aos diferentes encargos, que se prendem com a manutenção do edifício, do elevador, limpeza e pagamento de colaboradores qualificados que executam todo o trabalho de bastidor, como a montagem das exposições, visitas guiadas, produção de textos, filmes e fotografias de apoio às visitas”, elucida Elsa Teixeira.

Naufrágios em Esposende

Apesar de haver ainda algum desconhecimento por parte da população, certo é que foram muitas as embarcações que encalharam e naufragaram ao longo da costa de Esposende. Acontecimentos importantes que estiveram na base de trabalho da atual exposição do Museu Marítimo – “ Naufrágios na Costa de Esposende”, patente ao público desde 30 Maio de 2014. Uma mostra expositiva que se propõe a contar um pouco da história do concelho e da sua ligação ao Mar e ao Rio, sobretudo relacionada com a atividade da pesca, recolha do sargaço e pilado, sem esquecer o trabalho mercantil.

Logo à entrada, o espaço museológico remete-nos para outros tempos, o olhar orienta-nos para as inúmeras peças expostas, relacionadas com vários momentos da temática, como o transporte de mercadorias e o encalhe de embarcações de grande porte; o salvamento de pessoas e bens; o naufrágio de embarcações de pesca e o sofrimento; a fé; os achados arqueológicos e, por fim, os comandantes de Esposende e os momentos de aflição.

No que se refere aos naufrágios, Elsa Teixeira revela que “muitas das peças em exibição são das embarcações de mercadorias Ada Ferrer, Harriet, Julian, Lagoa, Oldemburg e de uma caravela datada de 1548”. “Na memória de alguns habitantes está ainda o encalhe e socorro da embarcação Harriet, 1925, em S. Bartolomeu do Mar, cujos testemunhos orais persistiram no tempo, assim como algumas fotografias”, divulga a técnica, salientando ainda que “por ter sido um salvamento tão emblemático, onde os Bombeiros Voluntários de Esposende tiveram a oportunidade de utilizar o mecanismo de salvamento, através do moitão vaivém e da boia calção, são muitos os bombeiros desta corporação que ainda têm presente os exercícios de simulação feitos para testar este sistema, usado para salvamento até 2008”. Foi, segundo a mesma, esta memória que estimulou vários locais (nomeadamente amigos da associação e do museu, diretores, associados e funcionários) a “executar uma maquete de simulação deste momento para o a explicar aos mais novos”. “Nas várias visitas da comunidade educativa que realizamos, esta maquete é o ponto alto”, frisa.

Patente na mostra está também os ex-votos e diários de bordo, retratos dos imensos sustos passados no impetuoso mar, por capitães de grandes embarcações mercantes ou pescadores de uma catraia, e do seu apego à fé, única certeza durante uma tempestade. Não esquecendo os intitulados achados arqueológicos de Belinho, recolhidos no passado inverno 2013/2014, depois de colocados a descoberto pela agitação marítima.

Esta singular exposição pode ser visitada de terça a sexta-feira das 14h00 às 18h00, ao sábado das 14h30 às 18h00 e ao domingo mediante marcação prévia. Está encerrado ao público nos feriados 25 de Dezembro, 1 de Janeiro, domingo de Páscoa e nos dias 24 e 31 de Dezembro. Possibilita ainda visitas guiadas, que carecem de marcação prévia, através do número: 253 964 836. A taxa de ingresso tem um custo de 2€ para adultos e de 1€ para crianças, sendo que grupos a partir de três pessoas o bilhete custa 1,50€ para adultos e 0,50€ para crianças, dos 6 aos 12 anos. A entrada é, porém, gratuita para estudantes do Concelho de Esposende, mediante apresentação do cartão de estudante.

Reavivar a Construção Naval

Ainda que em início de estudo, a direção técnica do Museu Marítimo encontra-se já a preparar a próxima exposição, que terá como temática a Construção Naval em Esposende e Fão. Um tema extremamente enraizado nas origens do concelho e com muitas curiosidades acalentadas. De acordo com Elsa Teixeira, a próxima mostra “pretende reavivar e dar a conhecer a construção naval, como uma atividade de sublime importância a nível local, mostrar as grandes construções feitas no séc. XX e sobretudo entender os fatores que levaram os estaleiros ao quase total desaparecimento”.

Para criar uma narrativa e discurso expositivo forte é, contudo, e na perspetiva de Elsa Teixeira, necessário achar uma série de respostas a perguntas que surgem sobre o assunto, tais como, quem eram os grandes construtores nessa altura e quais são os que ainda temos; como eram construídas as embarcações do início do séc. XX; quais as suas tipologias, materiais e providência, entre outras. “São algumas questões que temos e que servirão de guião para a próxima exposição, que está agora em início de pesquisa”, explica, acrescentando ainda que espera, com a posterior mostra, voltar a superar as espectativas dos visitantes deste espaço museológico.

Torre da Memória

Para além do espaço expositivo, a visita ao equipamento oferece também uma subida à denominada Torre da Memória, a sua mostra permanente. Centenas de registos fotográficos dos marítimos inscritos na Delegação Marítima de Esposende, entre os anos de 1893 e 1962, bem como fotografias das comunidades locais do concelho, expostas nas paredes das escadas que acompanham a Torre da Memória. A procura pelo registo do possível antepassado tem-se revelado, segundo a direção do Museu, um êxito junto dos visitante, não descurando a esplendorosa vista panorâmica, sobre a cidade de Esposende e o Rio Cávado, que a subida proporciona.

Fonte: Esposende Acontece

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