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Pesca com palangre de fundo nos Açores causa “danos físicos” em corais

Pesca com palangre de fundo nos Açores causa “danos físicos” em corais

Um estudo científico realizado no mar dos Açores, com recurso a um submarino tripulado, revela que os corais de profundidade existentes na região foram afetados pela pesca com palangre de fundo.

Os resultados do estudo, efetuado pela Fundação Rebikoff-Niggeler, com sede na ilha do Faial, demonstram que os corais de profundidade coincidem com vários bancos de pesca da região, e que alguns deles apresentam mesmo “danos físicos” resultantes da atividade piscatória.

“As observações efetuadas durante os mergulhos do submarino LULA 1000 corroboram estes resultados e alertam para o facto de algumas das comunidades de corais mapeadas apresentarem sinais claros de danos físicos causados pela pesca com palangre de fundo [aparelho com diversos anzóis]”, adverte, em comunicado, Kirsten Jakobsen, uma das investigadoras da fundação.

No seu entender, esta “sobreposição” dos padrões de distribuição dos corais com os bancos de pesca demonstra a necessidade “urgente” da aplicação de medidas de gestão sustentáveis, que permitam proteger estas espécies marinhas.

Segundo explicou a investigadora, os estudos realizados até agora indicam a presença de “quase duas centenas” de espécies de corais nos mares dos Açores, o que comprova a sua “elevada diversidade” no contexto do Atlântico Norte.

“Estas comunidades suportam uma riqueza imensa de peixes e invertebrados que utilizam o habitat biogénico fornecido pelos corais para mecanismos de proteção contra correntes, alimentação, defesa de predadores, entre outros”, acrescenta Kristen Jakobsen.

Durante os trabalhos de investigação, realizados a bordo do submarino LULA 1000, um dos dez submersíveis tripulados existentes no mundo com capacidade para mergulhar até aos mil metros de profundidade, os investigadores descobriram também uma “zona de maternidade” de raias nos Açores.

“Em centenas de mergulhos que já efetuámos, nunca tínhamos observado um local como este”, destacou a investigadora da fundação, sublinhando a “extraordinária abundância” de cápsulas ovígeras por metro quadrado existentes no local”.

Esta espécie de raia de profundidade (‘skate’) é considerada ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e das várias espécies existentes em todo o mundo, apenas seis foram encontradas, até ao momento, nos Açores, o que demonstra que observações desta natureza “são raras e totalmente desconhecidas” na região, sublinha.

“Acreditamos que estes novos dados serão bastante úteis para políticas de gestão e recuperação deste recurso pesqueiro com vista à conservação das populações existentes no Nordeste Atlântico”, considera Kirsten Jakobsen.

A equipa da Fundação Rebikoff-Niggeler tem mergulhado com o submersível LULA 1000, único no seu género em Portugal, em múltiplos habitats do mar profundo dos Açores, desvendando e mapeando ambientes marinhos até então desconhecidos.

Desde o início da sua operação, em finais de 2012, o submarino já realizou cinquenta mergulhos nos Açores, nomeadamente nas vertentes das ilhas do Faial, Pico e São Jorge.

Fonte: Lusa

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