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Algas dos Açores serão transformadas em suplemento alimentar através de empresa única no arquipélago

Algas dos Açores serão transformadas em suplemento alimentar através de empresa única no arquipélago

A única empresa dos Açores especializada em microalgas pretende iniciar a sua actividade no ramo dos suplementos alimentares no último trimestre deste ano e começar a ter retorno económico de um investimento que totalizou 1 milhão e 600 mil euros, afirmou Luís Filipe Teves, um dos fundadores da empresa Algicel, Biotecnologia e Investigação Lda.
Para o efeito, está actualmente a ser instalada uma unidade industrial nos Portões Vermelhos, no concelho de Lagoa, que pressupõe, de acordo com o empresário, “uma capacidade produtiva de dois mil quilos de biomassa de uma microalga que se chama ‘haematococcus pluvialis’, destinada à produção de uma substância que se chama astaxantina, que é um potente antioxidante, aliás, o antioxidante mais potente que se conhece na natureza, no momento”.
No que diz respeito ao produto final, Luís Filipe Teves afirma que depois “esta biomassa é desidratada e embalada e depois é expedida para uma empresa que faz a extracção de óleo de resina num processo que é chamado CO2 Supercrítico”, adiantando que, por este motivo “não faz sentido investirmos nessa tecnologia atendendo à quantidade de produção envolvida”, e considerando que estas são “tecnologias consolidadas” que facilitam a subcontratação de outras empresas especializadas, o que torna o processo, “em termos económicos, muito mais interessante”.
A partir daí, o empresário salienta que o próximo passo, após a extracção desta resina, será a sua incorporação “com outros excipientes em cápsulas para suplementos alimentares” e respectiva preparação para a sua exportação, referindo ainda que neste processo a extracção da resina será feita, ao que tudo indica, por uma empresa alemã e a produção das cápsulas estará a cargo de uma empresa portuguesa.
Luís Filipe Teves adianta que “o ponto crítico do processo é a produção da substância activa”, ou seja, da referida biomassa extraída a partir das microalgas que, afirma, são de dois tipos e foram isoladas na costa da freguesia de Santo António e na costa da Povoação, referindo ainda que estas estripes têm sido alvo de vários ensaios na Universidade dos Açores”, onde actualmente decorrem também, tendo como objectivo a tentativa de “replicar essas algas em grande escala, num sistema de fotobiorreator fechado para evitar a contaminação com outras microalgas e com outros microrganismos como bactérias e fungos”, tornando este num “processo produtivo muito controlado e que permite maximizar a produtividade e a concentração de astaxantina”.
De acordo com o empresário, este é um processo que decorreu de um trabalho de investigação feito com a Universidade dos Açores e com a Direcção Regional de Ciência e Tecnologia, de 2007 a 2011, “do qual se partiu para um projecto de investimento que contou com alguns percalços ao longo do caminho, porque foi muito difícil arranjar o financiamento, mas finalmente conseguimos desbloqueá-lo”, afirmou.

 

Algas do arquipélago podem ser aproveitadas para vários sectores industriais

Contudo, de acordo com Maria do Carmo Barreto, a criação de empresas viradas para a cultura e transformação de microalgas será, para já, um caso raro, uma vez que nos Açores “temos empresas principalmente viradas para o leite e, neste caso, precisamos de um tipo de empresa diferente por implicar um conhecimento da parte científica mas também conhecimento da parte empresarial”.
Neste sentido, a investigadora e Professora da Universidade dos Açores afirmou ainda que, apesar de não considerar as empresas açorianas “desinteressadas” neste assunto, na actualidade poderão existir oportunidades para os doutorados que saem da Universidade dos Açores em investirem nesta área “com o apoio de alguém ou com o apoio do Governo Regional”, afirmou aquando da apresentação do projecto INTERREG MACBIOBLUE.
De acordo com Maria do Carmo Barreto, este projecto surgiu de uma série de outras iniciativas relacionados com “o aproveitamento de algas para fins medicamentosos e outro tipo de finalidades”, pretendendo que as algas que existem nos Açores sejam utilizadas para diferentes fins, incluindo a saúde, a agricultura e a aquacultura.
Neste sentido, o trabalho desenvolvido pelas investigações da Universidade dos Açores está dirigido para a procura de “compostos das algas que ajudem a combater o envelhecimento, principalmente ao nível da pele, mas também que ajudem a combater determinadas doenças como o cancro ou doenças infecciosas”, referindo ainda que a ideia “não é darmos cabo deste recurso, é sim fazermos cultura de algas e maricultura para as podermos utilizar nas suas diversas finalidades”.

 

Canárias também desejam renovação das indústrias através da algas

Na apresentação deste projecto marcaram lugar várias entidades de investigação das Canárias como a Fundación Instituto Canario de Investigación del Cáncer, com o intuito de “levar a cabo acções demonstrativas que provem que um produto ou um processo pode ser aplicado à indústria”, afirmou Rafael Zárate, considerando que “estes processos são efectivos, são inovadores e poderão ser transpostos para a indústria posteriormente, incrementando o potencial das economias”, tanto nos Açores como nas Canárias, na Madeira ou em Cabo Verde que, por pertencerem à macaronésia, possuem entre si características muito semelhantes como a insularidade e a biodiversidade “neste caso de macro e microalgas”.
Contudo, Rafael Zárate afirma que apesar de nas Canárias “o território e a população serem maiores do que aqui nos Açores”, as Canárias necessitam também “de inovação, novos métodos na indústria e, sobretudo, de nova indústria que aproveite o recurso marinho das algas”, sendo no entender do investigador considerado que o desenvolvimento de estudos como este constituem o “primeiro passo para conseguir concretizar estes objectivos”.
Em termos práticos, Rafael Zárate refere que “há empresas que se aproveitarão directamente, sobretudo a indústria salina, onde se pretende que o sal tenha uma melhoria nutritiva misturando o sal com as algas”, afirmando depois que este projecto é importante também “na indústria da aquacultura onde a fabricação da ração será importante para alimentar os peixes, tendo em conta que as algas também seriam um nutriente importante para os peixes”, sendo este um cenário possível de “trasladação para os Açores, que tem uma indústria e uma biodiversidade semelhante às que encontramos nas Canárias”.
No que diz respeito à viabilidade económica deste tipo de exploração, Rafael Zárate refere que “não está estudado o potencial económico que poderá trazer às empresas, porque o objectivo deste projecto é comprovar cientificamente que é útil e possível” utilizar as algas na indústria.

Fonte: Correio dos Açores

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