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Descoberta nova microalga na Poça da Dona Beija com mais dois registos únicos nas Galápagos e no Chile
Investigadora espanhola descobre uma nova microalga na Poça da Dona Beija com mais dois registos únicos nas Galápagos e no Chile.
Depois de colaborar durante alguns anos com alguns dos investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-A) da Universidade dos Açores, Cristina Delgado, investigadora espanhola, dedicou-se ao estudo da biodiversidade das microalgas conhecidas por diatomáceas em ambientes termófilos, começando assim por recolher amostras em vários locais com águas termais nos Açores e na Península Ibérica.
O projecto de investigação em causa está relacionado com uma bolsa de pós-doutoramento da referida investigadora, e garantiu aos Açores uma descoberta única até ao momento, quando as análises laboratoriais feitas às amostras colhidas da mais antiga poça das águas termais da Dona Beija revelaram a presença de uma microalga desconhecida até ao momento pelos investigadores especializados nesta área.
Assim surgiu a Platichthys furnensis, associando a sua origem ao Vale das Furnas, e embora seja ainda cedo para descartar a possibilidade de esta microalga existir também noutros locais do mundo com as mesmas características, a realidade é que a “dinâmica e a ecologia desta espécie”, bem como o seu estatuto de conservação é ainda desconhecido, conforme indica o estudo publicado no passado mês de Janeiro na revista científica Botanical Science.
Desta equipa de investigadores faz também parte o investigador e professor da Universidade dos Açores, Vítor Gonçalves, que explicou ao Correio dos Açores que esta é uma descoberta importante em termos da biodiversidade local e património natural da Região, pois revela a singularidade e especificidade destas ilhas também ao nível dos microrganismos.
Assim, explica o investigador, no que diz respeito ao género Platichthys,“só existem mais dois registos em todo o mundo. Há géneros que têm centenas de espécies e uma elevada dispersão, mas a Platichthys só tem três: a Platichthys furnensis, a Platichthys krammerie a Platichthys darwiniana, esta última descoberta nas Galápagos e a outra descoberta no Chile, as duas no Hemisfério Sul, muito próximas uma da outra, e depois nos Açores, no meio do Atlântico Norte”.
Por coincidência, a microalga das Galápagos foi encontrada num registo fóssil de um lago salgado – não se observou organismos vivos – e a outra foi descoberta numa fonte termal no Chile, num habitat semelhante à Poça da Dona Beija. A nova espécie agora descoberta, “embora partilhe algumas características com as suas congéneres do Hemisfério Sul, é morfologicamente diferente”, explica, adiantando ainda que este género de diatomáceas só foi descoberto recentemente, sendo que o referente estudo foi publicado em 2015.
No que diz respeito à descoberta nos Açores, Vítor Gonçalves realça que a microalga em questão, a Platichthys furnensis, foi encontrada apenas num local, sobre as rochas da poça original da Dona Beija, e que quando foi vista pela primeira vez ao microscópio os investigadores perceberam de imediato que lidavam com algo que “não era conhecido”, embora esta não tenha sido uma questão fácil de colocar à comunidade científica.
“Não foi propriamente uma questão fácil. Mesmo entre os nossos pares, investigadores e especialistas deste tipo de algas não houve grande consenso, todos concordam que é uma espécie nova mas ninguém sabe muito bem onde a colocar. Para nós era evidente desde o início, mas não foi evidente para todos. Finalmente conseguimos chegar a um consenso e foi possível publicá-la. Neste momento é Platichthys furnensis, um nome dado por Delgado, Gonçalves e Almeida, os três autores da espécie”, adiantou o professor universitário.
Este debate gerou-se porque, conforme explica, este é “um grupo de algas relativamente pouco estudado dentro das diatomáceas”, mas, neste caso em especial, depois de vista num microscópio electrónico que permitiu ampliar as células entre 15 mil a 20 mil vezes, os investigadores verificaram que estas microalgas tinham “uma forma muito característica e pouco comum”.
Por outro lado, Vítor Gonçalves explica que esta categorização não é fixa, tendo em conta que depois da análise de dados genéticos referentes à mesma microalga “pode ser que alguma coisa venha a mudar e que deixe de ser Platichthys, porque neste tipo de organismos tão pequeninos, com detalhes tão minuciosos, às vezes é difícil identificá-los usando apenas critérios morfológicos”.
Uma das particularidades deste grupo de microalgas observada apenas através do microscópio é a presença de uma fenda na sua parede celular – rafe – através da qual a célula liberta um muco que lhe permite aderir às pedras e ao mesmo tempo deslocar-se para trás e para a frente, sendo o principal objectivo o de “se alimentarem e procurarem melhores condições de luz no habitat”.
Já no que diz respeito à reprodução destas microalgas esta é, na maior parte dos casos, uma reprodução assexuada. No entanto, sempre que as algas estão sujeitas a stress ambiental começam a reproduzir-se de forma sexuada, embora este processo seja “algo raro”, salienta Vítor Gonçalves.
“Neste grupo de microalgas, que são maioritariamente unicelulares (compostas por uma única célula) vemos numa população indivíduos com tamanhos muito diferentes. Quando as células se dividem cada uma dá dois indivíduos, mas uma das células filhas é sempre mais pequena que a célula mãe. Então, quando se dividem uma célula é igual à materna e a outra é mais pequena (…).
Ao fim de dezenas ou centenas de divisões, as gerações mais novas são muito mais pequenas do que a geração inicial. Quando atingem um tamanho crítico, entram em reprodução sexuada. Juntam-se duas células e formam uma célula nova que começa a aumentar de tamanho, e, quando forma a nova parede, já é maior do que as células progenitoras”, explica.
Neste momento, tendo em conta os vários projectos em desenvolvimento no CIBIO-Açores, a Universidade dos Açores encontra-se “a montar uma rede de colecções de microalgas na Macaronésia, com o objectivo de desenvolver a biotecnologia azul”, fazendo assim com que montasse o seu banco de microalgas e cianobactérias (BACA) que conta, neste momento, “com mais de 600 estirpes isoladas e mantidas vidas, em laboratório, na universidade”, diz Vítor Gonçalves, salientando que estão “em preparação algumas publicações novas” neste domínio.
Fonte: Correio dos Açores