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As conservas estão na moda

As conservas estão na moda

Aquela que é uma das mais antigas indústrias portuguesas dá cartas nas exportações e seduz o mercado interno com o selo gourmet. Não fosse a falta de sardinha e tudo seria um mar de rosas.

A maior parte dos clientes são turistas, mas temos cada vez mais portugueses. Vêm a primeira vez, experimentam uma conserva de qualidade e voltam para comprar. Há uma reconciliação com as conservas nacionais.” É assim que Sara Costa caracteriza a clientela da Loja das Conservas, na Rua do Arsenal, aberta em Lisboa há um ano. Promovida pela Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP), esta “montra” é um bom barómetro da cotação das conservas portuguesas no mercado.

Tal como na loja, o setor atravessa um bom momento, com as exportações a darem saltos sustentáveis, sobretudo nos últimos quatro anos, e o mercado interno a descobrir o selo “gourmet” num produto antes desprezado. “Hoje, começa-se a perceber que a conserva é mais do que uma solução de recurso”, observa Sara Costa.

As conservas estão na moda. O sucesso lá fora – os franceses já as valorizam há muito – espevitou o mercado interno, embora as exportações sejam ainda o grande motor. O setor atingiu níveis de vendas idênticos aos verificados na I Guerra Mundial, que era até há bem pouco o grande marco dos conserveiros. Conquistou um  terceiro lugar no ranking das exportações, depois do vinho e do azeite, e ultrapassou ligeiramente as cervejas. O seu peso no PIB nacional deverá andar à volta dos 3%, logo abaixo do calçado (3,5%).

Na última década, a indústria – que continua a caracterizar-se por uma gestão marcadamente familiar – sofreu grandes transformações. “As fábricas aproveitaram fundos comunitários para se modernizarem, renovaram as linhas de produção, investiram na higiene e na esterilização, diversificaram produtos, apostaram na apresentação da embalagem e no seu design”, resume Castro e Melo, secretário-geral da ANICP. Recuperou-se a patine das latas de antigamente. “Reformaram-se as apresentações, mas os produtos já existiam. Não se comunicava era bem…”, observa Manuel Ramirez, 44 anos, administrador de uma empresa há 160 anos na mesma família. E as conserveiras mais pequenas, que trabalham praticamente só para exportação – como a La Gondola ou a Pinhais – começam a olhar para o segmento gourmet do mercado interno com mais atenção, atendendo à mais-valia de estarem presentes nas mercearias finas. “Andamos há três ou quatro anos sozinhos nestes mercados.”

Mas o nicho gourmet começa a abrir o apetite até aos grandes industriais. É o caso da Freitas Mar, que inaugurou em março do ano passado, em Olhão, uma unidade só para produtos de gama alta, sobretudo de atum e cavala, destinados essencialmente a Itália. “Há mercado na Europa para este produto, que não se importa de pagar o preço.”

E se esta indústria está bem, estão bem outras a ela associadas: a dos óleos e azeites (estes cada vez mais virgens, extravirgens e biológicos), das latas, das embalagens de cartão, dos plásticos (que começam a ser uma alternativa à lata), e dos transportes. Já no pescado, consome-se toda a sardinha e atum do nosso mar, vai-se comprar a outros mares além-fronteiras, e começa a atacar-se outras espécies, como cavalas, lulas, polvo, e até o bacalhau, estrela que ameaça ter sucesso neste universo.

Fonte: Visão

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