Social
Barco abatido junto ao contentor de lixo na Manhenha! : O Pico desambientado

Barco abatido junto ao contentor de lixo na Manhenha! : O Pico desambientado

Na ilha do Pico é costume dizer-se que a Secretaria Regional do Ambiente (SRA) passa o ano inteiro deitado à sombra, de braços cruzados, a ver a urze crescer.
Parece fazer sentido.
Do que vou conhecendo, em demoradas deslocações ao Pico, constato que a política ambiental, por estes lados, é semelhante à das outras ilhas: “nem faz, nem sai de cima”.
Onde a SRA deveria actuar, não se mexe. E onde não deveria mexer, actua com uma fúria agressiva que até mobiliza populações contra si.
Depois da vergonhosa casmurrice que fizeram na Fajã do Calhau, em S. Miguel, não me espanta que tanta incompetência ambientalista se expanda por estas ilhas fora. 
A última “maçoirada” com marca registada da SRA está a seguir o seu calvário na zona balnear do Pocinho, lugar do Monte, freguesia da Candelária. 
Trata-se de um dos lugares mais bonitos da fabulosa orla costeira picoense, transmitindo uma serenidade e contemplação que só os frequentadores e apreciadores destas paragens sabem usufruir. 
A SRA resolveu interferir da pior maneira, com um ordenamento execrável, tornando-o numa paisagem agressiva e brutal, colocando pedregulhos incaracterísticos, tão duros como as cabeças de quem inventou tal projecto. 
As fotos do meu amigo Jorge Laranjo, o primeiro subscritor de uma petição que corre na Internet para salvar o Pocinho, são elucidativas. 

Pedregulhos incaracterísticos da SRA 
O Pocinho, zona da fúria destruidora da secretaria regional do Ambiente
A gravidade é tanto maior porque se trata de uma zona protegida do Pico e Património da Humanidade. Este é o exemplo em que a SRA faria bem deixar-se ficar à sombra dos vinhedos, inspirando-se numa angelica.
Exemplo contrário, em que a SRA deveria mexer-se mais depressa, é na conservação dos trilhos. 
Alguns dos mais famosos trilhos do Pico, também na orla costeira, estão no abandono há anos.
Dou aqui o exemplo, com as minhas humildes fotos, do trilho entre a Engrade e a Manhenha, na Ponta da Ilha, numa extensão de dois quilómetros.
É um dos trilhos mais procurados pelos turistas, mas que levam com a porta no nariz quando lá chegam, devido ao perigo de desmoronamento em zonas que há muito deveriam ter sido recuperadas pela preguiçosa SRA. 
A entrada do trilho pelo lado do Farol da Manhenha desmoronou-se e está intransitável, o mesmo acontecendo à entrada pelo lado da Engrade, onde uma escadaria, também desmoronada, oferece perigo para quem não conhece a zona. 

À entrada do Farol: isto é um trilho? 
A escadaria desmoronada da Engrade.
A meio deste trilho existe algumas das mais belas enseadas e piscinas naturais da costa sul, chamadas apropriadamente “Céu de Abraão”.
É um lugar escarpado, cujo acesso só os nativos conhecem, que bem merecia – aqui sim – uma intervenção no sentido de se criar uma escadaria ou trilho até ao mar. 

“Céu de Abraão” inacessível 
E termino com um insólito ambiental.
O Governo Regional, como sabemos, é rápido a atribuir subsídios a quem abater embarcações de pesca.
O problema é que se deve ter esquecido de precaver, na legislação, o que fazer dos resíduos do abate.
Um pescador das Lajes não teve meias medidas.
Serrou o barco em três partes e colocou-as junto a um contentor do lixo no centro da Manhenha!
Já vi viaturas do Ambiente e dos serviços camarários a circularem no local várias vezes, mas o “monumento” continua lá, em paz e serenidade.
Como tudo no Pico… 
Barco abatido junto ao contentor de lixo!

Autor: Osvaldo Cabral

Fonte: Correio dos Açores

Deixe um Comentário