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Chaminés hidrotermais descobertas no fundo do mar perto de Washington alertam para as desconhecidas profundezas dos oceanos
O fundo do mar ainda é um “perfeito desconhecido” e apenas cerca de 10% de todo o relevo dos fundos marinhos é conhecido por investigadores. É mais conhecida a superfície lunar do que propriamente as profundezas dos oceanos que cobrem cerca de dois terços da superfície do planeta.
Por isso continuam a aparecer novas revelações de estudos feitos recentemente, como a descoberta de centenas de chaminés hidrotermais no fundo do mar perto de Washington e cujas descobertas foram publicadas a 14 de Abril online na revista Geochemistry, Geophysics, Geosystems e divulgadas pelo site Livescience.
O estudo, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey [The Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI)], dá conta de mais de 500 chaminés numa zona de 14 quilómetros de comprimento e dois quilómetros de largura.
Os cientistas do MBARI examinaram as chaminés com o D. Allan B, um AUV (veículo submarino autónomo) amarelo em forma de torpedo, que mede cerca de 5 metros de comprimento e capaz de mapear com um sonar de feixe múltiplo com uma resolução de 1 metro, de acordo com o estudo. Este veículo submarino autónomo já tinha realizado pesquisas no Segmento Endeavor em 2008 a partir do veículo de pesquisa Atlantis e outras três pesquisas com o veículo Zephyr em 2011, permitindo aos cientistas criar o mapa cobrindo cerca de 62 quilómetros quadrados.
Os autores do estudo contaram 572 chaminés com mais de três metros de altura, distinguindo-as de outras características da paisagem. A maioria das chaminés tinha menos de 8 metros de altura, embora a mais alta se estendesse a 27 metros acima do fundo do mar.
A maioria destas chaminés não estava activa e apenas 47 chaminés do Segmento Endeavor expeliam líquido super aquecido por magma nas profundezas da Terra.
Descoberta recente nos Açores
Esta descoberta vem dar conta que muito ainda falta descobrir e mapear, por exemplo ao largo dos Açores onde ainda em 2018 foi descoberto um novo campo hidrotermal, no âmbito da expedição científica Oceano Azul, organizada pela Fundação Oceano Azul em parceria com a Waitt Foundation (de protecção dos oceanos) e a National Geographic Pristine Seas (projecto para salvaguardar zonas intactas dos oceanos), e em colaboração com a Marinha Portuguesa através do Instituto Hidrográfico, o Governo Regional dos Açores e a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) com o ROV “Luso”.
Este novo campo hidrotermal situa-se a 60 milha da ilha do Faial, a apenas 570 metros de profundidade, no monte submarino Gigante situado na Dorsal Médio-Atlântica, numa cordilheira submarina onde as placas tectónicas americana e euroasiática se afastam.
O novo campo hidrotermal, agora chamado Luso, apresenta-se com duas grandes chaminés activas; fluidos com temperaturas entre 50oC e 65oC; várias pequenas chaminés inactivas; chaminés constituídas por argilas ricas em metais (ferro e óxido de manganês); várias espécies de corais de profundidade e de crustáceos associados à chaminé mais activa e conta com a presença de lava basáltica recente em zonas adjacentes.
De acordo com a Fundação Oceano Azul, criada com o objectivo de “reaproximar Portugal do mar”, o programa “Blue Azores” assentava numa parceria com a Fundação e a Fundação Waitt a três anos para a promoção, protecção e valorização do mar dos Açores. E assim conseguiu com a descoberta, a 16 de Junho de 2018, do novo campo hidrotermal Luso e de jardins de corais e esponjas de profundidade, bem como alguns recifes rochosos não costeiros.
Em Agosto de 2018 o Campo Hidrotermal Luso foi alvo de um estudo mais aprofundado por parte da equipa dedicada aos ecossistemas de profundidade da Expedição Oceano Azul que contou com a colaboração da equipa científica da francesa TRANSECT, recolhendo com um ROV amostras biológicas, geológicas, amostras da estrutura das chaminés para identificação de microrganismos e várias amostras de água e fluidos hidrotermais.
Esta expedição permitiu perceber que este novo campo hidrotermal tem características únicas e com elevada importância biológica, geológica e química.
Entretanto, em Setembro de 2019, o Governo Regional dos Açores declarou o mais recente campo hidrotermal descoberto na Região como área marinha de protecção total. Ou seja, passou a ser interdita a pesca na zona envolvente ao Luso, localizado no monte submarino Gigante, localizado entre as ilhas das Flores e do Faial. Aquela área com cerca de 55 quilómetros quadrados, vai ficar protegida das actividades da pesca, preservando-se assim este ecossistema para a investigação do mar profundo.
Outros campos hidrotermais e montes submarinos
São conhecidos oito campos hidrotermais profundos no mar Português ou em mar reivindicado por Portugal no processo de alargamento da plataforma continental ao largo dos Açores, como é o caso da fonte hidrotermal Rainbow, que se situa a uma profundidade de 2.300 metros e a 40 milhas para além do limite da Zona Económica Exclusiva dos Açores, ou seja fora de jurisdição Portuguesa.
Mas o primeiro campo hidrotermal a ser descoberto ao largo dos Açores, numa expedição luso-francesa, foi o Lucky Strike em 1992, que é a maior área hidrotermal activa conhecida, com 21 chaminés activas, dispersas por 150 quilómetros quadrados. Os fluidos hidrotermais atingem temperaturas da ordem dos 330 °C, e apresenta uma fauna distinta das restantes fontes hidrotermais da Crista Médio-Atlântica, que é predominantemente rica em mexilhões e espécies associadas.
Seguiu-se o Menez Gwen, descoberto em 1994, que se caracteriza por um vulcão de 700 metros com um diâmetro de 17 quilómetros, com fluidos hidrotermais, com temperaturas próximas dos 280 °C que emergem de várias chaminés activas, a uma profundidade de 850 metros.
O Rainbow foi descoberto em 1997, o Saldanha que passou a ser conhecido em 1998, depois o campo hidrotermal Ewan que foi descoberto em 2006, o Seapress que foi descoberto em 2009 e o campo hidrotermal Moytirra em 2011. Todos situados na Dorsal Médio-Atlântica.
Há ainda os montes submarinos mais destacados situados na Crista Médio-Atlântica, o Banco Princesa Alice situado a 90 km a sudoeste da Ilha do Pico e o Banco D. João de Castro, localizado entre as ilhas de São Miguel e Terceira.
Há ainda o Banco Submarino Mar da Prata, ao largo de São Miguel, e o Banco Condor, a 17 quilómetros da ilha do Faial, e o Arquipélago Submarino do Meteor, em especial o monte submarino Grande Meteor, e o Gigante faz parte de um complexo de montes submarinos, que a Norte apresenta o Gigante e a Sul um monte chamado de 127.
O hidrotermalismo submarino muito tem apaixonado os investigadores e do seu conhecimento tem-se permitido avanços ao nível da ciência, seja das comunidades biológicas que habitam naquelas condições extremas de falta de luz, baixa temperatura, pressão elevada e abundância de elementos tóxicos para a maior parte dos seres vivos; seja do conhecimento das fontes de energia usadas por aquelas comunidades que são químicas, em oposição à fotosíntese. O estudo destas comunidades de vida em condições extremas entusiasma os investigadores para saberem mais sobre a origem da vida na Terra.
Fonte: Correio dos Açores