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FIM DA QUOTA DO “PATUDO” DEIXA ALGUNS BARCOS SEM DINHEIRO PARA O GASÓLEO

FIM DA QUOTA DO “PATUDO” DEIXA ALGUNS BARCOS SEM DINHEIRO PARA O GASÓLEO

Os armadores da pesca do atum manifestaram ontem, junto do ‘Correio dos Açores’, profundo desagrado no porto de Ponta Delgada perante o anúncio de que foi atingida a quota de cerca de 5.100 toneladas de ‘patudo’ e que, a partir de segunda-feira não podem descarregar esta espécie em portos açorianos. Desta quota, 4.700 toneladas foram pescadas nos mares dos Açores e as restantes cerca de 300 nos mares da Madeira e um valor residual em Portugal continental.
Mestre Luís, da embarcação ‘Baía da Horta’, – que estava ontem a descarregar ‘patudo’ em Ponta Delgada -, considera “um erro muito grande” o estabelecimento de uma quota de ‘patudo’ tão baixa para a Região. “Não se consegue viabilizar a safra atuneira com esta quota. Há barcos que nem conseguem pagar o gasóleo com o atum que pescaram”, afirma.

O mestre defende que, “no mínimo, a Região deveria ter uma quota de patudo acima das sete mil toneladas”.

‘Patudo’ a passar e não há ‘bonito’

O desagrado dos armadores e pescadores é, sobretudo, porque ainda existem cardumes de atum ‘patudo’ nos mares da Região e, a partir da próxima semana, ficam proibidos de o apanhar. E, desde que começaram a pescar o atum ‘em mancha’, as capturas desta espécie têm vindo a aumentar de tal forma que foi necessário aumentar a quota nos últimos anos.
A contestação acentua-se porque, sem poderem apanhar ‘patudo’, também não estão a avistar cardumes de atum ‘bonito’ que permitam safar a época de pesca até ao final do ano. Todos são unânimes em considerar que, este ano, há pouco atum ‘bonito’ nos mares do arquipélago.
O barco ‘Regresso Futuro’ descarregou ontem em Ponta Delgada 31 toneladas de atum ‘patudo’ e alguns exemplares tinham 130 a 140 quilos. Os pescadores venderam o peixe acima dos 40 quilos a 3,25 euros o quilo. Apenas 1.300 toneladas de peixe tinham menos de 40 quilo por exemplar e este peixe foi vendido a dois euros o quilo. “Foi o preço mais alto que conseguiu, este ano, por atum nos Açores”, afirma o mestre Elias.
No total, ‘Regresso Futuro’ já capturou 200 toneladas de atum mas, mesmo com esta quantidade de peixe, não conseguiu rendimento “para safar a safra”, isto porque o peixe “tem estado barato”.

“É pouca quota para muito barco”

Mestre Elias é um dos principais contestatários à definição de uma quota para o atum nos Açores. “É pouca quota para muito barco”, afirma.
É também apologista de que a Região deveria obter junto da Comissão Europeia uma autorização de quota entre as sete e as oito mil toneladas de ‘patudo’ por ano.
Acentuou ao jornalista que, se houvesse isco vivo em Abril, Maio e Junho nos Açores, a quota do ‘patudo’ tinha “rebentado” no início de Julho. Nestes meses, teve mesmo que ir buscar chicharro à Madeira para servir de isco na pesca do atum nos mares dos Açores.
Meste Elias também não é muito apologista de que a quota do atum seja nacional. É verdade que as capturas no Continente português são residuais mas, a propósito, fala de notícias de que em Portugal continental contou-se quota de espadarte como se fosse de atum ‘patudo’, o que diminuiu a possibilidade de pesca nos Açores daquela espécie.

Também mestre Eusébio, da embarcação ‘Pérola de Santa Cruz’, tinha descarregado ontem atum no porto de Ponta Delgada e preparava-se para uma última tentativa de capturar ‘patudo’ para descarregar segunda-feira num porto açoriano. 
Tal como os mestres Elias e Luís, Eusébio contesta uma quota de atum ‘patudo’ tão reduzida. Em sua opinião, como se pratica nos Açores e Madeira o método de pesca de ‘salto e vara’, “não deveria haver limite de quota para o ‘patudo’ tal como sucede para o ‘bonito’”. Mas, a haver quota, prossegue, “ela nunca poderá ser inferir a oito mil toneladas. Todos querem mais quota”, até porque “cada vez há mais barcos e a quota é sempre a mesma”, concluiu.

Governo dos Açores negoceia em Bruxelas aumento da quota

O director regional das Pescas, do Governo dos Açores, Luís Costa, compreende o desagrado dos armadores e pescadores e anuncia que está a negociar, há cerca de um mês, junto da direcção geral da União Europeia, um aumento da quota de patudo na Região para aplicar ainda este ano. 
As diligências têm sido feitas junto de Espanha. Os espanhóis cedem quota de ‘patudo’ aos Açores por troca com espécies de que já esgotaram a quota e Portugal ainda não a atingiu. Luís Costa acredita que, durante a próxima semana, “poderá ter boas notícias” para os armadores e pescadores de atum da Região.
O director regional da Pescas realça, por outro lado, que o Governo dos Açores e investigadores açorianos estão a diligenciar junto do ‘ICCAT – Instituto de Conservação do Atlântico’ um aumento da quota do atum ‘patudo’ para os Açores a aplicar nos próximos anos, isto porque é este organismo que sugestiona à Comissão Europeia o estabelecimento de quota de atum para os vários países da União Europeia.
Luís Costa considera “óptimo” se fosse concedida à Região uma quota de oito mil toneladas de ‘patudo’ mas não acredita muito nesta possibilidade porque o histórico de capturas desta espécie de atum no arquipélago fica muito aquém do desejado por armadores e pescadores.

Fonte: Correio dos Açores in ACPA

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