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Açores // Polvos-malhados: inesquecíveis mas difíceis de ver!

Açores // Polvos-malhados: inesquecíveis mas difíceis de ver!

No último inverno foram encontrados na costa da ilha do Faial, 4 polvos-malhados, pelo mergulhador José Luís Piedade, que é sem dúvida o recordista em encontros com esta espécie nos Açores. Estes exemplares foram apanhados à mão em apneia e entregues no Aquário de Porto Pim. Os 2 que apanhou em novembro passado apresentavam um comportamento de aparente confrontação, ou provavelmente de acasalamento, dado que o exemplar mais pequeno poderia ser uma fêmea. A fêmea encontrada em dezembro passado trazia uma caranguejola (Dromia marmorea) presa nos braços.
Esta espécie de polvo, que é facilmente identificada pelo seu padrão cromático alaranjado-avermelhado com manchas brancas, é também conhecida pelos pescadores pelo nome de polvo-bravo, em virtude das características afrodisíacas que lhe são atribuídas, ou ainda por polvo-ladrão.

Aspetos da taxonomia e biologia:
Até 2005 os polvos-malhados tinham o nome científico de Octopus macropus, mas a partir dessa altura passaram a designar-se por Callistoctopus macropus, em virtude duma revisão taxonómica, que passou este tipo de espécies para outro género. Ambos os géneros têm duas fiadas de ventosas nos braços, presença de glândula da tinta, o braço reprodutor (hectocótilo) é o 3º da direita, que é mais curto que o seu par, mas diferem noutros aspetos.
Em Octopus, o padrão cromático é mosqueado, o número de filamentos branquiais externos é menor (6 a 11), os braços têm um comprimento moderado (3 a 5 vezes o comprimento do manto), os braços dorsais (1º par) são os mais curtos de todos, nos machos há ventosas que são muito maiores que as restantes e a lígula (extremidade) é curta (1,2 a 2,1% do comprimento do hectocótilo).
Nos Callistoctopus, o padrão cromático é avermelhado acastanhado, exibindo, quando incomodado, as características manchas brancas, há maior número de filamentos branquiais externos (10 a 15),os braços são muito longos comparativamente ao manto (5 a 8 vezes), os braços dorsais (1º par) são os mais longos e espessos, as ventosas são sempre proporcionais e a lígula é maior (4,5 a 8% do comprimento do hectocótilo).
Ambos os géneros (Octopus e Callistoctopus) têm em comum o facto de as fêmeas fazerem posturas dos ovos em esconderijos rochosos, pendurando os “cachos” de ovos ao teto e cuidando deles (limpeza e ventilação) até à eclosão das larvas, não se alimentando durante esse período, no final do qual acabam por perecer. As larvas são pequenas e têm vida pelágica, dispersando-se por esta via durante várias semanas até darem origem a novos juvenis que vivem sobre o fundo.
A nível mundial são conhecidas atualmente perto de uma dúzia de espécies de polvos-malhados (Callistoctopus), com o característico padrão cromático, a maioria da região do Indo-Pacífico, muitas delas ainda não estão completamente descritas.

Registos anteriores nos Açores:
Embora esta espécie de polvos tenha sido assinalada nos Açores em meados do séc. XIX, o primeiro registo de um indivíduo data de 1887. A ocorrência desta espécie é esporádica, passando-se vários anos sem que sejam registados. Todos estes exemplares foram encontrados a baixas profundidades com exceção de um exemplar apanhado a maior profundidade numa armadilha. Em 1991 foram descritas as ocorrências de 3 indivíduos apanhados em anos anteriores. Posteriormente foram registadas novas ocorrências, seja por apanha ou simples avistamentos

Considerações finais:
É de esperar que com o aumento do mergulho turístico esta espécie passe a ser mais avistada nas costas dos Açores em virtude de ser uma espécie que dificilmente passa despercebida, quando exibe o seu típico padrão cromático malhado.
Curiosamente a ocorrência desta espécie nos Açores tem passado despercebida na documentação técnica. Mesmo nas revisões mais recentesconsideram que esta espécie (Callistoctopus macropus) vive no Mediterrâneo e costa nordeste do Atlântico (NW de África) com algumas presenças na costa americana e Caraíbas, sem mencionar a sua ocorrência nos Açores. Segundo outras fontes, trata-se de um complexo de espécies externamente muito semelhantes, mas a verdadeira identidade das populações americanas precisa de ser esclarecida.
Assim, será curioso saber se estes polvos dos Açores têm mais afinidades com os polvos-malhados do Atlântico NE (C. macropus),ou com as populações da costa NE americana e Caraíbas.

Para saber mais clique aqui.

Foto: Polvo-malhado (Callistoctopus macropus) com o característico padrão cromático, fotografado em 15/11/1998 em Porto Pim, Faial. Autor: © Jorge Fontes/ImagDOP/UAz.

Fonte: João M. Gonçalves / blogue Achados do Mar dos Açores

 

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