Social
Relatório de acidente com o navio Gilberto Mariano na ilha do Pico – Falta de manutenção dos cabeços apontada como principal causa

Relatório de acidente com o navio Gilberto Mariano na ilha do Pico – Falta de manutenção dos cabeços apontada como principal causa

O Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos (GPIAM) publicou hoje no seu site o relatório da investigação do acidente ocorrido a 14 de novembro de 2014 a bordo do navio da Transmaçor, Gilberto Mariano, em São Roque do Pico e que vitimou José Norberto.

Este relatório foi elaborado pelo Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos (GPIAM), o serviço da administração central do Estado que tem por missão investigar os acidentes e incidentes marítimos, com a maior eficácia e rapidez possível, visando identificar as respetivas causas, elaborar e divulgar os correspondentes relatórios, promover estudos, formular recomendações em matéria de segurança marítima que visem reduzir a sinistralidade marítima e assegurar a participação em comissões, organismos ou atividades, nacionais ou estrangeiras.

Com a classificação de “muito grave”, o documento conclui que “a causa direta da quebra do cabeço se deveu à ocorrência de um esforço pontual e significativo da tração dos cabos do navio sobre o cabeço derivado de uma solicitação brusca induzida ao navio pela ondulação que se fazia sentir ao longo do cais.”

Como fatores contributivos para o acidente determinam a “a ausência continuada de manutenção (aos longos dos mais de 30 anos de existência e trabalho dos cabeços) por parte da empresa Portos dos Açores, S.A. aos equipamentos de amarração implantados nos cais dos seus portos, em particular no porto de S. Roque”.

“A localização da fratura parcial anterior existente no cabeço que comprometia em muito a sua capacidade de resistência ao esforço de tração exercido pelos cabos durante a parte final da manobra de atracação da popa do navio à rampa; O posicionamento incorreto dos cabeços para utilização pelos novos navios Ro-Ro (Gilberto Mariano e Mestre Simão) que, de uma forma muito mais intensiva, desde março de 2014 passaram a demandar este porto e a ter de utilizar o cabeço em causa para a sua amarração obrigando ao uso de cabos de comprimento mais curto que o adequado e a exposição à ondulação vinda do alto, a que os navios atracados no cais do porto de S. Roque estão sujeitos, numa janela compreendida entre as direções NNW e E, e que entra no porto correndo ao longo do cais sem que haja amortecimento significativo da energia transportada pelas ondas”, são outros dos motivos que podem ter estado na origem deste acidente fatal.

No entanto, a utilização pelo “Gilberto Mariano” de cabos exageradamente sobredimensionados (bitola) no seu esquema de amarração e a metodologia que tem de ser adotada pelos navios ferry para atracar à rampa, em particular quando existem já navios de comércio atracados ao cais, que obriga a que a aproximação ao cais se faça em marcha a ré para passar em primeiro lugar os lançantes de popa ao cais de modo a que se possa concluir a manobra em segurança”, são também referidos nas conclusões do documento.

O GPIAM faz, no final do relatório, algumas recomendações quer à Portos dos Açores, quer à Transmaçor.

À Portos dos Açores determina que sejam, de imediato, feitas “inspecções aprofundadas e a provas de resistência dos cabeços nos portos da sua responsabilidade, de forma a aferir qual a capacidade de trabalho destes, substituindo/beneficiando os necessários de forma a cumprir com as recomendações internacionais neste sentido – e nomeadamente, as especificações iniciais de construção destes portos -, de forma a garantir condições seguras para a sua operação”.

Recomenda ainda que a entidade portuária “desenvolva procedimentos a serem seguidos pelo seu departamento de manutenção, assim como pelos responsáveis dos cais, que garantam a manutenção regular dos equipamentos colocados à disposição dos navios para efetuarem as suas amarrações”.

“Em colaboração com as empresas de transporte regular de passageiros e viaturas, operando na Região Autónoma, faça um levantamento, das condições de atracação dos navios Ro-Ro Pax e outros de transporte de passageiros, de modo a criar condições seguras (incluindo, se for caso disso, a implantação de novos cabeços em posições adequadas e com capacidades específicas), para uma utilização regular e continuada dos vários portos dos Açores em que estes navios opera”, sublinham.

À empresa Transmaçor, S.A. o Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos recomenda que “de imediato, proceda à revisão dos esquemas de amarração dos seus dois navios Ro-Ro Pax, de modo a, garantindo a segurança do embarque/desembarque dos passageiros, deixar de utilizar cabos exageradamente sobredimensionados e a garantir um mínimo de movimento das rampas sem que tenham de utilizar a máquina para as estabilizar”.

É recomendação ainda que “no mais curto prazo possível, proceda nos vários portos de escala, à avaliação dos principais problemas que podem ocorrer durante as manobras de atracação e permanência dos navios aos cais, incluindo a definição das condições meteorológicas limites para a prática de um determinado cais/porto, de modo a aferir quais as formas mais indicadas de realização da manobras e de esquemas de amarração a utilizar.”

Foto: © Miguel Nóia

Fonte: Maria José Silva / Tribuna das Ilhas

Deixe um Comentário