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Reposição de combustível no Corvo gera discordâncias entre o governo e a EDA

Reposição de combustível no Corvo gera discordâncias entre o governo e a EDA

Com a destruição do porto das Lajes das Flores, a mais pequena ilha do arquipélago ficou com o acesso por via marítima mais condicionado e, consequentemente, o abastecimento de bens perecíveis e até combustíveis ficaram mais espaçados no tempo. Com o agravar das condições atmosféricas, no final do ano passado o Corvo estava uma vez mais em risco de ficar sem combustível. Os bens alimentares e perecíveis foram entregues a tempo do Natal e do Ano Novo, mas depois do período festivo era necessário repor também o combustível, que iria ser usado na central termoeléctrica do Corvo e para consumo doméstico.
Isso mesmo aconteceu na “Operação Corvo 2021” que envolveu vários meios nomeadamente do Governo Regional, através da Secretaria Regional dos Transportes, Turismo e Energia, envolvendo o Secretário Regional Mário Mota Borges e o Director Regional dos Transportes; a SATA; a Força Aérea; a Portos dos Açores; a Atlânticoline e, também, os TMG no transporte de parte das mercadorias encomendadas pelos Corvinos até essa data. De acordo com o Secretário Regional dos Transportes, Turismo e Energia, Mário Mota Borges, “a voz e a ajuda do Deputado Paulo Estêvão e do autarca José Manuel Nunes estiveram sempre presentes”, nesta operação.
Recorda o governante que “até à ocorrência do furacão Lorenzo [Outubro de 2019] o abastecimento da ilha era fundamentalmente feito a partir da ilha das Flores mas com a destruição do porto dessa ilha (porto das Lajes), passou a ser feito a partir da Horta, por companhia de barcos de transporte de mercadorias que opera no grupo central”. Mas são embarcações que, apesar de reduzida dimensão, apresentam algumas limitações relativamente a navegação oceânica, “necessária para ligar a Horta ao Corvo, e as características do porto do Corvo limitam seriamente a operação de navios oceânicos ou mesmo costeiros em condições de agitação marítima típicas do Inverno. Por essa razão, durante esta estação o acesso marítimo a esta ilha torna-se muito mais difícil e o abastecimento muito mais espaçado”.
As obras recuperação do porto das Lajes já estão a decorrer – desde o início de 2020 – mas a sua conclusão não está prevista ainda para este ano. E é por isso que Mário Mota Borges entende que se justificava que “tivessem sido criadas condições para aumentar substancialmente a autonomia da ilha do Corvo, em termos de combustível para a EDA e consumo local, assim como outros géneros não perecíveis, de forma a suportar eventuais períodos de Inverno sem ligações marítimas”.
O que é certo é que isso não aconteceu e apesar da necessidade de se assegurarem os combustíveis, “por razões desconhecidas as reservas de combustíveis não foram aumentadas de forma minimamente relevante e, no mês de Novembro de 2020, estavam já a níveis perigosamente baixos”, acrescenta o governante.
A situação era crítica e “poucos dias depois” de aprovado o Programa de Governo forma mobilizados aviões da SATA para o transporte de carga, aviões da Força Aérea para o transporte de combustível, assim como rebocador Pêro de Teive e o Cruzeiro das Ilhas, também para o transporte de combustível. O navio Espírito Santo (dos TMG) participou com o transporte de parte da carga geral esperada pelos Corvinos.

A operação
A “Operação Corvo 2021” começou em Ponta Delgada com o rebocador Pêro de Teive, da Portos dos Açores, a transportar 60 toneladas de combustível numa viagem de 36 horas até chegar à mais pequena ilha. Explica o Secretário Regional dos Transportes, Turismo e Energia que aquele rebocador, normalmente estacionado em Ponta Delgada, tem capacidade para transportar 60 toneladas de combustíveis e tem um calado compatível com o porto do Corvo “em dias de razoáveis condições de agitação marítimas”. Mas não havia nenhum outro rebocador que demorasse menos tempo de viagem? Mário Mota Borges explica que a Portos dos Açores indicou que “o rebocador estacionado na Horta, muito mais perto do Corvo, não estava operacional para aquela operação”.
Depois de uma viagem de 36 horas, foram descarregadas as primeiras 60 toneladas de combustível e depois o rebocador Pêro de Teive rumou à Flores onde carregou mais 60 toneladas de combustível para levar ao Corvo. No fim de semana em que decorreu a operação “foram descarregados no Corvo aproximadamente 160 toneladas de combustível”. Combustível que deixa agora os corvinos um pouco mais descansados, já que darão para uma autonomia de aproximadamente três meses.
Já em relação aos produtos perecíveis, a operação foi um pouco mais complicada e houve necessidade de recorrer aos aviões da SATA. Explica Mário Mota Borges que o navio Espírito Santo, depois de uma tentativa falhada no período do Natal, voltou ao Corvo no fim de semana de 9 e 10 de Janeiro “onde descarregou parte das mercadorias encomendadas pelos Corvinos, inclusive bens perecíveis”. Mas até à passada Sexta-feira, os TMG ainda não tinham voltado ao Corvo com a restante mercadoria. Por isso, “durante os dias da semana, nos voos regulares da SATA, são transportados os bens de primeira necessidade de que os corvinos necessitam”.

EDA diz que não pode acumular…
O Correio dos Açores questionou a EDA sobre o facto de não ter aumentado as reservas de combustível, tendo em conta os condicionalismos já referidos.
De acordo com comunicado da eléctrica açoriana, a capacidade total dos tanques da EDA no Corvo é de 61 metros cúbicos, o que permite uma autonomia de funcionamento da central termoeléctrica de cerca de 50 dias. Informa a EDA que o gasóleo usado na central termoeléctrica contém biodiesel, “pelo que a sua renovação deve ser feita de uma forma periódica para evitar a formação de depósitos, impedindo a sua utilização”. E acrescenta que “a experiência acumulada com este tipo de combustível, indica-nos que a sua renovação deve ser feita entre 2 a 3 meses”.
Além do reservatório de gasóleo da EDA, “o Fundo Regional de Coesão tem a seu cargo, no Corvo, uma capacidade de cerca de 25 metros cúbicos, que por vezes é utilizada pela EDA em casos de prolongada falta de abastecimento”, explica a companhia açoriana.
No entanto, a EDA ressalva que “a última vez que o Corvo foi abastecido com o gasóleo foi no dia 21 de Novembro de 2020, tendo a EDA recebido cerca de 24 metros cúbicos”, não fazendo referência à operação que decorreu entre 9 e 10 de Janeiro deste ano.

Não está pensado um novo porto
A realidade no Corvo é incontornável: “as graves limitações de operacionalidade do porto das Lajes das Flores, com obras de recuperação em curso e que continuarão durante todo o ano, as limitações de operacionalidade do porto do Corvo, a reduzida capacidade dos barcos contratados no início de 2020 para fazerem o transporte de mercadorias entre Horta e o Corvo e as condições de mar típicas no longo trajecto oceânico entre estas duas ilhas nos meses de Inverno”. Para já o aumento da autonomia de combustíveis foi ultrapassada mas o Governo Regional garante que está à procura de uma solução para “encontrar navio compatível com as necessidades e circunstâncias”.
Um novo navio parece estar nos horizontes do executivo, ao contrário de um novo porto proposto pelo deputado do PPM, Paulo Estevão, em alternativa ao Porto da Casa. “A questão de melhorar as condições de acostagem e descarga de navios durante o Inverno é pertinente. A questão da construção de novo cais ainda não foi ponderada”, explica o Secretário Regional dos Transportes, Turismo e Energia.

Rebocador São Miguel
A propósito do rebocador São Miguel, a operar no porto de Ponta Delgada, e de um requerimento da Iniciativa Liberal entregue na Assembleia Regional que dava conta da inoperacionalidade administrativa da mesma embarcação, Mário Mota Borges refere que “o rebocador do porto de Ponta Delgada, o São Miguel, está ainda operacional, embora acuse já o peso dos longos anos de produtiva vida”.
No entanto, refere o governante, “devido a estar no fim da sua vida útil, é natural que tenha de ser substituído por novo, de capacidade superior à do rebocador Pêro de Teive” que tem sido usado como alternativa ao transporte de combustíveis para outras Ilhas.

Fonte: Correio dos Açores / Carla Dias

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