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Central das Ondas do Pico passa a centro de inovação de tecnologias oceânicas e de interpretação das energias renováveis

Central das Ondas do Pico passa a centro de inovação de tecnologias oceânicas e de interpretação das energias renováveis

A Central de Ondas do Pico, criada em projecto em 1982, inaugurada em 1987 e restaurada em 1998, está encerrada desde Junho de 2016, mas a entidade que a gere já garantiu ao nosso jornal que vai voltar, em breve, a ser reactivada. 

O Governo Regional quer que a estrutura tenha um papel preponderante na investigação em torno da produção energética a partir do mar. Em declarações ao Correio dos Açores, António Sarmento, responsável máximo pelo Wave Energy Centre – Centro de Energia das Ondas, que explora a Central das Ondas no Pico, e que segundo o mesmo é “o bem mais valioso do WavEC, que fornece experiência de campo e actividades de monitorização importantes para a equipa do WavEC e investigadores convidados”, vai mesmo ser reactivada após a paragem.
“A central do Pico tem vindo a funcionar ao longo destes anos, cada vez fornecendo mais energia e trabalhando mais tempo. Apesar disso, a exploração da central tem custos que não são cobertos pela produção de energia, como é natural numa instalação protótipo” explica o responsável, acrescentando que “no entanto, a parte submersa da estrutura está muito desgastada devido a problemas de má qualidade da construção em 1998 e há riscos de sobrevivência a médio prazo. Por este motivo e por não ter havido anteriormente condições para reparar a central, a Direcção do WavEC decidiu encerrar a central e pedir instruções de como o fazer ao Governo Regional, à EDA e à EDP. Estas duas empresas eram as anteriores proprietárias da central e a elas compete assumir os custos de encerramento”.
Mais referiu ao nosso jornal António Sarmento, que “oportunamente o WavEC propôs ao Governo Regional dos Açores aproveitar a central do Pico para construir um centro de inovação de tecnologias oceânicas, articulado com um centro de interpretação das energias renováveis oceânicas” e foi com agrado que, ressalva, “recentemente o Governo Regional dos Açores mostrou interesse por estas ideias e a senhora Directora Regional de Energia veio agora publicamente confirmar que assim era e indicar que o Governo Regional está a estudar a forma de dar seguimento a esse interesse”.
Dada esta situação, o WavEC vai agora solicitar à EDA que reabra a ligação eléctrica à central, interrompida há cerca de um mês, para retomar o funcionamento da central como aconteceu até essa ocasião.

 

À procura de soluções para a reactivação e para ultrapassar o desgaste da infra-estrutura

“Nós pretendemos reactivar essa estrutura em pleno funcionamento, não numa óptica de produção de electricidade em exclusivo, porque a tecnologia que existe actualmente ainda é bastante imatura, com custos bastante elevados, mas sim na óptica de criar as condições necessárias para desenvolver uma zona de testes de soluções emergentes nesta área e, portanto, usufruir de todo este potencial também para investigação e desenvolvimento”, fez saber Andreia Carreiro, Directora Regional da Energia.
A responsável, que participou em Lisboa, na conferência “Energias Renováveis Oceânicas: uma estratégia industrial e exportadora”, disse ainda que o Executivo está, neste momento, a procurar as soluções quer para ultrapassar o desgaste a que a infra-estrutura esteve sujeita, quer para reactivar a central.
Em cima da mesa está ainda a possibilidade de criação de um consórcio capaz de dinamizar o lugar. “Neste momento a Central de Energia das Ondas carece de intervenção devido ao desgaste que teve ao longo dos anos e, neste momento, nós estamos seguramente a trabalhar nesse sentido. Estamos empenhados em encontrar as melhores soluções para tentar reactivá-la e pô-la em funcionamento, estamos a analisar diversos sistemas de incentivos em investigação e desenvolvimento tecnológico para assegurar essa reparação e, simultaneamente, pretendemos criar um consórcio capaz de a dinamizar com um espaço de interpretação, testes e demonstrações dessas funções tecnológicas associadas às energias renováveis oceânicas”, disse.

 

Um projecto com mais de 30 anos

A estrutura foi desenvolvida com base num projecto de construção elaborado por uma equipa liderada por investigadores do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, entidade que foi o responsável científico, em colaboração com a Queen’s University of Belfast (Reino Unido) e o University College Cork (Irlanda). A equipa beneficiou de financiamento de um projecto europeu, o primeiro financiado pela Comissão Europeia nesta área, reforçado com um co-financiamento da EDP, da EDA e do Estado Português, através do programa Energia.
A vertente de construção civil, incluindo o projecto, coordenação e fiscalização da obra de engenharia civil foi realizada pela Profabril, cabendo à PROET a coordenação e fiscalização do equipamento, à Efacec o fornecimento do equipamento eléctrico e electrónico e à Marques Lda a construção civil. A caracterização do clima de ondas e a concepção do sistema de aquisição de dados foi feita pelo INETI. Os estudos realizados assentaram num trabalho intensivo de testes laboratoriais no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, complementados por estudos hidrodinâmicos e de dimensionamento da turbina conduzidos principalmente pelo Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico.
A turbina presentemente instalada no Pico foi construída por uma empresa britânica sob projecto aerodinâmico do IST, sendo o gerador e os restantes componentes eléctricos fornecidos pela Efacec.
Este projecto, com uma potência de apenas 400 kW, um dos poucos no mundo desta natureza, entrou em funcionamento no final do ano de 1999, surgindo então como o a primeira unidade a nível mundial a estar ligada à rede eléctrica de forma permanente. O funcionamento da central, de carácter experimental, foi dificultado pela forte ondulação no local e pela natural inexperiência na condução do equipamento.
Logo após a criação do WavEC Centro de Energia Offshore (então com o nome de Centro de Energia das Ondas), em 2003, este tomou a responsabilidade de recuperação da central, com apoio de fundos nacionais e de alguns dos associados do WavEC. Os primeiros testes em 2005 revelaram limitações técnicas da estrutura original do grupo turbogerador, que não foram possíveis de resolver inteiramente com o financiamento que tinha sido previsto. Contudo, a equipa envolvida neste projecto empenhou-se na melhoria das condições de operacionalidade da central, que conduziu ao aumento da sua produção no período 2006-2008.
A situação da Central do Pico agravou-se desde 2012, ano em que terminou o projecto Europeu Wavetrain2 que suportava algumas despesas com a Central do Pico, incluindo parte dos recursos humanos afectos ao projecto.

 

Progressos recentes e visão

Em 2013 foi possível financiar alguns trabalhos na Central do Pico através do projecto Europeu MariNET, que reúne 40 infraestruturas de teste Europeias relevantes para a energia dos oceanos. A central do Pico é uma das infraestruturas que integra este grupo, reconhecida como a única central em escala real, o que significa que a sua utilização por equipas que se candidatem a executar testes na Central pode ser financiada por este projceto. Em Outubro de 2013 a Central recebeu uma equipa de investigadores Irlandeses da University College Cork.
O ano de 2013 foi marcado por esforços de angariação de financiamento para a central, nomeadamente junto do Governo Regional dos Açores, no sentido de começar a trabalhar a possibilidade de submeter uma proposta de apoio à Central do Pico no âmbito dos fundos comunitários à região, nomeadamente propondo associar ao projecto um centro de interpretação e de teste na central do Pico e um centro para a tecnologia oceânica, que poderia prestar apoio conjuntamente ao Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores (DOP).
Em 2013, a EDA concedeu um donativo, no âmbito do mecenato científico, no valor de 50.000 Euros que foram utilizados para suportar parte dos custos com recursos humanos no local e actividades de operação e manutenção.

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