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Conserveira do Sul – O maná dos mares
O ditado português “filho de peixe sabe nadar” assenta que nem uma luva a esta empresa familiar. Implantada no Algarve, a Conserveira do Sul junta a tradição regional e o saber ao melhor peixe, apresentando-o em patés e latas de conserva que dão a volta a mundo.
“Esta fábrica é o fruto de uma vida dedicada ao trabalho.” Inscrita num azulejo colocado à entrada dos escritórios da Conserveira do Sul, esta frase diz muito sobre a história da empresa fundada em 1954, em Olhão, por António Jacinto Ferreira. Atualmente dirigida pelos seus herdeiros, a unidade conserveira é líder nacional no mercado dos patés e exporta para cerca de 15 países, mas mantém uma identidade própria, intrinsecamente ligada à tradição piscatória da cidade algarvia.
Ao chegar a Olhão, em 1918, António Jacinto Ferreira iniciou a atividade profissional numa pequena fábrica de peixe em salmoura, ganhando experiência para montar o seu próprio negócio. Em 1935, já existiam 37 fábricas de conservas na cidade, onde a pesca do atum era fonte de rendimento garantida. Ferreira comprou a mais antiga, a F. Delory, fundada em 1892 e conhecida como Fábrica Velha, e a partir desta constituiu, com os três filhos – António, Humberto e Jorge –, a Conserveira do Sul, que cresceu e se impôs numa época de forte concorrência. Com o passar dos anos, em virtude de fatores variados, o número de unidades conserveiras foi diminuindo na região. A empresa dos Ferreira, pelo contrário, não apenas sobreviveu às crises no setor, como progrediu, tonando-se uma das mais importantes do Algarve.
Espírito familiar
Quando Jorge Ferreira começou a trabalhar, aos 22 anos, foi já na chamada Fábrica Nova, ou seja, no estabelecimento concebido de raiz para a Conserveira do Sul e inaugurado em 1996. Localizado junto ao porto de pesca, integrado na nova zona Industrial de Olhão, o edifício azul e branco (construído de acordo com as normas vigentes para garantir o adequado tratamento tecnológico e higiénico dos produtos) reúne os vários departamentos da empresa. A estrutura fabril foi modernizada segundo um padrão contemporâneo, cujo nível se reflete na excelência dos produtos.
Formado em Gestão pela Universidade do Algarve, o olhanense Jorge tirou o curso superior em Faro, “para estar mais perto da fábrica”. “Não quis ir para Lisboa, sempre vivi muito a empresa e o legado do meu avô”, justifica. Atualmente com 39 anos, é diretor comercial da empresa administrada pelo primo Humberto Ferreira. Daniel, João Paulo e Ana Isabel, também primos, ocupam outros cargos de chefia. Um busto com a imagem do patriarca António Jacinto Ferreira permanece, sobranceiro, à porta da fábrica.
É com orgulho que Jorge fala sobre o espírito familiar mantido na Conserveira ao longo de quase seis décadas. “Apesar de termos passado por momentos muito difíceis em termos económicos, nunca houve despedimentos em massa. O que houve foi um redimensionamento gradual da empresa. Na década de 60, o meu avô empregava 300 pessoas. E uma das suas principais exigências era nunca falhar com os ordenados. Garantir os salários era um ponto de honra para ele”. Hoje, a empresa conta com 80 trabalhadores na totalidade, 65 na área de produção e os restantes nas partes administrativa e comercial. Existe uma política interna de gestão cooperacional. “Os nossos funcionários têm mais uma postura de colaboradores do que de empregados. Procurámos apoiá-los nos tempos de crise. E, quando é necessário, trabalhamos todos lado a lado. Eu também ponho a mão na massa”, afirma o diretor. Talvez seja por isso que em Olhão se fala da Conserveira do Sul mais como se fosse uma instituição do que uma empresa. “É um nome de referência.”
Processo de produção
Desde sempre vocacionada para aproveitar o que o mar diariamente lhe oferece de melhor, a Conserveira notabilizou-se pela qualidade e frescura do peixe usado nas suas conservas e patés. Apesar de ter modernizado o processo de produção, de forma a responder eficazmente às necessidades dos consumidores, cada vez mais exigentes e informados, não descurou os métodos tradicionais. Uma visita ao interior da fábrica permite-nos acompanhar o trajeto do pescado desde o momento em que entra no estabelecimento, depois de adquirido, ainda fresco, na lota, até àquele em que é embalado para ser distribuído nos postos de venda, já transformado em conserva. Na primeira etapa, o peixe é armazenado numa câmara de conservação, à temperatura de -5 ºC, de forma a assegurar-se a integridade da matéria-prima. Posteriormente, é levado para a sala de enlatamento climatizada, onde se procede ao descabeçamento e esviceração, lavagem e enlatamento. O enchimento, cozedura e adição de molho dependem de cada produto, mas todos estão sujeitos a um rigoroso controlo de qualidade e segurança.
Marca principal
Fora do Algarve, é possível que os consumidores não associem de imediato o nome da Conserveira do Sul às saborosas pastas de atum e sardinha servidas em muitos restaurantes do país. Mas se mencionarmos a marca Manná, o caso muda logo de figura. Trata-se da principal marca da empresa (as outras dão pelo nome de Júpiter, Consul e Mar do Sul), que lidera o mercado nacional de patés de peixe, com vantagem sobre as concorrentes La Gondola e Fidez. A Manná encontra-se nas versões sardinha, cavala, atum e camarão. Jorge explica que “o lançamento da pasta de cavala surgiu em virtude da escassez de sardinha, mas é difícil habituar o consumidor à mudança”. Já na área das conservas tradicionais (em que a Conserveira do Sul concorre com a Bom Petisco e a Ramirez), a produção estende-se ainda ao carapau e ao biqueirão e recorre a diversos molhos, como os de tomate, escabeche, picante ou limão.
A empresa produz ainda especialidades da linha gourmet: ovas de sardinha ou cavala e as afamadas barrigas de atum. Com uma apresentação mais requintada, estas foram selecionadas para o couvert do restaurante do Real Marina Hotel & SPA, unidade de 5 estrelas também sediada em Olhão. Contudo, segundo Jorge Ferreira, “os restaurantes, hotéis e lojas que podem dar-nos prestígio representam apenas 30% da faturação, ficando 60% nas grandes superfícies”. De salientar ainda que, em 2012, as exportações atingiram 20% do volume total das vendas da empresa, que já possui enorme prestígio a nível internacional.
Apostas para o futuro
A dinamização do mercado externo é, aliás, a maior aposta da Conserveira para 2013. “Queremos aumentar a margem de exploração na China e no Brasil. Esse é o nosso grande objetivo.” “A conserva portuguesa é muito conceituada lá fora e queremos aproveitar para nos expandir. Por exemplo, na Ásia – não apenas na China, como também na Tailândia e nas Filipinas – há neste momento grande apetência pelos produtos europeus. Pensamos inclusive em desenvolver produtos mais adaptados à culinária chinesa, como o uso de vegetais nas conservas.”
Também está previsto para breve o lançamento de uma nova linha de produtos: as conservas em frascos. “Não são inéditas em Portugal, mas são para nós. Um dos grandes males da nossa indústria é termos um produto cego, ou seja, precisamos recorrer a fotos na parte de fora das latas para que o consumidor identifique o que lá está dentro. Mas os olhos também comem… Ver ou não é um fator de compra, porque o primeiro impacto pode ser determinante para o consumidor. Sabemos que a visibilidade abre mercados. Existe uma categoria de consumidor que diferencia o produto pela apresentação. Então, a imagem tem que ser uma mais-valia. No ano passado, tivemos um pedido do mercado polaco nesse sentido e vamos dar continuidade ao projeto.”
Quanto à continuidade dos Ferreira à frente da empresa da família, é cedo para fazer previsões. “Os meus filhos e sobrinhos ainda são crianças. Há que permitir a liberdade de escolha”, afirma Jorge Ferreira, “não sabemos se a quarta geração vai ficar com esta herança. Mas quem vier, terá de ser por iniciativa própria. Havendo vontade, na Conserveira do Sul haverá sempre trabalho.”