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Harrison sobreviveu 60 horas no fundo do Atlântico
Cozinheiro de um barco que se afundou manteve-se a respirar numa casa de banho. Foi salvo por mergulhadores ao fim de 60 horas.
A história de Harrison Okene, um cozinheiro nigeriano de 29 anos, é a história de um “milagre”. É ele quem o diz, depois de ter sobrevivido ao afundamento do barco em que trabalhava. Durante dois dias e meio, escapou à morte graças a uma bolha de ar. Os restantes 11 companheiros morreram todos.
Tudo se passou em finais de Maio, mas a história só agora foi contada nos media mundiais graças à agência Reuters. Harrison Okene era cozinheiro num navio rebocador que estava ao serviço de uma companhia petrolífera a 30km da costa da Nigéria. A 26 de Maio, um temporal no Atlântico, com ondas gigantes, levou o barco a virar-se.
Seriam 4h50, segundo o cozinheiro, que estava numa pequena casa de banho no momento em que o navio começou a afundar-se. Dos 12 tripulantes, dez foram encontrados mortos, um continua desaparecido e Harrison foi salvo por dois mergulhadores sul-africanos, a 28 de Maio.
“Estava esfomeado, mas principalmente tinha sede. A água salgada levou-me a pele da língua”, recorda o sobrevivente, que classifica como um “milagre” o facto de ter escapado com vida. Quando se apercebeu que a água estava a invadir o interior do barco, Harrison forçou a porta de ferro da casa de banho e tentou escapar para um compartimento adjacente, onde três colegas foram levados pela água. “Estava ali, na água, no meio da escuridão total, a pensar que seria o fim. Sempre à espera que a água enchesse o compartimento, o que acabou por não acontecer”, descreve.
Sem conseguir chegar a uma saída, Harrison deixou-se ir com a corrente através de um corredor estreito até chegar a outra casa de banho, junto à cabine de um dos responsáveis do navio Jacson-4, que estava a trabalhar junto a uma plataforma da petrolífera Chevron. Foi nessa altura que Harrison sentiu o barco a aterrar no fundo do oceano. Para sua surpresa, acrescenta a Reuters, ele continuava vivo.
Vestindo apenas cuecas, o cozinheiro ficou aí um dia, segurando-se ao lavatório virado ao contrário para manter a cabeça fora de água. Depois, encheu-se de coragem e abriu a porta para o quarto, onde começou a desfazer os painéis da parede na esperança de poder usar um deles como jangada, prossegue a Reuters, que o entrevistou na sua terra natal, Warri, uma cidade no delta do Níger.
“Estava muito escuro. Não via nada, mas sentia que não estava ali sozinho, que havia ali corpos de companheiros mortos. Apareceram peixes que começaram a comê-los. Conseguia ouvi-los. Foi um horror.”
A Chevron enviou uma equipa de resgate para o local do acidente e, a 28 de Maio, Okene ouviu um martelo a bater contra o casco. Eram mergulhadores. “Ouvi: bum, bum bum. Mergulhei e encontrei um cantil, com o qual comecei a bater no interior do casco na esperança de que me ouvissem.” E ouviram-no.
A equipa de resgate forçou a entrada no barco afundado, e, de repente, Harrison viu a luz de uma tocha a passar no corredor junto ao quarto. “Reentrei na água e dei um toque com a mão no mergulhador. Acenei-lhe quando ele se virou. Ele estava chocado.”
Equiparam-no com uma máscara e botija com ar comprimido, vestiram-lhe um fato de mergulho para o tirarem dali. Às 19h32 desse dia, voltou à superfície. A empresa para a qual trabalhava diz que o navio estava a 30 metros de profundidade. Ele acha que estava no fundo do Atlântico.
Apesar de a história dele ter acabado bem, Harrison não se livrou ainda das angústias. “Quando estou em casa, às vezes parece que a cama em que durmo se está a afundar. Dou um salto e grito.” Diz que não sabe se algum dia regressa ao mar. “Não sei o que impediu a água de encher aquele quarto. Eu só chamava por Deus. Ele salvou-me. Foi um milagre.”