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O renascer da apanha de algas

O renascer da apanha de algas

A promoção de actividades ligadas ao mar que garantem rendimentos complementares aos pescadores, como a apanha de algas, foi abordada na Sexta-feira na Vila de Rabo de Peixe. A sessão decorreu na sede do Clube Naval de Rabo de Peixe, numa organização consertada pela Associação de Pescadores Graciosenses e a Associação de Pescas de Rabo de Peixe.

Para consolidar esse crescimento, o Presidente da Associação de Pescadores Graciosenses esteve em São Miguel, para consertar com a Associação de Pescas de Rabo de Peixe, a data da realização de uma sessão de esclarecimento, reunião que decorreu na Sexta-feira, na sede do Clube Naval de Rabo de Peixe.
Lázaro Silva realçou que nessa sessão “pretendeu-se transmitir a nossa experiência na actividade na ilha Graciosa, que tem vindo a crescer e, quem sabe, conseguir novos apanhadores, porque consideramos que a apanha de algas marinhas poderá ser uma grande ajuda para a criação de rendimento extra em Rabo de Peixe”.
Ruben Farias, membro da Direcção da Associação de Pescas de Rabo de Peixe e Presidente do Clube Naval de Rabo de Peixe relevou, de igual modo, a importância dessa sessão de esclarecimento sobre a apanha de algas, entendendo que “a actividade que poderá constituir-se como uma mais-valia para o aumento do rendimento dos pescadores”.
A propósito recordou o projecto “Hominis Aqua”, desenvolvido pela Associação de Pesca de Rabo de Peixe em parceria com o Clube Naval de Rabo de Peixe, que visa a angariação de fundos para apoiar financeiramente dois objectivos: primeiro, financiar a alimentação e a aquisição de materiais escolares a parte de estudantes carenciados, filhos de pescadores – de forma a combater o absentismo escolar, o segundo, angariar fundos para financiar o licenciamento de pequenas embarcações de pessoas para a pesca/turismo – “de forma a criar rendimento complementar aos pescadores com menores rendimentos”.
A apanha de algas pode ser feita até aos 10 metros de profundidade, os apanhadores de algas passarão a ter uma licença e também um diário de apanha, fornecido pela Associação de Pescadores Graciosenses.

 

Realidades de outros tempos

Como apontamento histórico, sabe-se que sempre foi nas pescas que as nossas gentes encontraram abundante fonte de alimento do mar, que não precisa de estrumes ou adubos para que daí se tire maior proveito. E foi assim noutros tempos a apanha de algas Ágar-ágar para exportação foi uma boa fonte de rendimento.
Sobre o assunto, recolhemos o testemunho de dois cidadãos da Vila de Rabo de Peixe, acerca da realidade de um passado não muito recente, mas que em tempos foi exercida por muitos.
“A apanha de algas foi no passado uma grande ajuda na criação de rendimentos extra em Rabo de Peixe”, confere José.
Sem ter sido pescador a tempo inteiro, recorda que “os passeios ficavam ornamentados com algas que eram postas a secar, e que a apanha ocorria entre os meses mais quentes do ano”, ou seja, “entre Maio a Setembro”.
“Naquela altura, homens e mulheres dividiam esforços para tirar o melhor proveito das algas, que depois eram distribuídas por três centros de recolha, nomeadamente na Lagoa, Fajã de Baixo e Rabo de Peixe”.
“Mais disse que chegou a transportar mais de uma tonelada para esses centros de recolha”, acentuando que via com bons olhos o “regresso da apanha de algas que poderia funcionar como uma actividade complementar dos pescadores”.
Um outro testemunho refere que “a Avenida D. Paulo José Tavares era conhecida pelos seus passeios largos, onde as pessoas estendiam as algas para secar, actividade mais tarde proibida porque obstruía a via pública. Nessa altura”, recorda João, “e porque as multas eram caras, o esforço não compensava”.
“A Rua do Cemitério era conhecida como a «Cova da Moura» e era das principais vias da secagem das algas”.
O nosso interlocutor recorda ainda “que havia uma família inteira que se dedicada única e exclusivamente à apanha de algas. Vendia peixe e, no Verão só se dedicava à actividade”, conferindo que “a maioria dos elementos dessa família acabou por emigrar”.
Numa outra zona piscatória do porto “também havia muita gente que se dedicava à apanha de algas. Uns iam para o mar e outros ficavam perto da costa, a cuidar da apanha e do processo de secagem das algas”.

 

Apanha sustentável de algas

Se os Açores tiveram grande aproveitamento das algas marinhas no passado, certo é que sector esteve praticamente em vias de extinção, surgindo agora a Associação de Pescadores Graciosenses, que promove a apanha e arrojo de algas marinhas em várias ilhas dos Açores.
A actividade reiniciada há 3 anos pela Associação de Pescadores Graciosenses tem vindo a aumentar de ano para ano, que começou por exportar 16 toneladas em 2013 e 32 toneladas de algas no ano seguinte. Em 2015, os valores subiram para as 120 toneladas, sendo que as perspectivas para o corrente ano são ainda maiores.
Como curiosidade, registe-se que a nível mundial, a falta de Ágar-ágar Japonês, durante a II Guerra Mundial, possibilitou o aparecimento de uma indústria de Ágar-ágar portuguesa que chegou a ter expressão nas produções mundiais, devido à abundância e qualidade das algas portuguesas. No entanto, a incapacidade de diversificar, de apostar na qualidade, e a conjuntura internacional desfavorável, levaram ao desaparecimento desta indústria, restando hoje apenas uma empresa, a Iberagar – Sociedade Luso-Espanhola de Coloides Marinhos, SA.
Muito para além do conceito “melhor pesca – maior rendimento”, a apanha sustentável de algas “passa por assegurar que as algas devem ser cortadas e não arrancadas, pois só assim se conseguirá manter os stocks das mesmas”, como defende a investigadora Rita Patarra.
Da alga da Graciosa é produzido um produto muito específico chamado agarose, produzida pela IberAgar. As algas que esta empresa tem comprado na Graciosa são de qualidade e são por isso utilizadas para uma indústria muito específica de biotecnologia.

 

Rabo de Peixe e Calhetas regressam à apanha de algas

No porto onde se ergue o monumento do “Senhor dos Navegantes”, a pesca e os assuntos do mar são sempre temas fortes. Desta vez, o Clube Naval de Rabo de Peixe acolheu uma sessão de esclarecimentos sobre a apanha e arrojo de algas marinhas, na Sexta-feira.
A iniciativa conjunta da Associação dos Pescadores Graciosenses e a Associação de Pescas de Rabo de Peixe (APRAP) foi muito bem acolhida por parte dos pescadores daquela Vila, que compareceram em muito bom número na sede do Clube Naval.
Lázaro Silva partilhou connosco a sua satisfação por mais esta iniciativa. “Se conseguirmos incentivar com que as pessoas consigam fazer a apanha de algas aqui, acho que já poderá ser um bom começo para esta gente toda”.
Na sua intervenção, o Presidente da Associação de Pescadores Graciosenses falou da importância que a apanha de algas poderá ter na economia de Rabo de Peixe, como actividade suplementar de rendimento extra, falando ainda da sustentabilidade da actividade e de algumas regras que são impostas pela Região, no que diz respeito a licenças e ao funcionamento da lota para começarem a exercer a actividade”.
Mais disse, que “o que se vai praticar aqui é o que já se pratica nas restantes ilhas dos Açores, nomeadamente na Graciosa e na ilha Terceira, ilhas onde a apanha de algas tem conseguido já, números bastantes interessantes”.

 

Melhorar a qualidade de vida dos pescadores

Por falar em números, a apanha de algas foi reiniciada em 2013, pelas mãos da Associação de Pescadores Graciosenses, tendo a actividades alastrado às ilhas Terceira e São Miguel. Na ilha Terceira apanharam-se 3 toneladas em 2014 e 120 toneladas no ano passado. Em São Miguel, e no Porto Formoso, pesaram-se 7 toneladas.
Não menos satisfeito estava Ruben Farias, Presidente do Clube Naval de Rabo de Peixe e membro da Associação de Pescas de Rabo de Peixe, que reforçou que a sessão surgiu também “integrada no Projecto Hominis Aqua e que tem como objectivo complementar o rendimento dos pescadores”.
Com esta medida, e através do projecto Hominis Aqua, “a comunidade piscatória de Rabo de Peixe vai conseguindo criar rendimentos complementares, e alternativos, à pesca, contribuindo para a sustentabilidade dos stocks e melhorando a qualidade de vidas dos pescadores”, complementou.
Dentro destes objectivos, “promover a apanha de algas é fenomenal”, considera ainda, relembrando que “esta terra já teve grandes tradições na apanha de algas, faltando só um factor, ou seja, alguém que acompanhasse este processo de apanha para que haja sustentabilidade. Foi o que falhou e é isto o que queremos fazer aqui. Queremos que haja este negócio, que acreditamos que vai ajudar os tempos difíceis, de hoje, na pesca e que terá que ser feito com calma e cuidado. Portanto, mais do que uma casa cheia precisamos de uma casa bem composta, de pessoas que tenham a noção sobre o que é a sustentabilidade das pescas”.
Ruben Farias aproveitou a oportunidade para elogiar o trabalho desenvolvido pela Associação de Pescadores Graciosenses, ali representado por Lázaro Silva, que explicou com o devido pormenor, entre outras coisas, as condições da apanha de forma a manter a sustentabilidade das colheitas e o tratamento a dar às algas”. Para além de Ruben Faria e Lázaro Silva, este encontro que reuniu cerca de 20 pessoas, entre apanhadores e pescadores, contou ainda com a presença do Presidente da APRAP, Francisco Cabral.

Fonte: Correio dos Açores

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