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Projeto Fishmetrics – Gui Menezes desenvolve protótipo para medição de pescado

Projeto Fishmetrics – Gui Menezes desenvolve protótipo para medição de pescado

O investigador Gui Menezes e a  empresa Reverse Engineering têm desenvolvido, ao longo da última década, um inovador sistema de medição de pescado por si idealizado com soluções móveis e fixas a ser montado em lotas ou a bordo de navios.

O Fishmetrics permite a obtenção de medidas do pescado desembarcado, através da recolha de informação indispensável para a avaliação do estado de exploração dos recursos marinhos. Este sistema baseia-se na aquisição automática e processamento biométrico computorizado de imagens digitais.

 

Tribuna das Ilhas esteve à conversa com o investigador

Gui Menezes, natural do Faial, é doutorado em Ecologia Marinha e Investigador Auxiliar na Universidade dos Açores, no Departamento de Oceanografia e Pescas. As suas áreas de investigação são a ecologia marinha, em especial do mar profundo e montes submarinos, pescas, biologia e taxonomia de peixes demersais. A sua investigação incide maioritariamente na compreensão dos padrões e tendências de distribuição, abundância, diversidade e efeitos da pesca nas espécies demersais.

Segundo Menezes, “para se fazer a avaliação dos recursos pesqueiros é necessário muita informação sobre as espécies bem como a forma como os pescadores pescam”. O conhecimento do tamanho dos peixes capturados é “uma componente importante da informação necessária aos estudos que servem de base para a gestão dos recursos pesqueiros”.

“Conhecendo os tamanhos podemos conhecer as idades e, juntamente com toda a outra informação, obter estimativas de abundância e biomassa das populações exploradas, bem como da quantidade que podemos retirar anualmente de forma sustentável”, explica.

“A recolha destes dados é realizada nas várias lotas (ou a bordo dos navios de pesca). No caso dos comprimentos do pescado descarregado, a obtenção de amostras representativas para cada espécie é um processo moroso, dispendioso, muito artesanal (utilizam-se réguas para medir o peixe) e sujeito a inúmeros erros”, refere Menezes. Foi precisamente para tentar “encontrar uma forma que aumentasse a qualidade dos dados” que o investigador desenvolveu o Fishmetrics.

“A fotografia digital tornara-se uma tecnologia comum e a facilidade de manipulação e armazenamento das imagens encerrava um grande potencial a ser utilizado na recolha de dados de forma massiva e com grande facilidade”, conta.

 

Medição a partir de imagens

O Fishmetrics consiste na obtenção de imagens digitais das caixas de peixe a partir das quais é possível obter medidas precisas de qualquer coisa que esteja visível na imagem. “A partir do comprimento de uma barbatana peitoral, ou o comprimento de uma cabeça de uma determinada espécie é possível obter o comprimento total do animal, que é o que nos interessa”, explica.

 

“A solução que permite obter medidas de uma fotografia não é trivial, embora fosse uma técnica já conhecida dos engenheiros especialistas em tecnologia de visão e  com os quais nós temos vindo a trabalhar no desenvolvimento do sistema”, esclarece.

Menezes explica ainda que, “para além de não ser necessário manipular o peixe, os dados conseguidos têm menos erros e as imagens podem ser arquivadas podendo em qualquer momento ser acedidas de qualquer lugar onde se esteja”.

“Tudo funciona na Internet e tanto os medidores como a própria recolha das imagens podem estar em qualquer lugar. Isso é uma coisa fantástica. Podemos ter equipamentos a recolher dados no Corvo ou em Vigo e uma pessoa a trabalhar para nós na Índia”, conta, garantindo que, com este processo, “a qualidade e representatividade dos dados passa a ser incomparavelmente melhor”. Questionado sobre a importância da medição do pescado, o investigador revela que “para a população em geral esta solução não terá grande importância a não ser o facto dos dados recolhidos passarem a ter mais qualidade e isso poder contribuir para uma melhor avaliação e gestão dos recursos marinhos, que são, como se sabe, bens públicos”. Todavia, para a comunidade científica esta melhoria da qualidade dos dados será um grande benefício ao trabalho desenvolvido, melhorando “a confiança nas análises e o aconselhamento dado aos decisores sobre quais os níveis sustentáveis de exploração dos recursos, e isso é também importante e essencial para a classe piscatória”, afirma.

 

Do potencial à concretização de um projeto de negócios

O Fishmetrics foi desenvolvido nos anos 2006 e 2007. A primeira solução protótipo obteve “resultados excelentes quando comparados com a forma de amostragem tradicional”. Perante estes resultados, Gui Menezes decidiu concorrer ao Concurso Nacional de Inovação do BES e ao START, um concurso de ideias de negócio patrocinado pelo banco BPI, a que concorreram mais de cem projetos. O Fishmetrics venceu o concurso do BES, na área de Comércio e Serviços, e classificou-se entre os oito primeiros projetos no START.

Estes resultados trouxeram “confiança e alguns meios para avançar com a ideia de negócio”, no entanto, explica o biólogo, “por questões pessoais e profissionais houve um período em que a ideia de negócio ficou arrumada na gaveta”. “Mais tarde e motivado por algumas pessoas, a ideia foi retomada e em finais de 2013 avançou mais a sério com a elaboração de um estudo de viabilidade e uma candidatura aos sistemas de incentivos regionais”, revelou.

Inicialmente o projeto científico teve o apoio do Governo Regional através da Direção Regional das Pescas. Mais recentemente, o projeto empresarial está a ser desenvolvido com o apoio do sistema de incentivos SIDER.

Leia a reportagem completa na edição impressa do Tribuna das Ilhas de 6 de março de 2015.

Fonte: Susana Garcia / Tribuna das Ilhas

 

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