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Açores no rasto de minérios nas hidrotermais

Açores no rasto de minérios nas hidrotermais

A campanha oceanográfica MoMARSAT, chefiada conjuntamente pelo Ifremer e o l’Institut de Physique du Globe de Paris (CNRS/UPMC/ Université Paris Diderot-Paris 7/ Université de la Réunion), decorrerá até 23 de Julho na Dorsal Médio-Atlântica, ao largo dos Açores. A bordo do navio oceanográfico ‘Pourquoi Pas?’, o objectivo da missão é de recolher os instrumentos colocados há um ano para observar os sismos e as fontes hidrotermais do vulcão ‘Lucky Strike’ situado a 1700 metros de profundidade. A equipa científica embarcada vai em primeiro lugar recolher os instrumentos, recuperar os dados e de seguida tentar tornar mais permanente esta instalação que prefigura os observatórios do fundo do mar do futuro.
Nesta missão participa as investigadores do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, Ana Colaço e Daphne Cuvelier. A meio da missão haverá uma troca de cientistas e, nessa altura, embarcará a investigadora do DOP, Sílvia Lino. No final da missão haverá um dia dedicado ao projecto ‘BIOBAZ-NA’R, do qual fazem parte os investigadores Ana Colaço e Sílvia Lino. Nesse mergulho recolher-se-ão exemplares do mexilhão hidrotermal Bathymodiolus azoricus, que serão trazidos para o LAbHorta, com o intuito de se fazerem estudos imunológicos e fisiológicos em colaboração com o Centro de Biologia Marinha de Roscoff-CNRS (França). As campanhas ‘MoMARSAT’ integram-se no projecto ‘MoMAR’ , uma das componentes do projecto europeu ‘ESONET’, que tem como objectivo constituir uma rede de observatórios em meio marinho profundo. Vários institutos de investigação fazem parte deste projecto: Ifremer, IPGP, Universidade dos Açores, Universidade de Lisboa, NOC, Universidade de Bremen, o CNRS com lUEM, IOMP-LMTG e lUPMC/LOCEAN.
O objectivo destes observatórios é assegurar, em tempo real, o seguimento da dinâmica natural dos ecossistemas marinhos e identificar os factores que influenciam as variações do meio e da fauna.
A campanha ‘MoMARSAT 2010’ foi uma missão de demonstração. Foi uma experiência piloto inédita em contexto de alto mar. A proeza técnica residiu na transmissão em tempo quase real, de dados adquiridos a 1700 metros de profundidade, para um centro de investigação situado a vários milhares de quilómetros. Pela transmissão acústica e depois via satélite, os investigadores puderam seguir a actividade sísmica da zona, as variações da temperatura e das condições físico-químicas (através de medições de temperatura e oxigénio dissolvido), e observar a fauna tão particular em acção (todos os dias, uma imagem extraída de vídeo HD é transmitida).
As imagens quotidianas dos mexilhões hidrotermais permitiu observar um certo ritmo no deslocamento destes animais, assim como comportamentos de territorialidade ou agregação em algumas espécies. O objectivo dos cientistas é correlacionar essas observações com as variações das condições ambientais. Durante a campanha oceanográfica ‘MoMARSAT 2011’, os cientistas a bordo vão recolher todos os instrumentos, repará-los ou substitui-los se necessário, e depois voltar a colocá-los dentro de água. O objectivo é recolocar no mesmo local, para obter um ano suplementar de observações e aquisição de dados e compreender melhor o funcionamento do planeta Terra.
Existem 60 000 km de dorsais no planeta. Desde há mais de 30 anos, a comunidade internacional adquiriu um certo número de conhecimentos pontuais sobre estes ambientes extremos (e de difícil acesso), tanto sobre os aspectos geológicos como sobre o funcionamento dos ecossistemas de profundidade. Fazem falta, neste contexto, dados em contínuo que permitam estudar a dinâmica espacial e temporal. É conhecido que os ecossistemas hidrotermais são extremamente dinâmicos, que as fontes de fluido quente podem extinguir-se e reactivar-se, tendo impactos importantes na fauna que depende destas emissões. Os factores que influenciam essas mudanças está por identificar. Por exemplo, qual o impacto dos sismos nas saídas de fluido quente e a qual magnitude é que esses sismos terão impacto na fauna hidrotermal? Para elucidar várias questões há necessidade de um estudo temporal, um seguimento no tempo…
Um projecto como o ‘MoMARSAT’ participa também, de forma significativa, nos desenvolvimentos tecnológicos que permitirão pilotar, desde a terra, estudos em locais a vários milhares de metros de profundidade. Os dados adquiridos pelo observatório ‘MoMAR’ permitirão uma melhor compreensão do sistema hidrotermal na sua globalidade. Este tipo de projecto implica cientistas de várias disciplinas, pois o objectivo é uma melhor compreensão dos processos, as interacções e as variações de todas as componentes do ecossistema a diferentes escalas espaciais e temporais.
No futuro, um melhor conhecimento sobre o funcionamento dos ecossistemas marinhos de profundidade, fornecerão conhecimento chave para avaliar possíveis impactos de eventuais explorações de recursos minerais nos fundos oceânicos.

Fonte: Correio dos Açores

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