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Bacalhau sim, mas…
Já se sabe como são os clichés: factualmente exagerados, porém sempre com uma ponta de verdade. Por exemplo, os brasileiros pensam que os portugueses comem bacalhau todos os dias. Já nós achamos que a primeira coisa que um brasileiro pede quando aterra em Portugal, ainda antes de deixar as malas no hotel, é que o levem a um lugar para comer um bom bacalhau – se puder igualmente beliscar um Queijo do Serra com um tinto da Cartuxa, tanto melhor.
Na verdade creio mesmo que a obsessão é muito maior desse lado do Atlântico do que deste. Perguntar a um patrício se gosta de bacalhau é como perguntar a um dinamarquês se gosta de andar de bicicleta. O acto está de tal forma enraizado na sua cultura que a pergunta se torna redundante.
Em Agosto acompanhei dois jornalistas gastronómicos espanhóis por alguns restaurantes com estrelas Michelin de Lisboa e do Algarve. A determinada altura, um deles mostrou-se surpreendido por não constar em nenhum dos menus que degustámos um único bacalhau. Contudo, em três dos lugares – Belcanto, Feitoria (ambos em Lisboa ; e Ocean (no Algarve) – apresentaram um prato de sardinha. Pois bem, se há uma obsessão lusa, de norte a sul do país, eu diria que ela tem mais a ver com este peixe de sabor muito característico, do que com qualquer outro produto. E as razões são fáceis de apontar: o seu baixo preço, a ligação às festas populares, ao Verão e ao facto da sua disponibilidade se verificar sobretudo nesses meses, enquanto que o bacalhau se come durante todo o ano – ainda que o pico de consumo se verifique no Natal e na Páscoa.
Com isto não quero dizer que a banalização do consumo do “fiel amigo” tenha retirado ao português o prazer de o consumir. De todo. Diria mesmo que mais facilmente um governante enlouquecido declararia guerra aos Estados Unidos do que à Noruega, o nosso principal fornecedor do legítimo bacalhau gadus morhua. Contudo é sobretudo na ausência que revelamos a nossa paixão incondicional pelo bicho. Um mês fora do país e o portuga já suspira por um à Brás, um espiritual, um Gomes de Sá, ou uma das mil e umas maneiras de o confeccionar (que, na verdade, não serão assim tantas).
Escrevo esta minha primeira coluna para a Prazeres da Mesa enquanto sobrevoo o Atlântico, após um curto período fora do país. E não é que esta conversa toda me abriu o apetite e o desejo por uma boa posta de bacalhau com todos (batata, grão de bico, couve, cenoura e ovo, tudo cozido e temperado, claro, com bom azeite e bom vinagre de vinho)? Voasse eu em executiva na TAP e seria bem provável que o bicho me fosse servido a bordo. Como tal não acontece, terei de esperar mais umas boas horas. Contudo, primeiro irei a casa deixar as malas.
Texto publicado originalmente na revista brasileira Prazeres da Mesa de Novembro
Fonte: por Miguel Pires in mesamarcada.blogs.sapo.pt