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“É uma enorme honra iniciar, na tão emblemática cidade da Horta, as comemorações dos 75 anos da Mútua dos Pescadores”

“É uma enorme honra iniciar, na tão emblemática cidade da Horta, as comemorações dos 75 anos da Mútua dos Pescadores”

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A Mútua dos Pescadores – Mútua de Seguros, celebra este ano 75 anos de vida. Na Sessão Comemorativa realizada sábado, dia 3, na cidade da Horta, mais concretamente no Azores Faial Garden – Resort Hotel (antigo Hotel Faial), Ana Teresa Vicente, Diretor-Geral da Mútua, deu as boas vindas, apresentando os elementos que compunham a Mesa de Honra, bem como os dirigentes e trabalhadores do Grupo Mútua, ali presentes.

Seguiu-se a intervenção de Jerónimo Teixeira, Presidente da Mútua, que dirigiu a Mesa. Este Responsável dirigiu uma saudação a todos os presentes por terem aceite o convite para, em conjunto, celebrar o 75º Aniversário da Mútua e o 35º Aniversário da mediadora Ponto Seguro, agradecendo, ainda, a presença das diversas entidades, cooperadores, segurados e Órgãos de Comunicação Social.

Depois, trouxe à colação um breve apontamento histórico sobre os principais marcos/pessoas da Mútua/Açores. Foi feita uma referência especial ao dirigente histórico dos Açores, Genuíno Madruga, ao dirigente Martins Rosa e ao antigo responsável da Mútua dos Açores, Manuel Campos.

Em jeito de retrospetiva, Jerónimo Teixeira recordou a inauguração da dependência dos Açores, em Ponta Delgada, a 14 de Março de 1987, tendo lembrado que, em 1997, o Governo Regional e a Mútua acordaram uma forma de regularizar o pagamento dos prémios do Segurpesca por parte dos armadores, com o pagamento de 1/3 pelo Governo Regional, 1/3 pelos armadores e o perdão de 1/3 pela Mútua.

O Presidente da Câmara Municipal da Horta, José Leonardo Silva, falou de improviso, tendo realçado o papel da Mútua nos Açores como sendo uma organização central para a pesca”. O edil destacou “a boa relação” que existe entre o Município e a Mútua dos Pescadores.

O Dirigente da Mútua no Faial, Genuíno Madruga, também falou de improviso, tendo o Vice-Presidente, João Delgado, abordado o presente e o futuro desta organização. O último a intervir foi o Secretário Regional do Mar, Gui Menezes.

 

Intervenção de João Delgado, Vice-Presidente da Mútua dos Pescadores

Na sua intervenção, o Vice-Presidente da Mútua dos Pescadores (MP), João Delgado, começou por sublinhar que, “em nome do Conselho de Administração era uma enorme honra, iniciar na tão emblemática cidade da Horta as comemorações dos 75 anos de existência da Cooperativa de Utentes de Seguros Mútua dos Pescadores”.

E prosseguiu, dizendo: “(…) Minha história é esse nome que carrego comigo (…)” escreveu Chico Buarque de Holanda na música ”Minha História/Gesubambino”. De facto, a nossa história inscreve-se e crava-se no nome que carregamos. A Mútua dos Pescadores também encerra na sua designação o peso da história desenvolvida ao longo destes 75 anos. E é do alto destas sete décadas e meia que a Mútua se permite, com legitimidade, fazer análises longitudinais da história que vão muito para além de modas, de contextos ocasionais ou de conjunturas específicas. No entanto, a Mútua tem sabido nunca renunciar à humildade de saber ouvir e de crescer aprendendo a ler o tempo, como se tivéssemos que sair para o mar a cada dia que passa.

A Mútua dos Pescadores nasce, em 1942, no âmago da organização corporativa das pescas e no que de mais visceral, demagógico e propagandístico teve o Estado Novo. Era uma época em que se escreviam as mais negras páginas da nossa história recente, interna e externamente, com a ditadura Salazarista e, em simultâneo, com a II Guerra Mundial.

Com o advento da Revolução de Abril, vivendo de forma intensa as mudanças económicas, sociais e culturais daí resultantes, a Mútua transformou-se a si própria, como se transformaram os seus dirigentes e trabalhadores. Democratizou a sua gestão e profissionalizou o seu funcionamento; passou a ser gerida por aqueles a quem a sua criação se justificou e por aqueles a quem os seus serviços eram destinados: os Pescadores e Armadores portugueses.

Outro dos marcos temporais decisivos na vida da Mútua, que poderia ter ditado o fim daquilo que conhecemos serem hoje os seus hábitos de atuação, e quiçá, da própria existência desta estrutura, foi o ano de 1984, em que uma ilegítima ocupação administrativa por parte do Governo da Republica à época, tentava interromper o rumo da história. A democracia interna e a vontade dos Pescadores e Armadores voltava a colocar o vagão da história nos carris da governação coletiva, participada e democrática, fazendo chegar a Mútua dos Pescadores como é, até aos dias de hoje.

 

2004: MP passa a Cooperativa

Em 2004, a Mútua dos Pescadores transforma-se em Cooperativa reforçando, ainda mais, os valores humanistas, o compromisso com o bem-estar das pessoas e com a procura incessante por ajudar a satisfazer as necessidades económicas, sociais e culturais dos cooperadores e das suas comunidades.

Hoje, a Mútua é líder nos seguros da Pesca Profissional em Portugal e nos seguros das atividades Marítimo-Turísticas no país. E pretende apontar um futuro que signifique que seja a referência nacional dos Seguros do Mar e das frentes ribeirinhas.

Não é fácil, como perceberão, resumir, assim, 75 anos de vida numa página composta por cinco ou seis parágrafos. Nestas balizas temporais que nos ajudam a situar no tempo e nos indicam o que de mais central se passou na vida da Mútua, há milhares de vidas dentro; milhares de homens e mulheres que deram e dão o seu melhor na defesa desta identidade e filosofia coletiva que nos mantém a ombrear lado a lado, com estruturas de uma agressividade e desumanização brutais, próprias de um capitalismo feroz, desumanizado e à escala transnacional.

 

O mais importante são as pessoas

É o capital humano, este património inalienável e incalculável que faz da Mútua esta organização que se estende de Caminha até ao Corvo. É este capital que não se deslocaliza, não se volatiliza facilmente, nem está cotado em bolsa. Este capital fortalece-se com frontalidade, com lealdade, com sentido de justiça e responsabilidade.

Este capital cuida-se e mantém-se, com a proximidade e com a convivialidade salutar que é característica dos bons momentos. Mantém-se com o compromisso e com a presença nos momentos maus. Isto é a Mútua: uma História com gente dentro, redigida a várias mãos.

A Mútua dos Pescadores são os feitos do Madruga e as contribuições do José Rufino – o grande Baleeiro – secretário de uma direção da casa dos Pescadores da Horta, mesmo não sabendo ler nem escrever. São as incríveis histórias do Presidente do Clube Naval da Horta, José Decq Mota, que nos deixam atónitos, é a singularidade de tantos mestres e pescadores que por aqui encontramos. São as nossas relações com os investigadores do mar dos Açores. São os braços abertos dos Graciosenses que nos esperam para uma sopa de peixe num armazém de pesca. São as palavras difíceis de perceber, para quem vem do continente, proferidas pelos nossos dirigentes de Rabo de Peixe. A Mútua é, também, a voz e o sentimento dos milhares de membros anónimos, que são a grande alma da organização.

A Mútua é esta multiplicidade e multiculturalidade. E é exatamente isso que nos tem feito sobreviver e apaixonar por este projeto coletivo.

No entanto, e porque queremos reforçar também a nossa ligação à Região Autónoma dos Açores em todos os domínios, só a nossa missão económica, a atividade seguradora nos permitirá continuar a devolver às comunidades, por múltiplas formas, aquilo que estas nos dão em termos de pagamento de prémios, importa referir alguns números que nos indicam o significado dos Açores para a Mútua dos Pescadores em termos comerciais.

 

Algumas referências nacionais:

A Mútua dos Pescadores regista 12.872 Apólices ativas, significando, sensivelmente, 8.607 mil euros de prémios.

No global, a Pesca representa 71% da atividade da MP enquanto Segurador, a Náutica de Recreio (NR) 14%, o Cluster do mar 10% e o sector cooperativo e social 5%.

O produto de seguro com mais peso na Carteira são os Acidentes de Trabalho (AT), com 51%.

Temos plena consciência de que é fundamental segurar a atividade profissional com maior sinistralidade no mundo do trabalho e comercializar o ramo mais penalizador, em termos de rentabilidade para a atividade seguradora: os acidentes de trabalho. Pelo que, ainda se acentua mais a função social desta cooperativa de seguros, singular no espetro segurador nacional.

 

Açores para a Mútua dos Pescadores em termos comerciais:

Nº de Apólices: 1595 (12,39% do total de apólices da MP) – representa cerca de 1.359 mil euros (15,79% do volume total de prémios da MP). Pesca: 533 apólices (22,31% no global da pesca na MP) – representa 1.033 mil euros. MT: 118 apólices (9,52% do global em MT na MP). Náutica de Recreio: 467 aplolices (9,23% do global em NR).

Transporte Marítimo: 15 apólices, representando 5,16% do total de prémios nos Açores.

Sinistralidade 2016:

Acidentes de Trabalho: 72 processos de sinistro /1 morto a lamentar na empresa de transportes Graciosenses.

Em marítimo e multi-riscos habitação: 56 processos de sinistro.

“Temos muita margem para crescer nos Açores”

Tanto nos resultados comerciais, onde pensamos ter muita margem para crescer aqui nos Açores, fundamentalmente na atividade Marítimo-Turística, na Náutica de Recreio e numa área em que estamos a consolidar a nossa aposta como a contratação pública, designadamente os seguros das autarquias, queremos, também, contribuir para baixar a sinistralidade, fundamentalmente contribuindo para uma maior e melhor formação na área da segurança no mar.

 

Escola do Mar: alavanca de mudança

A Escola do Mar dos Açores, nesta e noutras matérias, será uma alavanca fundamental na mudança de procedimentos e na mundivisão dos marítimos. É um projeto que estamos a acompanhar desde o início e no qual depositamos a maior confiança.

A par dos resultados comerciais, uma cooperativa que não cuide de fortalecer o seu número de cooperadores não terá, obviamente, o seu futuro assegurado nem segura estará a sua matriz identitária.

Se nos Açores temos 1036 tomadores de seguros, que são os titulares das apólices, este número multiplicar-se-á pelas pessoas seguras ao abrigo dessa apólice. Ou seja, se um armador é titular de uma apólice da MP, os seus tripulantes são potenciais cooperadores.

Basta que assinem a proposta de cooperador e têm 5 anos para entregar 15 euros à Mútua pelos títulos da cooperativa. Durante esses 5 anos terão todos os direitos associativos assegurados. Caso não regularizem a situação em 5 anos, esses direitos são, naturalmente, retirados.

No entanto, importa reforçar que nos Açores existem 640 cooperadores. Representando 12, 93% do universo de cooperadores da Mútua, que se situa em 4.769 cooperadores.

Portanto, um dos grandes objetivos do nosso mandato, iniciado em Março último, será duplicar ou triplicar este número. Com a ajuda de todos vós, certamente atingiremos este desiderato.

 

Mútua: mais do que uma seguradora

Para finalizar, quero referir que a Mútua estará para o que entenderem poder ser útil. De facto, a Mútua dos Pescadores é muito mais do que uma seguradora, é uma legítima representante do sector marítimo português e da Pesca em particular. A atestar este estatuto, está a nossa presença na Comissão Permanente de Acompanhamento à Segurança dos Homens no Mar, as constantes participações nas comissões parlamentares na Assembleia da República, no Parlamento Europeu, as excelentes relações institucionais que mantemos na defesa dos nossos associados com os governos regionais, com a Lotaçor, com as universidades e os muitos eventos culturais e desportivos que apoiamos nas comunidades marítimas.

A dignificação das profissões ligadas ao mar sempre foi um dos grandes objetivos da Mútua. Daí o nosso envolvimento na promoção e reforço da cultura ligada às gentes do mar.

A Mútua, mesmo quando todos pareciam querer virar as costas ao mar, nunca o fez. Sempre acreditou nas suas potencialidades pelo conhecimento acumulado ao longo da sua história. Sabíamos, e sabemos tanto do potencial como do que dificulta o seu desenvolvimento.

Nunca negligenciando as dificuldades pelo que passam os mais tradicionais sectores produtivos da nossa economia, como é o caso da pesca, a Mútua sempre procurou soluções, denunciou e denuncia abusos e injustiças, cria pontes e convergências, pois sabe que a sua existência e longevidade depende desta condicionante relacional entre si própria e a evolução da economia do mar.

Queremos, cada vez mais, atuar sobre uma realidade que existe, com todas as suas idiossincrasias e não sobre uma realidade que queremos que exista. Para aferir isto mesmo, a Mútua também está a fazer o seu caminho na investigação deste objeto empírico, que são as comunidades marítimas e o sector das pescas em Portugal. As conclusões apontarão caminhos.

Faremos as pontes necessárias para que as propostas surtam efeitos positivos na vida das pessoas. Só elas nos importam e é por elas que continuamos a riscar na areia o rumo da história da Mútua dos Pescadores.

Recusaremos liminarmente o discurso do miserabilismo, sem nunca branquear as dificuldades sentidas pelos profissionais do mar. Até porque, e como escreveu José Carlos Ary dos Santos:

Tu sabes quanto fizeste 
A miséria não segura 
nem mesmo quando lhe deste
A receita da ternura

In “Retalhos da vida de um médico”

A terminar, atuou o Grupo de Chamarrita, Amigos das Angústias, fundado a 22 de Fevereiro de 2011.

 

Fotografias: Jerónimo Teixeira

Fonte: Cristina Silveira / CNH

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