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Há muito polvo e os preços estão a cair, Docapesca incentiva o consumo

Há muito polvo e os preços estão a cair, Docapesca incentiva o consumo

Depois do sucesso da campanha para maior consumo de cavala, a Docapesca volta-se para o polvo.

Este ano há muito polvo no mar e muito polvo à venda nas lotas portuguesas – mas este excesso, associado a alguma fuga à lota e à venda de polvos muito pequenos, abaixo do tamanho mínimo recomendado (750 gramas), está a provocar uma queda drástica no preço. Na última semana de Julho, por exemplo, atingiu o preço máximo por quilo de 3,44 e o mínimo de 1,64 euros. Este cenário levou a Docapesca, responsável pelas lotas nacionais, a lançar uma campanha pela valorização do polvo, à semelhança do que fez anteriormente com a cavala (ver caixa).

“O polvo é crucial para a pesca artesanal e para as comunidades ribeirinhas ao longo de toda a costa”, afirma José Apolinário, presidente da Docapesca. “Tem-se verificado uma queda acentuada nos preços que é resultado de maior oferta, mas também do facto de termos desaprendido de comer polvo, e porque há em muitos pontos da nossa costa um mercado paralelo de polvo abaixo do tamanho legal.”

Para compensar a queda no preço, os pescadores aumentaram o esforço de pesca, e surgem no mercado os tais polvos pequeninos, abaixo dos 750 gramas. “Esse polvo acaba por ser vendido a um preço mais baixo e muitas vezes a venda é feita directamente ao restaurante, em circuitos informais, acabando por prejudicar o preço na lota”, explica o responsável da Docapesca.

João Pereira, especialista em polvo do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) que está a colaborar com a Docapesca, considera que a espécie se reproduz bem, embora com oscilações ao longo do tempo, e que osstocks não estão em risco (para o polvo não existe nem período de defeso nem limitação de quotas, dado tratar-se de uma espécie capturada geralmente junto à costa).

No entanto, João Pereira refere que só entre os nove e os 11 meses de vida é que um polvo atinge os 750 gramas, entre os 11 e os 15 meses cresce até ao quilo e meio, e entre os 12 e os 18 meses atinge um peso entre os três e os seis quilos. O peso ideal de captura, de acordo com este especialista, será de 1,1kg.

No primeiro semestre de 2013, embora se tenha vendido polvo em maior quantidade (perto de 15 milhões de euros, em lota), o preço médio foi de 2,85 euros, o que representa uma quebra de quase 40% face a igual período de 2012, afirma Apolinário. José Agostinho, da Associação Armalgarve Polvo – Associação dos Armadores de Pesca de Polvo do Algarve, traça um quadro ainda mais dramático: “De seis euros o quilo, o polvo chegou a atingir 1,90” (nas lotas do Algarve o preço é superior ao das lotas do Norte).

Mais congelado que fresco

O mesmo confirma Açucena Veloso, entre as várias bancas de peixe que tem no Mercado 31 de Janeiro, em Lisboa. “No ano passado houve uma grande queda [na quantidade de polvo], ia muito para fora, não chegava aos mercados. Este ano há muito mais, e os preços baixaram muito. Chegou a estar a oito euros o quilo e agora está a seis, ou a cinco.” E a procura? “As pessoas não procuram muito. No ano passado desabituaram-se. Quando deixou de haver fresco, começaram a comprar muito mais congelado.”

A Docapesca quer inverter esta situação, e começou já a fazer uma série de acções nos mercados e junto dos vários agentes. Mas, reconhece José Apolinário, “fazer uma acção para valorizar o polvo é mais complexo do que com a cavala”. Antes de ter uma maior intervenção junto dos consumidores, a Docapesca está a centrar-se na cadeia de produção. “Estamos a discutir medidas de gestão, se há artes a mais ou não, se capturam ou não abaixo do tamanho mínimo, a questão de se misturar muitas vezes nos restaurantes pota com polvo, sendo que a pota tem um valor mais baixo.”

Ao contrário da cavala, que até há pouco tempo era desprezada pelos consumidores, o polvo é uma das espécies mais consumidas pelos portugueses. “Os portugueses consomem bastante polvo”, confirma Apolinário, “mas grande parte dele é importado”, essencialmente de Espanha, da Mauritânia e de Marrocos. “Se aumentarmos o consumo de polvo capturado nas lotas portuguesas, a tendência será para reduzir as importações.”

Para que o consumidor distinga o polvo nacional do importado, a Docapesca está a promover o Comprovativo de Compra em Lota (CCL). “Estamos a tentar sensibilizar os operadores nos mercados para que coloquem a informação sobre a lota onde compraram o pescado”, mas é um procedimento voluntário.

Pedro Bastos, da empresa de comercialização de pescado fresco Nutrifresco, afirma por outro lado que uma percentagem muito significativa do polvo português é exportado, “o que faz com que o preço esteja muito dependente das oscilações do mercado internacional”. Espanha, por exemplo, “compra o nosso polvo para o transformar, porque tem muito maior capacidade industrial, mais fábricas do que nós”.

O congelamento implica investimentos elevados não só nos túneis e câmaras de congelação mas também nos armazéns que têm de ter capacidade para armazenar 200 ou 300 toneladas. “Em Portugal não temos mais do que dez unidades com capacidade. Espanha tem cinco vezes mais.”

A ideia de que o peixe congelado é mais barato é errada, sublinha Pedro Bastos. “As pessoas habituaram-se a comprar o polvo congelado, geralmente importado, mas esses polvos são injectados com uma solução com água e sais. Pensamos que estamos a comprar um quilo de polvo, enquanto de proteína estamos a levar meio quilo.” O resto é água, paga a preço de polvo.

Fonte: Público

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