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Lajes do Pico quer que Unesco classifique cultura baleeira

Lajes do Pico quer que Unesco classifique cultura baleeira

A Câmara Municipal das Lajes do Pico, nos Açores, vai propor a classificação da cultura baleeira, pela Unesco, como património da humanidade, dada a carga histórica e as marcas no concelho daquela atividade, patentes na música, arquitetura e literatura.

“Já iniciámos este caminho com algumas reuniões e a preparação de um grupo de trabalho para poder classificar esta cultura baleeira que, de facto, tem um expoente máximo nas Lajes do Pico, e a ideia é preservar esta cultura que teve desde o século XIX uma atividade que depois foi convertida na observação dos cetáceos”, afirmou o presidente da Câmara Municipal das Lajes do Pico, Roberto Silva, em declarações à Lusa.

A vila das Lajes do Pico é conhecida como “vila baleeira” devido à importância que as atividades ligadas à caça à baleia ali tiveram.

“Sentimos que há uma alma. Há uma arquitetura, uma literatura, uma história, há uma música, há um conjunto de artefactos e de atividades que queremos trabalhar”, sublinhou o autarca, admitindo que se trata de um longo e complexo processo, mas que já arrancou com “a construção” deste grupo de trabalho.

De acordo com Roberto Silva, este grupo “alargado” deverá contar com várias personalidades, “da Universidade dos Açores, da ilha do Pico, em especial ligadas ao Museu dos Baleeiros, da área da comunicação social, da ciência e historiadores”, para que seja possível preparar a candidatura à Unesco “em conjunto com o Governo Regional”.

O presidente da Câmara das Lajes do Pico disse que o processo poderá “demorar entre dois a três anos”, até que ser possível “estruturar um projeto e uma candidatura pensada e elaborada” que seja “aceite pela entidade que fará a avaliação”.

O projeto pretende também reabilitar, “sobretudo, o casario” ligado à baleação, mas também focar “a vertente de aprofundamento do papel de ciência na relação com os cetáceos promovendo a vila e o concelho das Lajes do Pico”, sustentou.

O autarca lembrou que a vila mantém visíveis memórias desta cultura baleeira, como o Museu dos Baleeiros, que funciona nas antigas casas dos botes, onde era a sede das companhias de baleação, a antiga fábrica da SIBIL, recuperada, ou ainda as lojas de artesanato, com matérias que têm origem na baleia.

“As Lajes do Pico é a vila baleeira dos Açores e queremos converter em vida a cultura baleeira”, disse, destacando também as mais valias para a população de uma eventual “notoriedade internacional” através da classificação pela Unesco (agência das Nações Unidas) que “aumentará também a exigência” em termos de preservação e aprofundamento das vivências da baleação e sua transmissão para futuras gerações.

“Mas há também esta crença e esta fé com a festa que realizamos agora em honra de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira dos baleeiros, onde somos convidados a olhar, a escutar e a sentir esta extraordinária cultura baleeira que tem nas Lajes do Pico o seu pico máximo em todos os Açores”, frisou, numa referência à Semana dos Baleeiros, que decorre anualmente no concelho, em agosto.

Além disso, o primeiro bote baleeiro açoriano foi construído em finais do século XIX, nas Lajes do Pico, pelo Mestre Francisco José Machado, o ‘Experiente’.

Em março, o parlamento açoriano aprovou uma resolução que pede a elaboração de um levantamento dos processos e técnicas tradicionais de construção dos botes baleeiros no arquipélago, “o mais importante vestígio material do património baleeiro e da cultura” da caça à baleia, que terminou na região no início dos anos de 1980.

A inventariação deve estar concluída no prazo de um ano e meio.

O fim da caça à baleia nos Açores, no início dos anos 80 do século XX deixou muito património abandonado, cuja recuperação começou em 1998 com a aprovação de legislação específica.

O programa de reabilitação do património baleeiro nos Açores permitiu, por exemplo, recuperar na última década 40 botes e 10 lanchas.

As embarcações que antigamente estavam envolvidas na caça à baleia também foram reabilitadas e são utilizadas em regatas, realizadas no verão.

Fonte: Açoriano Oriental

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