Social
Mário Fortuna “Clima de instabilidade nos transportes é preocupante”

Mário Fortuna “Clima de instabilidade nos transportes é preocupante”

Mário Fortuna, Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, diz que os empresários estão preocupados com o clima de instabilidade que se vive no sector dos transportes da Região. A demissão do Presidente da Atlânticoline, depois do mesmo ter acontecido com o anterior Presidente da SATA, segundo o economista, “serão a expressão de uma forma de gerir os compromissos públicos num contexto em que se tenta esticar os recursos para além do que é possível”.

Diário dos Açores – O Presidente da Atlânticoline demitiu-se, ao que parece em protesto pelo facto do governo não estar a cumprir com as indemnizações compensatórias. Já tínhamos visto o mesmo filme na SATA. Acha que esta situação recorrente por parte do governo regional significa que a região está sem dinheiro para assumir os seus compromissos na importante área dos transportes?

Mário Fortuna – Este cenário de incapacidade ou de falta de vontade/opção face aos compromissos financeiros para com as empresas de transporte será, por ventura, transversal a todas as entidades públicas com cariz empresarial. É, de facto, uma forma de se alargar o orçamento quando ele começa a escassear para o cumprimento de todos os compromissos assumidos. A situação da SATA e, aparentemente, a da Atlânticoline serão a expressão de uma forma de gerir os compromissos públicos num contexto em que se tenta esticar os recursos para além do que é possível.
Para além desta análise deve sublinhar-se o perfil dos administradores que se demitiram (SATA e Atlânticoline).
São essencialmente profissionais da gestão com pouca ligação política.
Por esta razão terão estado menos receptivos a associarem-se a estratégias políticas que se afastam de uma gestão mais racional e menos propensa a contemplar perspectivas políticas que comprometem os critérios rigorosos da gestão.

Diário dos Açores – É preocupante para os empresários que a área dos transportes nestas ilhas viva permanentemente num clima de instabilidade?

Mário Fortuna – Seguramente que é. Dada a nossa geografia não podemos viver sem um sistema de transportes eficiente.
Maus transportes implicam perda acentuada de capacidade competitiva.
Já vimos como isto se passou nos transportes aéreos, a caminho de resolução.
Tememos que o mesmo cenário se aplique ao caso dos transportes marítimos.
Com mais de 130 milhões de euros afectos à função transportes (10 % do orçamento total) não se pode deixar deslizar a organização deste sector porque arrasta consigo muitas outras actividades vitais para a economia dos Açores.

Diário dos Açores – Com a vinda das low-cost, já assistimos à redução de preços para o exterior e até inter-ilhas. O que acha que vai acontecer ao transporte marítimo de passageiros? Terá também que baixar as passagens? E como é que a Atlânticoline se torna sustentável?

Mário Fortuna – O transporte marítimo de passageiros fora das ilhas do “triângulo” é um luxo para deleite de alguns residentes no Verão festeiro dos Açores.
Estas funções devem ser claramente separadas.
O transporte marítimo de passageiros justifica-se plenamente nas ilhas mais próximas mas configura, como tem sido feito, um exagero nas restantes.
A operação devia, no mínimo, ser reduzida a metade, na actual conjuntura.
Coisa diferente será o transporte de cargas que carece de revisão urgente face à transformação ocorrida neste sector e dada a importância de que se reveste para a economia.
Mais uma vez podemos ter soluções competitivas e soluções estranguladoras.
Neste momento temos soluções que nos parecem inadequadas e precisam revisão urgente.
Baixar mais os preços nos transportes marítimos seria chamar novamente o orçamento público a suportar défices maiores.

Foto: Miguel Nóia

Fonte: Diário dos Açores

Deixe um Comentário