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Os países que se estão a afundar
Alguns estados e territórios insulares parecem ter os dias contados devido às mudanças climáticas. No Pacífico, onde se concentra a maioria, multiplicam-se alarmes e planos de contingência.
Começou a ser construída há apenas um mês, vai custar qualquer coisa como 40 mil milhões de euros e deverá estar concluída entre 2025 e 2030. A “grande muralha” da Indonésia é um megaprojeto que tem por objetivo proteger a capital do país, Jacarta. Uma metrópole cada vez mais vulnerável às intempéries em geral e ao avanço do mar em particular. Uma obra que as autoridades apresentam como “de vida ou de morte”, de modo a conter as inundações que, ano após ano, provocam um crescente número de prejuízos e vítimas: em 2007, a cidade assistiu às piores cheias dos últimos três séculos, que fizeram quase uma centena de mortos e deixaram dezenas de milhar sem casa; este ano, mais tranquilo, ainda “só” houve uma dúzia de mortos e umas largas centenas de desalojados. E se o crescimento demográfico, a caos urbanístico e a própria localização da antiga Batávia contribuem – e de que maneira – para as catástrofes, há um outro fenómeno incontornável: a subida do nível das águas. É para as conter que está a construir-se, ao largo da cidade onde vivem quase 10 milhões de pessoas, um muro de sete metros de altura que irá funcionar como um sofisticado sistema de diques cuja eficácia ainda suscita muitas dúvidas – incluindo aos grupos ecologistas -, embora a obra tenha como consultoras e parceiras duas empresas holandesas. O maior desafio será erguer uma estrutura que proteja os bairros da zona norte, os mais ameaçados e onde o solo argiloso faz com que os prédios e demais estruturas continuem a afundar-se ao ritmo médio de 16 centímetros por ano.
Arma de destruição em massa
Uma tendência que parece uma metáfora para uma série de países-ilha – em rigor, estados arquipelágicos – que parecem estar condenados aos efeitos dramáticos da espécie humana sobre o planeta. A Indonésia é claramente um deles: “A maior ameaça que o arquipélago enfrenta é a subida do nível das águas, pois tem 42 milhões de pessoas que vivem a menos de três quilómetros da costa”, costuma dizer Ancha Srinivasan, especialista em mudanças climáticas no Banco Asiático de Desenvolvimento. Com uma população a rondar os 240 milhões, o país tem, no total, mais de 18 mil ilhas. Destas, só 922 estão habitadas. No entanto, tudo indica que esse número vai decrescer. Segundo o ministério indonésio das Pescas e dos Assuntos do Mar, entre 2005 e 2007, desapareceram 24 pequenas ilhas e ilhéus. Já este ano, um relatório da consultora britânica Maplecroft alertou para a possibilidade das mudanças climáticas poderem afundar 1500 ilhas indonésias até 2050. Pior. No documento, citado pela revista online The Diplomat, as pistas do principal aeroporto do país, em Jacarta podem ficar submersas até 2030, caso se mantenham os atuais níveis de aquecimento global.
Não é por acaso que Enele Sopoaga, o primeiro-ministro do Tuvalu, se refere às mudanças climáticas como uma “arma de destruição em massa”. Sobretudo para os estados soberanos – minúsculos, pobres e perdidos no meio do oceano – como o seu. Aliás, até ao final do próximo mês, “celebra-se” o “ano internacional” dos “Small Island Developing States” (SIDS), os 39 países-ilha que são exatamente os mais vulneráveis aos avanços dos mares e das marés, à erosão costeira, à acidificação das águas e aos fenómenos meteorológicos extremos. Na prática, trata-se de um grupo restrito que poderia ser definido como “países em risco de extinção”. Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste fazem parte da lista, embora nenhum deles esteja numa situação crítica como alguns dos seus pares, por exemplo, do Pacífico.
Capitais em risco de extinção
Em 2009, sem que praticamente ninguém tenha dado por isso, 40 famílias das ilhas Carterets, na Papua Nova Guiné, ganharam um estranho título: os primeiros refugiados climáticos. Desde então, os casos têm-se sucedido. Um dos mais recentes diz respeito às ilhas Salomão, um arquipélago com meio milhão de almas cuja ilha principal ficou conhecida à custa da Segunda Guerra e dos combates entre americanos e japoneses, Guadalcanal. Sucede que é neste país com um terço do território continental português que, em agosto, começou um delicado e longo processo de realojamento. Os menos de 600 habitantes de Choiseul não podem continuar a viver nas suas casas porque esta localidade da ilha de Taro, com 940 metros de largura e 420 de comprimento, está demasiado exposta aos caprichos da natureza, incluindo terramotos, tsunamis e ciclones.
Segundo os mais de 800 especialistas que integram o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, organismo internacional agraciado com o Nobel da Paz em 2007, muitas ilhas do Pacífico tendem a desaparecer pelo simples facto de que a subida do nível das águas na região é de 12 milímetros por ano, o quadruplo do que sucede no resto do globo. As consequências fazem-se sentir de várias formas e nem os mortos escapam. Em junho, enquanto na Europa se comemorava o 70.° aniversário do desembarque aliado na Normandia, o ministro dos Negócios Estrangeiros das Ilhas Marshall anunciou que as inundações e o mar profanaram um cemitério deste pequeno país a meio caminho entre o Havai e as Filipinas – e apareceram a boiar os restos mortais de 26 soldados japoneses da Segunda Guerra. Mas também poderiam ter sido bombas ou minas. A erosão costeira revela-se de tal modo implacável que o atol de Majuro, onde fica a maior cidade, já viu a sua linha de costa subir mais de 300 metros nas duas últimas décadas. Ou seja, Majuro é uma forte candidata, num dia não muito distante, a ser a primeira capital de um estado independente a ser varrida do mapa.
Um cenário que levou igualmente o Presidente do Kiribati a dizer que o seu país tem os dias contados: “Se nada for feito, vamos afundar-nos no oceano. Por volta de 2030 a nossa existência vai acabar por fases. Primeiro, as fontes de água potável; depois as árvores de fruto vão ser mortas pela água salgada”. E a adquirir uma área de 24 quilómetros quadrados ao governo das Ilhas Fiji para a eventualidade de aí abrigar parte dos seus 100 mil compatriotas – metade deles concentrados em Tarawa do Sul, a capital. Algo muito semelhante poderá acontecer com os habitantes das paradisíacas e vulneráveis Maldivas: 80% do seu território está a menos de um metro acima do nível médio do mar. E o Executivo de Malé admite também aplicar parte das receitas do turismo num fundo destinado à aquisição de territórios alheios.
Fonte: Visão